Na véspera do Copom, Lula e Senado pressionam BC por sinal de corte da Selic

Preocupação de que BC possa manter porta fechada para corte em agosto vem crescendo entre membros da equipe de Lula, apurou a Bloomberg News

O presidente do Banco Central Roberto Campos Neto
Por Martha Beck - Simone Iglesias
20 de Junho, 2023 | 12:42 PM

Bloomberg — O Banco Central discute seu próximo movimento de política monetária em meio a uma crescente pressão por cortes nas taxas de juros por parte do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e também de senadores, que são os garantidores finais da autonomia da instituição.

A preocupação de que o BC liderado por Roberto Campos Neto possa manter a porta fechada para um corte da Selic em agosto – depois de provavelmente mantê-la em 13,75% na quarta-feira (21), como amplamente esperado – vem crescendo entre os membros da equipe econômica de Lula nas últimas semanas, de acordo com dois funcionários do governo com conhecimento das discussões disseram à Bloomberg News.

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Alimentando essas preocupações estão comentários recentes de membros da diretoria do BC, como o diretor de Organização do Sistema Financeiro e de Resolução, Renato Dias Gomes, que disse a um jornal local na semana passada que uma flexibilização precipitada da política monetária acabaria sendo mais cara no longo prazo, potencialmente descarrilando esforços do governo para combater a inflação.

A entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo foi vista pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, como um recado de Campos Neto, disseram os funcionários, que pediram anonimato por tratarem de assuntos internos.

Gomes, no entanto, é visto como um dos membros mais agressivos do Copom, que se aliou à diretora de Assuntos Internacionais Fernanda Guardado no ano passado e votou a favor de um aumento final da taxa que teria levado a Selic para 14%.

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Uma discussão em andamento sobre o nível apropriado de taxas de juros necessárias para evitar que a economia desacelere ou superaqueça também levantou uma bandeira amarela no Ministério da Fazenda, disseram as autoridades.

Se a chamada taxa de juros neutra estiver subindo no Brasil, como o BC debateu em suas últimas três reuniões, então provavelmente seriam necessários custos de empréstimos mais altos por mais tempo para reduzir a inflação.

O Banco Central não comentou o assunto. Nas últimas aparições públicas, Campos Neto sinalizou que está aberto para começar a discutir cortes de juros e destacou que as decisões da instituição são tomadas por sua diretoria, onde ele tem apenas o seu próprio voto.

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O Copom deve manter os juros pela sétima reunião consecutiva em 21 de junho, quando a maioria dos economistas antecipa que os formuladores da política monetária abrirão as portas para um ciclo de flexibilização a partir de agosto.

A inflação anual desacelerou para menos de 4% em maio, dentro da faixa de tolerância da meta de 3,25% para este ano.

Preocupação do Senado

Os pedidos de redução dos juros feitos por Lula desde o início do ano se espalharam rapidamente entre empresários e agora senadores, em geral muito atentos às necessidades do setor produtivo.

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Alguns deles, disseram as autoridades, afirmaram a membros da equipe econômica que Campos Neto pode ser destituído de seu mandato se o banco não entregar um corte de juros ou pelo menos um sinal claro de uma flexibilização iminente amanhã.

Outros, incluindo o senador Humberto Costa, do Partido dos Trabalhadores, foram mais cuidadosos. “Há uma insatisfação crescente entre os senadores, que esperam que os juros comecem a cair”, disse Costa em entrevista.

Questionado se os senadores poderiam aprovar uma possível moção para abreviar o mandato de Campos Neto, ele respondeu: “Tem um movimento no Senado, mas agora é para pressionar por um corte na taxa. Se isso não acontecer logo, esse movimento pode crescer”.

Embora a lei de autonomia do Banco Central aprovada em 2021 dê ao Senado a prerrogativa de destituir os integrantes do Copom cuja atuação seja considerada “insuficiente para cumprir as metas”, uma medida tão drástica não teria apoio da maioria da Câmara, mesmo entre os membros do Partido dos Trabalhadores, segundo três diferentes pessoas familiarizadas com tema.

Os senadores temem, em particular, que a remoção de Campos Neto agora enfraqueça a lei de autonomia que eles aprovaram há apenas dois anos, com provável repercussão negativa entre os investidores, disseram eles.

Além disso, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, já disse que não vê razão para apoiar tal movimento, o que significa que é improvável que o leve a votação no plenário.

Lula já indicou que agora cabe ao Senado decidir sobre o futuro de Campos Neto. “O presidente do Banco Central precisa explicar por que não baixou os juros, não para mim que já sei o motivo, mas para o povo brasileiro e o Senado.”

-- Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro.

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