Bloomberg — O ex-ministro da Fazenda Guido Mantega disse que foi sondado pelo governo para integrar o conselho da Braskem (BRKM5), e que aceitará o cargo se sua nomeação for aprovada pelos acionistas.
“Eu fui sondado pela Casa Civil e me coloquei à disposição”, disse em entrevista à Bloomberg News. “Se acaso os acionistas e a Assembleia decidirem isso, então eu irei para o conselho da Braskem.”
A Braskem não quis comentar e a Casa Civil não respondeu imediatamente a pedido de comentário.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está recorrendo a Mantega, um dos seus aliados mais próximos e conselheiros econômicos, à medida que tenta aumentar sua influência em empresas importantes.
No mês passado, ele demitiu o CEO da Petrobras (PETR3; PETR4) devido a uma disputa sobre o valor dos dividendos e sobre como usar esses recursos. O presidente está sob pressão para aumentar gastos, estimular o crescimento e melhorar seus índices de aprovação.
Lula já havia tentado nomear Mantega como presidente da Vale (VALE3) no início do ano, o que gerou críticas tanto no alto escalão da empresa quanto entre os investidores.
Membro do Partido dos Trabalhadores, Mantega, de 75 anos, foi o ministro das Fazenda mais longevo no país, ficando à frente da pasta tanto nos governos anteriores de Lula como no de Dilma Rousseff.
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Como chefe da pasta, Mantega apoiou políticas fiscais anticíclicas para fortalecer a economia após a crise financeira global de 2007-2008. Durante sua gestão, o governo também interveio no setor de energia para forçar uma queda das tarifas.
Mantega disse que o principal problema econômico do Brasil é a política monetária “irracional” patrocinada pelo presidente do banco central, Roberto Campos Neto. O país precisa de mais investimento para crescer, e as taxas de juros mais elevadas do que o necessário levam a um aumento dos custos de financiamento para as empresas, disse.
Além disso, a inflação está sob controle, acrescentou Mantega, o que significa que não há razão para o BC diminuir o ritmo da flexibilização monetária.
No mês passado, Campos Neto, nomeado para o cargo pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, liderou a maioria dos diretores da autoridade monetária na decisão de cortar a Selic em apenas 0,25 ponto percentual, para 10,5%. Todos os quatro diretores indicados por Lula, porém, eram a favor de um corte maior, de meio ponto percentual.
“O governo Bolsonaro continua gerindo a política monetária”, disse Mantega. “Está certo isso? Isso está errado. Eu não sou contra a independência do Banco Central, mas ela tem que ser a partir da indicação do novo governo. Senão você pode ter um conflito entre política fiscal e política monetária, que é o que está acontecendo.”
O ex-ministro diz que uma das razões que poderia explicar a mudança de ritmo na flexibilização monetária é a decisão do governo de atingir um resultado fiscal para 2025 menos ambicioso do que o indicado anteriormente. Em abril, a equipe econômica disse que iria buscar apenas zerar o deficit primário no ano que vem, em vez de buscar um superavit. Na opinião de Mantega, essa mudança não é suficiente para impulsionar a inflação.
“Nós nunca tivemos uma inflação tão baixa”, disse ele. “Então não dá para argumentar que é um problema da inflação. Também não dá para dizer que só porque o governo vai gastar meio por cento a mais em 2025, você vai ter uma inflação.”
Mantega concorda com o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que a meta de inflação de 3% no Brasil é exigente. Mas disse esperar que o Copom faça um trabalho mais racional depois que os nomeados por Lula se tornarem maioria no colegiado no início do próximo ano.
“O controle da inflação tem que ser uma prioridade absoluta porque ela atrapalha a economia e corrói a renda”, disse Mantega. “A nova gestão certamente vai seguir aquilo que está determinado pelo Conselho Monetário Nacional, que estabeleceu a meta de inflação a ser perseguida, que, diga-se de passagem, é muito baixa para a situação da economia brasileira.”
Mantega disse ainda que Lula está mais ansioso agora do que em seus governos anteriores porque o equilíbrio das forças políticas mudou. O Congresso tem mais poder do que no passado.
“Às vezes ele tem que engolir decisões que ele não gostaria, mas ele o faz”, disse Mantega. “Então eu acho que talvez ele esteja mais angustiado por causa dessa situação.”
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