Governo vai estimular mais a demanda com isenção de IR, diz economista da G5

Luis Otávio Leal diz à Bloomberg Línea que o Banco Central terá que subir os juros de 0,75 a 1 ponto em dezembro diante da deterioração das expectativas e que 13% ao ano passa a ser o novo piso

Banco Central de Brasil en Brasilia
29 de Novembro, 2024 | 05:27 AM

Bloomberg Línea — A “disparada” do dólar e dos juros futuros deve levar o Banco Central a acelerar o ritmo de alta da Selic, levando a taxa básica de juros a pelo menos 13% ao ano, na visão de Luis Otávio Leal, economista-chefe e sócio da G5 Partners, gestora e multifamily office com R$ 35 bilhões em ativos.

Em entrevista à Bloomberg Línea, Leal afirmou que esse patamar de 13% ao ano agora se torna um “piso” para as projeções do mercado para a Selic. Ele próprio revisou sua estimativa de 13% para 13,25% após os anúncios das medidas do governo e disse que o viés é de alta.

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“É inevitável o Banco Central subir 0,75 ponto na reunião de dezembro. Se não der 0,75, ou até mais que isso, o mercado vai piorar mais porque achará que o BC estará sendo leniente”, disse Leal em entrevista no escritório da gestora. “O 0,75 não é nem mais um choque. O choque seria um 1 ponto.”

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Outras instituições financeiras também revisaram as projeções para a taxa de juros depois que o governo apresentou um pacote fiscal considerado limitado e com medidas de difíceis execução e anunciou, ao mesmo tempo, uma proposta de isenção de Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5.000 por mês.

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O Barclays prevê que o Copom deve subir a Selic em 0,75 ponto na reunião de 11 de dezembro, e a taxa de juros deve chegar a 13,50% ao ano no fim do ciclo de alta, ante projeção anterior de 12,75%.

Já o JPMorgan elevou a projeção da Selic de 13% para 14,25% ao ano e prevê que o Copom irá promover um aumento de 1 ponto percentual já na próxima reunião, levando a taxa para 12,25%.

Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária e futuro presidente do Banco Central a partir de janeiro de 2025, disse na noite de quinta-feira (28) que, de acordo com os indicadores, “é lógico supor que precisará de juro em nível mais contracionista”. Em evento do grupo Esfera, ele afirmou que o BC segue firme no objetivo de perseguir a meta de inflação de 3%.

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Estímulo à demanda

O economista da G5 avaliou que a isenção do Imposto de Renda para trabalhadores que ganham até R$ 5.000 por mês estimulará o consumo e vai na contramão da política monetária corrente, justamente no momento em que o PIB já cresce acima do potencial e a inflação tem acelerado no país.

“Ainda que o aumento da alíquota para quem ganha acima de R$ 50.000 compense a arrecadação perdida com a isenção, o impulso fiscal não é neutro e impacta a demanda”, disse Leal. “Você vai isentar uma parcela da população que tem uma propensão marginal a consumir muito maior do que quem ganha R$ 50.000.”

Luis Otávio Leal, economista-chefe e sócio da G5 Partners

Nesse ambiente, segundo ele, o aumento da renda pressionará a inflação. Ao mesmo tempo, a elevação dos juros impactará ainda mais o custo das empresas, uma vez que fica mais caro obter financiamento e antecipar recebíveis para capital de giro.

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“Mesmo que as vendas continuem iguais, as margens das empresas vão cair. Porque elas vão pagar mais de juros”, disse o economista. “De duas, uma: ou o país vai ter uma desaceleração forte da economia ou terá mais inflação. Nenhuma das duas é uma boa solução para o Lula em anos de eleição.”

Medidas insuficientes

As medidas apresentadas pelo governo, que prevê economia de R$ 71,9 bilhões em dois anos, têm pontos positivos, segundo o economista, mas são insuficientes para resolver os problemas estruturais que permitem um crescimento das despesas públicas acima do limite do arcabouço fiscal, sem estabilizar a dívida pública.

Parte da economia calculada pelo governo, ele ressalta, não é garantida, a exemplo das medidas propostas para reduzir as fraudes no programa assistencial BPC (Benefício de Prestação Continuada) e no Bolsa Família.

Outra questão é a nova regra proposta para o reajuste do salário mínimo, que prevê aumento real de 0,6% a 2,5% acima da inflação, dentro dos limites do arcabouço fiscal.

O economista disse que há dúvidas sobre como essa regra será aplicada caso o crescimento do PIB do ano anterior seja de 2%, por exemplo, e questiona se o governo terá condições de conceder um reajuste de 2,5% nessas situações.

Além disso, na regra atual, o salário mínimo não tem reajuste real quando o PIB é negativo. Pela proposta do governo, haveria um crescimento real de pelo menos 0,6% mesmo em uma recessão. “É uma medida que ajuda no curto prazo, mas no longo prazo pode ter alguma piora”, disse.

Leal lembrou que a importância de um ajuste fiscal é diminuir o impulso dos gastos públicos sobre a demanda. Isso leva a juros mais baixos, o que reduz as despesas do governo com a dívida.

Ele avaliou que as propostas do governo, por um lado, controlam gastos que não impulsionam a demanda e, por outro, expande gastos que impulsionam o consumo. “Isso vai, de alguma forma, diminuir o crescimento da economia e diminuir a arrecadação”, disse.

“O governo não entendeu esse processo, porque ele não acredita nisso. Ele acha que vai impulsionar a economia, isso vai gerar uma arrecadação maior e vai compensar o que foi aumentado de despesas. É uma corrida do cachorro rodando atrás do rabo”, comparou.

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.