Bloomberg Línea — Para economistas e analistas, o dado de março do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) indica que o Banco Central (BC) pode ter dificuldades para reduzir a Selic para um taxa de 9% em 2024.
Segundo Claudia Moreno, economista do C6 Bank, a retração da inflação surpreendeu, mas a inflação de serviços subjacentes, que exclui os itens mais voláteis, e teve uma elevação forte no mês (0,45%), continua a ser um dos pontos de atenção.
“Ainda vemos a inflação de serviços muito pressionada pelo mercado de trabalho aquecido, o que representa um risco altista para os juros. Por esse motivo, vemos chances de a autoridade monetária não chegar a uma taxa terminal de juros de 9% neste ano”, diz ela.
A projeção do banco é que a Selic fique em 9,25% ao final de 2024 e em 8,5% ao final de 2025. Para a inflação, a expectativa é de um IPCA de 4,7% no fim de 2024.
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Nesta manhã, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou o IPCA de março, que teve alta de 0,16% em março, após avançar 0,83% em janeiro. Economistas ouvidos pela Bloomberg News previam alta de 0,25% para o indicador no mês passado. Na comparação anual, a inflação teve alta de 3,93%, abaixo dos 4,5% observados nos 12 meses imediatamente anteriores, com mediana de 4,01%.
Para o Itaú Unibanco (ITUB3; ITUB4), “o qualitativo da divulgação, ao contrário das anteriores, foi melhor do que o esperado, com surpresas baixistas em serviços subjacentes e industriais subjacentes”.
A XP Investimentos (XP), considera que os serviços subjacentes encerrarão 2024 em níveis semelhantes aos vistos em dezembro de 2023 (cerca de 5%), impulsionados por um mercado de trabalho apertado e um aumento de 5% na renda disponível real das famílias.
“Já esperávamos uma variação menor para este grupo, dada a ‘semana do consumidor’ e os sinais apresentados pelo IPCA-15. Para abril, prevemos um retorno deste efeito, e ainda vemos uma trajetória bem-comportada para a categoria nos próximos meses, como temos escrito desde nosso Relatório Brasil Macro Mensal de janeiro. Finalmente, os alimentos nos surpreenderam para baixo, e prevemos variações também moderadas para os próximos meses, especialmente devido à dissipação do El Niño e ao comportamento benigno de proteínas e grãos”, afirma Alexandre Maluf, economista da XP.
Maluf diz que a leitura é consistente com a projeção de 3,5% para o IPCA de 2024 feita pela XP, embora a divulgação não deva mudar a postura cautelosa do Copom. “O comitê precisa coletar mais evidências de que os componentes cíclicos da inflação estão respondendo adequadamente à política monetária e que a inflação convergirá para a meta de 3,0%”, continua.
Igor Cadilhac, economista do PicPay, mantém a projeção para o IPCA em 2024 em 3,7%. “Eventuais riscos de baixa seguem vindo principalmente (1) do bom contágio dos preços de bens sobre os demais, (2) do comportamento dos núcleos e sua inércia, e (3) do combate à inflação de forma sincronizada mundo afora. Do outro lado, temos monitorado (1) os aumentos salariais dado o baixo desemprego, os ganhos reais recentes e a regra do salário mínimo e (2) uma maior resiliência na inflação de serviços em função de um hiato do produto mais apertado”, diz.
Rafael Costa, analista e integrante do time de estratégia macro da BGC Liquidez, entende que “as surpresas baixistas de hoje foram explicadas por uma inflação mais fraca do que o que o esperado nos preços monitorados (a inflação de gasolina e da energia elétrica foi menor do que projetávamos) e uma deflação nos preços industriais (automóvel novo e automóvel usado registraram deflações, projetávamos inflações)”.
Segundo ele, o dado não mudou a visão acerca do comportamento da inflação nesse ano. “A confirmação da desaceleração dos preços da alimentação foi bem-vinda, dado a surpresa altista registrada no IPCA-15 de março, no entanto, coletas de preços recentes têm sugerido uma inflação mais forte nessa linha. Dessa forma, ainda há possibilidade de inflações muito atipicamente fortes nos preços da alimentação serem registrados nos próximos meses. A inflação de serviços subjacentes continua em patamares que dificultam o atingimento do centro da meta de inflação”, afirma.