O que a Moody’s espera do arcabouço fiscal. E do rating do Brasil

Agências Fitch e S&P mudaram nota e perspectiva para o país, respectivamente, nos últimos meses. Para a Moody’s, o principal desafio do país é o perfil dos gastos públicos

Para a Moody’s, principal desafio do país é o perfil dos gastos públicos
Por Felipe Saturnino
23 de Agosto, 2023 | 06:43 PM

Bloomberg — A Moody’s não deve mudar o rating do Brasil em 2023 e diz que é necessário observar a efetiva execução do arcabouço fiscal antes de qualquer alteração na nota de crédito ou na perspectiva do país.

“Nós provavelmente não vamos ver uma mudança no rating neste ano”, disse Marianna Waltz, responsável por ratings e pesquisas na América Latina da Moody’s, em entrevista no início do mês.

“O que queremos olhar daqui para frente? É implementação e execução do arcabouço fiscal, das reformas, ter mais visibilidade do perfil de investimento do Brasil”, afirmou, ao se referir ao fato de que a agência irá monitorar a capacidade do governo de atrair novos investimentos.

A aprovação do arcabouço fiscal foi positiva e dentro das expectativas da agência, acrescentou na quarta-feira (23), depois de o projeto passar no Congresso.

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O Brasil tem rating Ba2 desde fevereiro de 2016 na Moody’s, duas notas abaixo do grau de investimento.

Recentemente, as outras duas principais agências de rating melhoraram a avaliação sobre o país: a Fitch elevou o rating soberano BB- para BB em julho, enquanto a S&P mudou a perspectiva de estável para positiva em junho, com nota BB-/B (três abaixo do grau de investimento).

A principal fraqueza do Brasil, o que justifica sua atual classificação de risco, é o perfil fiscal, disse Marianna. Segundo ela, a estrutura de gastos no país é rígida e as despesas têm crescido gradualmente. Além disso, há um histórico de crescimento do PIB relativamente modesto. As métricas fiscais são piores que a de pares do mesmo rating, apontou.

A Moody’s estima que a relação dívida/PIB do Brasil deverá se estabelecer abaixo dos 80% nos próximos dois anos e um aumento mais lento nessa razão poderia ajudar a antecipar uma revisão da nota de crédito, segundo ela.

“Vemos o arcabouço como positivo no sentido de que o país tem uma âncora para conter gastos fiscais”, disse. “No médio prazo, o arcabouço deve levar a uma trajetória de consolidação fiscal, mas teremos que ver se ele será executado. Ele precisa ter credibilidade.”

Marianna afirma que, além do cumprimento do arcabouço, será preciso observar se a trajetória do crescimento do país — que a agência estima em 2,5% para o ano e em 1,5% para 2024 — será mantida nos próximos anos. Ela avalia que a reforma tributária poderá ter efeito positivo no crescimento de longo prazo do país.

Bancos

Os bancos brasileiros têm capacidade de liquidez para lidar com a inadimplência, que provavelmente exibirá uma tendência de queda daqui para frente, afirma Ceres Lisboa, analista sênior de crédito da Moody’s.

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“Os bancos têm muita capacidade de provisionar para absorver essa inadimplência, que deve ter uma melhora muito gradual”, disse. “Não há nenhuma preocupação com a situação de crédito dos bancos.”

-- Com a colaboração de Cristiane Lucchesi.

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