Gleisi no ministério: investidores veem guinada maior à esquerda do governo

Crítica frequente da austeridade fiscal foi nomeada por Lula para ocupar o posto de ministra de Relações Institucionais, em cargo chave para negociação com o Congresso

Gleisi Hoffmann
Por Simone Iglesias
28 de Fevereiro, 2025 | 05:39 PM

Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva nomeou a líder do Partido dos Trabalhadores (PT) para uma função-chave no gabinete, em um sinal de uma guinada acentuada para a esquerda de seu governo, enquanto tenta reverter os índices de aprovação da população em queda, na avaliação de investidores.

Lula nomeou a deputada Gleisi Hoffman como sua nova ministra de Relações Institucionais nesta sexta-feira (28), colocando uma crítica da austeridade fiscal e das altas taxas de juros em uma função consultiva importante que também serve como a principal negociadora legislativa do governo.

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Ela substituirá Alexandre Padilha, que deverá assumir o Ministério da Saúde como parte de uma reforma ministerial mais ampla.

A mudança abalou a confiança de investidores, que já estavam cautelosos, e aprofundou o ceticismo sobre o compromisso de Lula com a austeridade fiscal.

Hoffmann já criticou abertamente os esforços do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para fortalecer as contas públicas do país. O real atingiu as mínimas da sessão após o anúncio, em queda de até 1% em relação ao dólar em meio a um movimento de valorização da moeda americana.

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Mesmo dentro do governo, a decisão de nomear Hoffmann para um cargo tão influente em um momento tão delicado para a presidência de Lula foi recebida com choque, de acordo com várias autoridades do governo que falaram à Bloomberg News sob condição de anonimato.

Leia também: Com queda de aprovação, Lula adota medidas que dificultam o controle da inflação

Lula iniciou a segunda metade de seu mandato neste ano com vários desafios.

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Seus índices de aprovação caíram para os níveis mais baixos de seus governos com a alta dos preços dos alimentos; a economia desacelera com a expectativa de que o Banco Central eleve a taxa de juros de referência para 14,25% ao ano no próximo mês; e os crescentes déficits fiscais continuam a pressionar o real como reflexo da queda de confiança de investidores.

O presidente prepara uma reforma ministerial que poderá abrir espaço para partidos mais centristas, como parte de uma estratégia para reforçar sua coalizão política antes da eleição presidencial de 2026.

Mas a escolha de Gleisi Hoffman “é uma má notícia”, disse Paulo Nepomuceno, um operador da mesa de derivativos da Mirae Asset. “O mercado não a vê como uma figura conciliadora, e ela também não tem muita influência no Congresso.”

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Hoffmann, de 59 anos, representa uma ala mais à esquerda do partido de Lula e é conhecida por atacar com frequência qualquer pessoa que ela considere um inimigo ideológico ou uma ameaça ao presidente, mesmo que sejam aliados ostensivos.

Desde que Lula retornou ao cargo em 2023, a líder petista tem criticado regularmente o Banco Central por causa das altas taxas de juros, mirando especialmente no ex-presidente Roberto Campos Neto antes do término do mandato dele no ano passado. Ela também tem sido uma crítica constante dos esforços de Haddad para controlar os gastos e perseguir as metas fiscais do governo.

A nomeação de Hoffmann pode ser um revés para Haddad, que tem procurado convencer Lula a adotar uma abordagem fiscal cautelosa, mesmo com a queda de seus índices de aprovação. Com Padilha, Haddad tinha um aliado próximo dentro do palácio presidencial.

“É definitivamente um acontecimento negativo para o real, já que a decisão mostra uma falta de vontade de impor austeridade fiscal”, disse Brad Bechtel, chefe global de câmbio da Jefferies. “É um passo na direção errada.”

-- Com a colaboração de Giovanna Bellotti Azevedo e Raphael Almeida Dos Santos.

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