Lula e Campos Neto concordam em manter diálogo permanente em 1ᵃ reunião em 2023

Desde que assumiu o cargo em janeiro, presidente Lula vinha criticando o chefe do Banco Central publicamente em razão da política de juros

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva
Por Martha Beck - Simone Iglesias
28 de Setembro, 2023 | 09:24 AM

Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Banco Central Roberto Campos Neto concordaram em conversar com mais frequência durante a tão esperada reunião na noite de quarta-feira (27) no Palácio do Planalto, o primeiro encontro entre os dois após meses de tensão entre o líder petista e o chefe da autoridade monetária sobre a política de juros.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que participou da reunião, disse que eles tiveram uma “conversa produtiva e cordial” e que Lula afirmou a Campos Neto ser respeitador da autonomia constitucional do Banco Central.

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Desde que assumiu o cargo em janeiro, o presidente tem criticado publicamente Campos Neto e a política de juros elevados do BC, que considera um grande obstáculo à prosperidade econômica do país.

“Foi uma reunião institucional para construir o relacionamento”, disse Haddad a repórteres após o encontro, acrescentando que eles concordaram em manter conversas periódicas daqui para a frente. “Foi excelente.”

Na reunião com Campos Neto, Lula repetiu suas críticas aos juros altos e ao crédito caro, segundo um funcionário do governo com conhecimento do assunto. O presidente também sublinhou que tem um histórico de responsabilidade fiscal, acrescentou a fonte, pedindo anonimato.

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O Banco Central preferiu não comentar.

Em recentes discursos públicos, Campos Neto e outros membros da diretoria do BC expressaram preocupação com a implementação do plano fiscal de Lula, que visa eliminar o déficit primário no próximo ano. Consideram que é uma meta ambiciosa, dado que o governo não pretende cortar gastos, mas aumentar a receita através de série de medidas que requerem a aprovação do Congresso.

Campos Neto, que havia solicitado o encontro em uma carta endereçada a Lula no começo deste mês, fez uma série de gestos para tentar pacificar a relação com o presidente nas últimas semanas. Uma delas na manhã de quarta-feira, horas antes de ir ao palácio presidencial, ao dizer em audiência no Congresso que o Banco Central não está em oposição ao governo e que está pronto para conversar com o presidente sempre que chamado.

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Campos Neto foi indicado por Jair Bolsonaro em 2019 e tem sido frequentemente criticado por integrantes do PT e do governo que o consideram um aliado do ex-presidente.

Lula é o primeiro a ter que lidar com um Banco Central cujo chefe ele não escolheu. O mandato de Campos Neto, assegurado pela lei de autonomia do BC aprovada pelo Congresso em 2021, vai até o fim de 2024.

Os investidores interpretaram as posturas conciliatórias de ambos como gestos de boa vontade que só foram possíveis depois de o Banco Central ter começado a reduzir juros.

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Após manter por 12 meses a Selic no nível mais alto em seis anos, a 13,75%, a autoridade monetária já implementou dois cortes de 0,50 ponto percentual cada e prometeu pelo menos mais dois da mesma magnitude até o final do ano.

-- Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro.

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