Bloomberg — O Banco Central deve manter a taxa Selic em 10,50% ao ano pela segunda reunião seguida nesta quarta-feira (31) e reforçar a mensagem de cautela diante do impacto da alta do dólar e das incertezas fiscais sobre as expectativas inflacionárias.
É unânime a expectativa dos 29 economistas consultados pela Bloomberg de que o Copom anunciará a manutenção dos juros.
Analistas consideram a possibilidade de alteração do balanço de riscos, que poderia ser entendida como sinal de elevação futura da taxa básica.
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No encontro anterior, o BC não fez em seu comunicado nenhuma sinalização sobre movimentos futuros, mas o mercado já precifica a retomada do aperto monetário em setembro, com uma alta acumulada projetada de 1 ponto percentual até o fim do ano.
Economistas consideram que o comunicado da reunião deve trazer um tom mais duro e refletir preocupações com o cenário fiscal, mesmo depois do anúncio da contenção de gastos pelo governo.
Esta incerteza, aliada ao efeito das oscilações do iene japonês sobre as moedas emergentes, levou o real ao posto de moeda de pior desempenho entre as principais divisas no ano.
Apesar da expectativa de corte dos juros do Fed, o dólar já subiu mais de 15% no período contra o real, o que amplia os riscos de repasse do câmbio para os preços e piora das expectativas de inflação.
O balanço de riscos que o Copom descreve em seus comunicados tem sido mantido como simétrico, ou seja, com riscos equivalentes de alta e baixa da inflação.
Porém, diante da evolução recente do cenário, haveria a possibilidade de o balanço se tornar assimétrico, mais inclinado para a alta, o que poderia ser entendido com sinalização de aumento da Selic nas próximas reuniões.
Um eventual sinal de alta dos juros geraria uma situação propícia a novos ruídos entre o governo e o Banco Central, que foi alvo de fortes críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quando o ciclo de cortes da Selic foi interrompido.
Em caso de mudança na sinalização, o mercado também estará atento a eventuais divergências no Comitê, que conta com quatro membros indicados pelo atual governo, o qual também apontará o sucessor de Roberto Campos Neto no comando do BC a partir de 2025.
Confira, a seguir, o que esperam analistas do mercado financeiro para a decisão de amanhã:
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco
- BC deve renovar a promessa de vigilância e afirmar que avaliará se a estratégia de manutenção da política monetária em patamar contracionista por tempo suficiente será capaz de assegurar o processo de desinflação e reancoragem das expectativas;
- Um possível sinal mais duro, mas inteiramente cabível, seria a descrição de um balanço de riscos assimétrico para cima, acompanhado da afirmação de que o comitê não hesitará em retomar o ciclo de ajuste;
- A minoria do comitê já deve ter tal avaliação do balanço de riscos, o que tende a aparecer no ciclo de comunicação associado à próxima reunião do Copom;
Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan
- O Copom deve reforçar a mensagem de cautela e moderação, sem ignorar qualquer possibilidade de movimento da taxa no futuro;
- Um ponto-chave a se observar é a avaliação dos membros do Copom sobre o balanço de riscos;
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- “Comunicado da decisão deve se tornar mais hawkish”;
- O Goldman Sachs vê uma probabilidade “não trivial” de o “forward guidance” do BC ser apertado, para indicar a possibilidade de uma alta de juros no curto prazo, diante do aumento esperado das projeções de inflação do BC;
- Estimativas de inflação em 2024-25 devem subir mais acima da meta com dólar, expectativas de inflação, mercado de trabalho apertado e atividade;
Myriã Bast, do departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco
- Desde o último Copom, a principal mudança nos modelos do BC é o patamar de câmbio;
- Com isso, os modelos devem seguir pressionados, sugerindo cautela na condução da política monetária;
Claudio Ferraz e equipe do BTG Pactual
- Notícias deveriam reforçar a postura cautelosa, na margem, do BC;
- Copom deve continuar sem fornecer um “forward guidance” sobre a decisão seguinte, mas a assimetria do balanço de riscos pode se tornar um “ponto de grande divergência”;
Caio Megale e equipe da XP
- O fluxo de informações desde o último Copom aumentou os desafios para a convergência da inflação à meta no horizonte relevante da política monetária;
- Os riscos fiscais seguem elevados;
Marcos de Marchi, economista da Oriz Partners
- Há 60% de chance de o Copom manter o balanço de risco e 40% de elevar o tom com relação aos riscos de alta;
- “Acreditamos que o certo seria reconhecer os riscos altistas, mas entendemos que seja feita uma costura no colegiado para sinalizar uma maior preocupação com a inflação, mas sem explicitar isso no balanço de riscos”;
Cristiano Oliveira, economista-chefe do Banco Pine
- Apesar de o IPCA mostrar desinflação no ano, o cenário prospectivo de inflação se tornou mais desafiador por conta da desvalorização da taxa de câmbio, da atividade econômica bastante aquecida e da maior resiliência da inflação de serviços;
Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics
- A manutenção da Selic deixaria o juro real ex-ante em 6,6%, significativamente acima dos 4,75% que o BC assume como taxa neutra — o que significa que a política permanecerá bastante apertada;
--Com a colaboração de Raphael Almeida Dos Santos.
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