Bloomberg — A perspectiva sobre a meta fiscal do Brasil mudou recentemente e cresceu a chance de que seja mantida, segundo o Eurasia Group, uma das mais respeitadas consultorias de risco político do mundo.
“A meta tinha um viés de mudar. Agora, é de não mudar”, disse Christopher Garman, diretor-executivo para as Américas da consultoria, à Bloomberg News. A Eurasia vê como pouco acima de 50% a probabilidade de que o objetivo de zerar o déficit fiscal em 2024 seja mantido.
A hipótese de que a decisão poderá ser adiada para o ano que vem parece estar “ganhando mais tração”, diante da visão de que alterar a meta neste momento ampliaria a pressão por gastos, segundo Garman.
Postergar a solução daria tempo ao ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para aguardar que o Congresso aprove medidas que elevem a receita e para monitorar o desempenho da arrecadação de impostos. “A receita ainda pode salvar o dia”, afirmou.
Os aliados políticos do governo pressionam por uma mudança desde que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez reparos publicamente ao objetivo de zerar o déficit, no final de outubro. Investidores, mesmo já céticos sobre a viabilidade da meta, temem que uma mudança agora possa piorar ainda mais as expectativas sobre o resultado fiscal.
Se o governo alterar a meta haverá perda de credibilidade fiscal, disse Evandro Buccini, sócio e diretor de gestão de Crédito e Multimercado da Rio Bravo Investimentos. “As previsões de mercado já são as de um resultado pior do que a meta. Isso não quer dizer que não haverá reação caso o governo altere o objetivo.”
A economista-chefe da Principal Claritas, Marcela Rocha, disse que já espera uma mudança da meta para um déficit de 0,50% do PIB no próximo ano, um número que “ainda seria ambicioso”.
“O presidente tem baixa tolerância a restrições fiscais e isso é um sinal ruim para a equipe econômica”, disse Garman.
O diretor da Eurasia disse considerar que, caso a meta seja alterada em 2024, o governo poderá fazer uma “contenção de danos” ao optar por um déficit menor do que o resultado negativo já projetado pelo mercado na pesquisa Focus, equivalente a 0,8% do PIB.
Mesmo com os danos contidos, restará ao investidor a maior dúvida, que seria como Lula reagirá caso se confirme a queda de sua popularidade, que a Eurasia projeta para 2024, quando a economia deve crescer menos e não haverá mais o efeito benéfico da queda dos preços dos alimentos que ajudou o petista neste ano.
“A questão que ficará é como Lula irá reagir frente às dificuldades.”
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