Meta de superávit primário será mantida, diz secretário do Tesouro. O mercado é cético

Em entrevista à Bloomberg News, Rogério Ceron afirma que a equipe seguirá com a meta de 0,25% do PIB para 2026, mesmo com a desconfiança crescente sobre o compromisso de Lula com a responsabilidade fiscal

Rogerio Ceron
Por Martha Beck
13 de Março, 2025 | 11:26 AM

Bloomberg — O governo manterá a meta de entregar um superávit primário em 2026, mesmo com o profundo ceticismo dos investidores quanto ao compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a responsabilidade fiscal.

A equipe econômica seguirá com a meta de superávit primário de 0,25% do Produto Interno Bruto (PIB) quando enviar sua proposta de diretrizes orçamentárias para 2026 ao Congresso no mês que vem, disse o secretário do Tesouro, Rogério Ceron, à Bloomberg News na terça-feira.

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Embora essa meta já tivesse sido delineada no projeto de lei de diretrizes orçamentárias para 2025, o governo Lula tem enfrentado expectativas crescentes de que alteraria a meta fiscal mais uma vez, como fez no ano passado.

“As metas fiscais não são estabelecidas de forma arbitrária ou ao bel prazer do governo”, disse Rogério Ceron na entrevista em seu gabinete em Brasília. “Elas estão hoje com a lei do arcabouço amarrado e têm que ser suficientes para garantir uma trajetória de estabilização da dívida.”

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Analistas, no entanto, não veem nada além de resultados negativos à frente para o Brasil, que deve registrar déficits fiscais primários de 0,6% do PIB neste ano e no próximo, de acordo com a pesquisa Focus. Os desafios aos esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para reforçar as contas públicas também continuam a aumentar.

O objetivo é produzir um resultado fiscal equilibrado este ano, após suavizar a promessa original de superávit. A meta inclui uma faixa de tolerância de 0,25% do PIB, para cima ou para baixo, e o governo está mirando no centro disso depois que Lula apresentou um plano para cortar gastos no final do ano passado, disse Ceron.

Ainda assim, a equipe econômica luta para encontrar espaço para alguns gastos sociais no orçamento de 2025, que está marcado para votação no Congresso na próxima semana.

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A popularidade de Lula também caiu para níveis recordes em meio ao aumento dos preços dos alimentos, gerando preocupações dos investidores sobre novos gastos em medidas de estímulo, enquanto o líder esquerdista busca reverter seus índices de aprovação

Lula já anunciou benefício para estudantes recém-formados (Pé de Meia), ampliação no programa Farmácia Popular e a flexibilização de regras do saque antecipado do FGTS. Na quarta-feira (12), ele anunciou oficialmente um plano para aumentar o crédito consignado para trabalhadores do setor privado.

Mas Ceron disse que a equipe econômica continua focada em implementar uma política fiscal restritiva que pode ajudar o Banco Central — que deve subir os juros para 14,25% ao ano em seu terceiro aumento consecutivo de 1 ponto percentual na semana que vem — a domar a inflação acelerada.

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“A gente tem tentado organizar a programação financeira do exercício para poder atuar de forma mais restritiva e não criar uma pressão em sentido contrário à atuação do Banco Central”, disse ele.

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