Maílson da Nóbrega vê risco de crise fiscal aguda sem corte de gasto obrigatório

Em entrevista à Bloomberg News, o ex-ministro da Fazenda avalia que o corte anunciado por Haddad não reverte o quadro de ‘insustentabilidade fiscal’

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Bloomberg — O Brasil caminha para uma crise fiscal aguda com a resistência do governo em reduzir as despesas, segundo o ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega.

As declarações recentes do presidente Luiz Inácio da Silva Lula, negando a hipótese de reduzir gastos sociais, estão entre os principais motores da alta do dólar e da piora de outros ativos brasileiros nas últimas semanas, afirma Maílson em entrevista para a Bloomberg News.

“Em algum momento vai acontecer um colapso, a não ser que se ataque o gasto obrigatório. Mas, no governo Lula, é zero a chance de se fazer algo.”

O ex-ministro da Fazenda nos anos 1980, que é sócio fundador da Tendências Consultoria, não se impressionou com as medidas de cortes de gastos anunciadas na última semana pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e que geraram alívio nos ativos financeiros.

“O mercado costuma comprar pelo valor de face as declarações de autoridades”, mas elas não revertem o quadro de “insustentabilidade fiscal”, afirmou.

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Um dos fatores de piora dos resultados fiscais, avalia, é a concessão de reajustes reais ao salário mínimo, que eleva os gastos com aposentadorias. Ao mesmo tempo, a opção de fazer o ajuste por meio da arrecadação se revela pouco viável, diante da resistência do Congresso ao aumento de impostos.

Um segundo fator que vinha ajudando a estressar o mercado eram as críticas do presidente ao Banco Central. Lula adotou nos últimos dias maior discrição e tem evitado citar Campos Neto em suas falas, que vinham influenciando negativamente as expectativas dos investidores, segundo o ex-ministro.

Qualquer que seja a postura do presidente sobre o tema, Maílson considera improvável que os parlamentares venham a aprovar qualquer tentativa de cancelar a autonomia legal do Banco Central.

Além disso, os próprios diretores do BC já nomeados pelo governo atual, como Gabriel Galípolo, mostraram convergência no último Copom em favor de combater a inflação, o que ajuda a amenizar riscos. “É muito difícil o Congresso ter maioria para mudar o regime do BC.”

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