Lula busca isenção de Imposto de Renda junto com cortes de gastos, dizem fontes

Segundo fontes da Bloomberg News, presidente pretende apresentar um plano para a correção da tabela do IR para isentar quem ganha até R$ 5.000

Por

Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende apresentar um plano de correção da tabela do Imposto de Renda juntamente com cortes de gastos públicos, em meio à crescente preocupação dos investidores com a política fiscal do país.

Lula pediu à equipe econômica que elaborasse uma proposta para cumprir sua antiga promessa de isentar trabalhadores com salários mensais de até R$ 5.000 do pagamento de Imposto de Renda, de acordo com duas fontes com conhecimento do assunto ouvidas pela Bloomberg News.

Esse pedido é uma das razões para o atraso na divulgação das reduções de gastos públicos, já que o presidente quer que os cortes sejam apresentados junto com uma estratégia finalizada para aliviar a carga fiscal dos trabalhadores de menor renda.

No entanto, a equipe econômica tem resistido ao pedido de Lula, disseram as fontes, que falaram sob anonimato porque o debate ainda não é público.

Leia também: JPMorgan rebaixa ações brasileiras e cita riscos fiscais e juros mais altos

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, planeja detalhar o pacote fiscal em uma coletiva de imprensa na manhã de quinta-feira (28), segundo duas pessoas informadas sobre o assunto. No entanto, alertaram que os planos podem sofrer alterações.

O ministrou fará também um pronunciamento em rede nacional na noite desta quarta-feira (27), às 20h30 (horário de Brasília).

O dólar subiu mais de 1,5%, atingindo o maior nível desde 2020, enquanto as ações despencaram e as taxas de juros futuras dispararam.

“Incluir cortes de impostos no pacote de redução de gastos está preocupando os mercados”, disse Greg Lesko, diretor-gerente da Deltec Asset Management, em Nova York. Os investidores estão “aguardando os detalhes dos cortes de gastos, mas é difícil fechar o déficit fiscal dessa forma.

O governo inicialmente esperava anunciar os cortes de gastos públicos no início deste mês, logo após as eleições municipais, mas o atraso tem deixado os investidores inquietos.

Uma reportagem da imprensa brasileira na terça-feira, sugerindo que as votações no Congresso sobre as reduções poderiam ficar apenas para o próximo ano, provocou uma queda temporária nos ativos locais.

Os mercados têm clamado por austeridade após o governo de Lula aumentar os gastos para melhorar os padrões de vida da classe trabalhadora.

Lula se reunirá na tarde de quarta-feira com Haddad, ministros e os presidentes da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, e do Senado, Rodrigo Pacheco, para discutir o pacote, segundo outras pessoas familiarizadas com os planos.

No mês passado, o presidente disse que queria isenções de Imposto de Renda ainda maiores do que sua promessa inicial para trabalhadores com salários de até R$ 5.000, o que aumentou as preocupações dos investidores sobre o orçamento.

Sinais de que o governo tem abandonado os compromissos com a responsabilidade fiscal têm causado estragos nos ativos locais em 2024.

O real registrou a segunda maior queda entre 16 principais moedas neste ano, as ações estão abaixo da maioria dos índices globais e os juros futuros dispararam.

O Brasil encerrará 2024 com um déficit fiscal primário de R$ 68,8 bilhões, que exclui os pagamentos de juros, de acordo com um relatório orçamentário divulgado em setembro.

Para 2025, o governo planeja eliminar esse déficit com a ajuda de R$ 166,4 bilhões em receitas extraordinárias. Em abril, o governo recuou na promessa de um superávit no próximo ano, provocando uma onda de preocupação entre os investidores.

Veja mais em Bloomberg.com

Leia também

Selic vai a 13,25% ao ano sem ajuste fiscal crível, diz estrategista da Monte Bravo

Projeção de Selic a 14% ao ano ‘não é exagero’ do mercado, diz Solange Srour