Membros do Banco Central falam demais e afetam estratégia, diz ex-diretor

Segundo Luiz Awazu, que foi diretor de Política Econômica e vice-presidente no BIS, a comunicação em excesso, em especial sobre um aumento do juro, tem ampliado o ruído e a volatilidade no mercado

Sede do Banco Central em Brasília: mercado acompanha declarações em busca de pistas sobre próximos passos na política monetária
Por Maria Eloisa Capurro
28 de Agosto, 2024 | 09:51 AM

Bloomberg — Os membros do Banco Central estão falando demais, inclusive sobre um possível aumento da taxa de juros, e isso prejudica o que, de outra forma, seria uma estratégia perfeitamente adequada de manter os custos dos empréstimos estáveis para combater a inflação, disse um ex-diretor da instituição.

Os membros da diretoria deveriam limitar suas aparições públicas porque o grande número de discursos tem aumentado o ruído e a volatilidade do mercado ao “comunicar em excesso”, especialmente sobre as chances de um aumento da taxa de juros, disse o ex-diretor de Política Econômica do Banco Central Luiz Awazu em uma entrevista à Bloomberg News.

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Manter os custos dos empréstimos estáveis em 10,5% ao ano, como a autoridade monetária tem feito desde junho, é apropriado enquanto se aguarda maior clareza sobre os gastos públicos do Brasil, disse ele.

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O Banco Central “não precisa se tornar um monge que faz voto de silêncio, mas deve ser mais parcimonioso”, disse Awazu, que também foi diretor de Assuntos Internacionais da instituição entre 2010 e 2015.

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Para os formuladores de política monetária em todo o mundo, inclusive no Brasil, o excesso de comunicação é “uma força do hábito” após um período de taxas baixas e programas de compra de títulos que precisavam ser explicados, disse ele.

“É um dos males de nosso tempo”, disse Awazu, que agora é professor visitante na Universidade de Tóquio e tem sido frequentemente considerado um candidato para retornar à diretoria do Banco Central.

Os dirigentes do Banco Central do Brasil participaram de pelo menos 30 eventos abertos neste mês, de acordo com as agendas oficiais, o que agitou mercados sensíveis e provocou oscilações nos preços de ativos, inclusive na moeda, com comentários sobre a política monetária.

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Em 6 de agosto, a diretoria do Banco Central sinalizou pela primeira vez que aumentaria as taxas se necessário. Em discursos mais recentes, os membros disseram que dependem dos dados e que todas as opções - inclusive um aumento - estão na mesa antes da reunião nos dias 17 e 18 de setembro.

No entanto os investidores estão abandonando as apostas de taxas estáveis de forma ampla. A maioria dos traders no mercado de opções digitais tem precificado um aumento de um quarto de ponto ou de meio ponto no próximo mês, e alguns economistas também veem um aperto acontecendo.

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Os preços estão se firmando à medida que aumentam as evidências de que a economia do Brasil resiste às altas taxas de juros. A inflação anual ao consumidor atingiu o teto da faixa de tolerância perseguida pelo BC em julho, com 4,5%, enquanto a atividade ultrapassou todas as previsões em junho.

Luiz Awazu foi diretor do Banco Central entre 2010 e 2015 e depois Deputy General Manager do BIS

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também aumentou os gastos públicos ao tentar melhorar o padrão de vida dos brasileiros. Analistas consultados pelo Banco Central no boletim Focus preveem aumentos no custo de vida acima da meta de 3% até 2027.

Nesse contexto, investidores questionam os planos do governo para controlar o déficit orçamentário primário deste ano, que exclui os pagamentos de juros.

A equipe econômica disse que teria como meta um orçamento equilibrado em 2025, o que decepcionou investidores que queriam que o governo cumprisse as promessas de um superávit e de esforços mais fortes para controlar a dívida.

Para Awazu, ex-vice-gerente (Deputy General Manager, cargo equivalente à Vice-Presidência) do Bank for International Settlements (BIS), Lula deixa a desejar nos detalhes sobre a política fiscal do país.

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O governo deveria “dizer explicitamente que a prioridade é voltar a ter grau de investimento”, disse ele, em referência à classificação de crédito que o Brasil perdeu em 2015 e que se traduz em custos mais baixos para se financiar por meio da emissão de títulos para o país e as empresas.

Em conjunto, a combinação de taxas de juros restritivas com gastos mais elevados também limitará qualquer alívio dos eventuais cortes nos custos de empréstimos do Federal Reserve, disse Awazu. Os diferenciais de taxas entre a maior economia da América Latina e os EUA diminuirão “apenas um pouco”, o que significa que os custos da dívida do Brasil permanecerão elevados.

O Brasil, assim como outros bancos centrais, também enfrenta desafios como uma crise climática, o efeito das guerras e o impacto econômico das mudanças na cadeia de suprimentos global.

Os cortes nas taxas do Fed "não são um alívio para ninguém", disse Awazu.

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