Bloomberg — O presidente Luiz Inacio Lula da Silva irá pressionar a nova presidente da Petrobras (PETR3; PETR4) para acelerar o ritmo dos investimentos em refinarias e expandir o suprimento de gás natural, após demitir o CEO Jean Paul Prates, afirmaram pessoas familiarizadas com seus planos ouvidas pela Bloomberg News.
A demissão de Prates por parte de Lula encerrou meses de especulações de que ele estava com os dias contados na empresa. Mas a substituição de Prates por Magda Chambriard, a nova CEO indicada por Lula, também gerou preocupações de que a gigante do petróleo acabará financiando a política industrial de Lula em detrimento dos acionistas.
Lula estava cada vez mais insatisfeito com a liderança de Prates e sua condução do plano estratégico quinquenal de US$ 102 bilhões da empresa em particular, disseram as fontes, solicitando anonimato para discutir assuntos internos.
Com a estimativa de um crescimento mais lento da economia este ano, Lula vê os US$ 17 bilhões destinados a investimentos em refinarias e os US$ 9 bilhões previstos para gás natural e energia alternativa como oportunidades-chave para dar um impulso ao Brasil.
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O Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, um crítico frequente de Prates, transmitiu a missão a Chambriard em uma reunião na manhã de quarta-feira (15), segundo as pessoas.
“O presidente entendeu que era hora de acelerar alguns aspectos, incluindo os investimentos da Petrobras, que acreditamos poderem ser acelerados”, disse o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, outro adversário de Prates, em uma entrevista em uma emissora de TV na noite de quarta-feira.
Silveira e Chambriard também discutiram a política de preços dos combustíveis da Petrobras - outro ponto de atrito entre Lula e Prates - e os planos da empresa de explorar petróleo na Margem Equatorial, uma região sensível do ponto de vista ambiental, porque está próxima à foz do Rio Amazonas, de acordo com as pessoas.
A nomeação de uma CEO vista como próxima ao governo de Lula aumentou as preocupações entre os investidores, que já estavam temerosos de uma maior intervenção governamental em empresas estatais.
Chambriard foi a chefe da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), órgão regulador de petróleo, durante o governo da ex-presidente Dilma Rousseff.
Costa e Silveira apoiaram a escolha de Lula e estavam presentes quando o presidente demitiu Prates, de acordo com as pessoas familiarizadas, sugerindo que sua influência sobre a empresa está crescendo.
Lula também demitiu o diretor financeiro, Sergio Caetano Leite, e há uma expectativa geral de que Chambriard faça mais mudanças na diretoria executiva, embora não esteja claro quanto de independência ela terá para fazer essas nomeações.
Grandes desafios
Apesar de sua proximidade com o governo, Chambriard enfrentará obstáculos significativos no cargo. Embora a Petrobras seja controlada pelo governo, ela também possui acionistas privados, e conciliar os interesses de ambos - juntamente com as necessidades dos consumidores sensíveis às mudanças nos preços dos combustíveis - coloca a pessoa no cargo de CEO em uma posição sempre delicada.
Atender às demandas de Lula para acelerar os investimentos será difícil, uma vez que as expansões de refinarias com frequência sofrem atrasos e excedem as estimativas de custo. E um orçamento de investimentos tão grande como o da Petrobras envolve desafios burocráticos que podem atrasar a liberação de fundos.
Na lista de tarefas de Chambriard também estão negócios pendentes envolvendo a Petrobras. A questão mais complicada é o papel da empresa no futuro da petroquímica Braskem (BRKM5), que tem a Petrobras como sua segunda maior acionista.
Lula quer que a gigante do petróleo fortaleça seu negócio petroquímico. A Novonor, controladora problemática da Braskem, tem tido dificuldades para encontrar um comprador para sua participação, e a Petrobras não descarta adquiri-la para evitar a deterioração do ativo.
A Petrobras também negocia seu retorno à gestão da refinaria Acelen, anteriormente conhecida como RLAM, no estado nordestino da Bahia.
A empresa foi vendida para a Mubadala, de Abu Dhabi, em 2021. Os grupos estão em negociações, com a Petrobras esperando que um novo modelo de negócio seja definido até o final do primeiro semestre de 2024.
A Petrobras ainda é fonte de grande controvérsia dentro de um governo que tenta aumentar a produção de petróleo e priorizar sua agenda ambiental, incluindo esforços para promover uma transição verde na economia do Brasil.
Os planos de explorar petróleo na Margem Equatorial, em particular, têm gerado disputas internas entre defensores da perfuração e a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, a face da agenda climática de Lula.
Chambriard, engenheira por formação que começou a trabalhar na Petrobras na década de 1980, se alinhou com aqueles no governo que veem um aumento na produção na região como essencial para financiar os esforços de transição energética de Lula, disseram as pessoas.
-- Com a colaboração de Bruna Lessa e Peter Millard.
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