Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a pessoa escolhida por ele para dirigir o Banco Central não “deve favores” ao governo e pode aumentar a taxa de juros se necessário, mesmo indicando que espera que elas caiam.
O líder de esquerda, que criticou repetidamente a autoridade monetária por manter a taxa de juros em patamar alto, atualmente avalia candidatos para presidente o BC, já que o mandato de Roberto Campos Neto se encerra no final deste ano.
“Quando chegar a hora de reduzir a taxa de juros, ele deve ter a coragem de fazer”, disse Lula em uma entrevista de rádio na manhã de sexta-feira (16). “E quando chegar a hora de aumentar, ele deve ter a mesma coragem. Não existe mágica em economia.”
O real se valorizou 0,5% na manhã de sexta-feira, quando os mercados abriram após os comentários de Lula.
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Os analistas receberam bem os comentários, considerando as críticas anteriores de Lula à política monetária.
“Os discursos do presidente Lula têm sido positivos em relação à política monetária e ao Banco Central há alguns dias”, disse Gustavo Okuyama, gerente de portfólio da Porto Asset. “Isso ajuda o ambiente de risco”.
Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki Capital, disse que as declarações foram o mais recente sinal de que o forte enfraquecimento do real em julho e no início de agosto causou uma mudança de tom.
"O palácio presidencial estava em pânico com um dólar forte, e agora está falando a língua do mercado", disse ele.
Ao mesmo tempo, Lula reiterou sua opinião de que não há explicação para a decisão do BC de manter a taxa Selic em seus atuais 10,5% ao ano. Ele disse que “trabalha com a expectativa de que a taxa de juros comece a cair, para que possamos ter mais tranquilidade”.
Os formuladores de política monetária têm mantido a taxa de juros estável desde junho, depois de quase um ano de cortes diante de uma perspectiva de piora da inflação.
Eles indicaram no início deste mês que não hesitarão em aumentar a taxa se necessário, e os operadores estão precificando um aumento em setembro.
O diretor de política monetária, Gabriel Galípolo, considerado o favorito para ser indicado por Lula para liderar o BC, disse que um aumento da taxa está na mesa e que todos os membros da diretoria farão “o que for preciso” para reduzir a inflação de volta à meta.
À medida que o governo de Lula aumenta os gastos públicos, os diretores do BC lidam com um cenário de forte demanda doméstica, com taxa de desemprego baixa e custos de serviços resistentes.
A atividade econômica ultrapassou todas as previsões em junho, atingindo expansão de 1,4%, de acordo com o indicador de atividade do Banco Central (IBC-Br) publicado na manhã de sexta-feira.
Lula disse na entrevista que conversará com o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, sobre a indicação antes de escolher o próximo líder do BC.
-- Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro e Josué Leonel.
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