JPMorgan, Itaú e Santander antecipam para setembro apostas em corte da Selic

Previsão anterior era de queda do juro em novembro; Banco Central enfrenta pressão crescente do governo e do setor privado diante de queda da inflação

Sede do Banco Central, em Brasília
Por Giovanna Bellotti Azevedo - Maria Eloisa Capurro
17 de Junho, 2023 | 09:27 AM

Bloomberg — Grandes bancos como JPMorgan (JPM), Santander (SANB11) e Itaú Unibanco (ITUB4) agora projetam que o Banco Central entregará seu primeiro corte nas taxas de juros em setembro, dois meses antes do previsto anteriormente.

O JPMorgan passou a apostar em um início mais cedo do ciclo de flexibilização logo após as melhorias nos dados de inflação e nas expectativas, de acordo com um relatório. O banco vê a taxa básica de juros caindo de seu nível atual de 13,75% para 12,25% até dezembro, com um corte inicial de 50 pontos base em setembro.

“Se houver uma queda mais acentuada nas expectativas de inflação, o BCB pode optar por iniciar o ciclo de flexibilização mais cedo, mas em um ritmo mais lento”, escreveram em nota os analistas Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira.

O Itaú, por sua vez, reduziu sua estimativa de inflação para 2023 de 5,8% para 5,3% devido à uma queda nos custos de bens comercializáveis e nos preços da gasolina, de acordo com um relatório enviado por e-mail.

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O banco vê um corte de 25 pontos base na taxa de juros em setembro, dizendo que “a redução das pressões inflacionárias permitirá” ao comitê de política monetária do banco “avançar o ciclo de flexibilização”.

Economistas do Santander também disseram, em nota, que a política de aperto do banco central, que levou a Selic ao maior nível em seis anos, começou a mostrar efeitos iniciais sobre a economia e a inflação, ao mesmo tempo em que melhora as “condições de fuga” para a política monetária.

O banco cortou sua estimativa de taxa de final de ano para 12,50%, ante 13% ao ano anteriormente.

Aumento da pressão

O Banco Central está sob pressão de uma ampla gama de funcionários de alto escalão do governo e líderes empresariais, e está enfrentando apelos para começar a cortar as taxas na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da próxima semana.

Não há “nenhuma razão” para justificar os custos dos empréstimos em 13,75%, disse o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante entrevista à mídia local na quinta-feira (15). “As pessoas não estão comprando nada”, e não há inflação impulsionada pela demanda, disse ele.

Embora os banqueiros centrais tenham enfrentado críticas do governo por meses, líderes empresariais de diferentes setores da economia agora estão se manifestando sobre as condições monetárias apertadas.

Luiza Trajano, do Magazine Luiza (MGLU3), pediu um corte imediato da taxa maior que 25 pontos base durante um evento ao lado do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, nesta semana.

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Jorge Gonçalves Filho, presidente do Instituto de Desenvolvimento do Lojista, disse na quarta-feira (14) que há “grandes dificuldades” no setor varejista e pediu uma “reversão de curto prazo” nas taxas de juros, já que as empresas enfrentam desafios para manter as vendas e acessar o crédito.

Os aumentos anuais dos preços ao consumidor diminuíram para 3,94% em maio, ainda mais dentro da faixa de tolerância do banco central, enquanto as medidas básicas que eliminam itens de energia e alimentos desaceleraram.

Campos Neto apontou recentemente a queda dos indicadores de inflação futura como criando “espaço” para cortes de juros à frente.

Ainda assim, os formuladores de políticas liderados por Campos Neto devem manter as taxas de juros estáveis pela sétima vez consecutiva na reunião de 20 e 21 de junho, embora possam fornecer uma indicação de quando planejam afrouxar a política com a redução da inflação.

Os indicados de Lula para preencher dois cargos no conselho do Banco Central não tomarão posse a tempo para a decisão sobre a taxa de juros da próxima semana, depois que os legisladores adiaram as audiências públicas obrigatórias do vice-ministro da Fazenda Gabriel Galípolo e do funcionário de carreira do banco central Ailton Aquino até depois da reunião do Copom de junho.

Membros do Partido dos Trabalhadores de Lula veem Galípolo, que deve ingressar no conselho até agosto, como um defensor dos cortes nas taxas.

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