Espaço para corte de juros mais amplo é limitado, diz economista-chefe do Itaú

Para Mário Mesquita, mercado de trabalho aquecido e aumento do gasto público impedem que o Banco Central faça uma redução mais acelerada da Selic

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Bloomberg Línea — A atividade econômica mais aquecida do que o esperado e a perspectiva de que as despesas do governo devem continuar crescendo em 2024 limitam o espaço do Banco Central para reduzir a taxa básica de juros em um ritmo mais acelerado. A visão é da equipe de pesquisas do Itaú (ITUB4), liderada pelo economista-chefe Mário Mesquita.

A projeção dos economistas do banco é a de que a Selic deve encerrar 2024 em 10% ao ano (acima da expectativa mediana do mercado indicada no último Boletim Focus, de 9,50%), o que sugere uma redução gradual da taxa básica de juros até o fim do ano que vem.

Atualmente (e desde agosto de 2022), a Selic está em 13,75% ao ano, e a expectativa é que o Banco Central pode iniciar um ciclo de corte de juros a partir da próxima reunião, em agosto.

“Com o mercado de trabalho e o desemprego no nível em que estão e as dinâmicas que os salários têm mostrado até agora, eu teria muita cautela em iniciar um processo de flexibilização. De qualquer forma, concordo com o Banco Central que, se for fazer, é para fazer de forma parcimoniosa”, afirmou Mesquita em evento com jornalistas nesta quarta-feira (28).

Política fiscal com o ‘pé no acelerador’

Outro fator que dificulta um corte de juros mais acelerado é a perspectiva de que os gastos do governo federal devem continuar subindo, mesmo com as restrições impostas pela nova regra do arcabouço fiscal, que precisa passar por nova votação na Câmara após alterações feitas no Senado.

Mesquita disse ver uma política fiscal “com o pé no acelerador” em 2023 e 2024. Com isso, a equipe do Itaú prevê que o governo terá dificuldades para atingir a meta de zerar o déficit primário no ano que vem.

Para que isso ocorra, o governo vai depender de um aumento expressivo de arrecadação de pelo menos 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB) em 2024, por meio de medidas para elevar as receitas, e de uma expansão do PIB de ao menos 1,5%, mais forte do que o esperado.

O Itaú prevê um déficit primário de 1% em 2023 e de 0,8% em 2024.

“Se começar a cortar juro com o mercado de trabalho já apertado, com uma política fiscal com um viés expansionista, há uma dificuldade para cortes de juros mais intensos na nossa visão”, disse Mesquita.

Além disso, a economia brasileira tem no momento uma alta taxa de utilização da capacidade produtiva da indústria, o que também limita a expansão da oferta e eventuais cortes maiores da Selic, disse o economista.

Taxa de participação do mercado de trabalho

Um aspecto que poderia fazer o Banco Central elevar a magnitude dos cortes de juros seria uma recuperação da taxa de participação do mercado de trabalho, atualmente em um nível menor do que a média histórica – mas é algo que não está no cenário-base do Itaú.

“Se a taxa de participação subir, o desemprego tende a subir também. Isso aliviaria pressões salariais e sobre a inflação de serviços. Vai ter uma desinflação que depende menos de itens voláteis. Mas é uma conjectura. Achamos que isso não vai acontecer. Eu pelo menos esperaria alguma evidência desse ajuste da taxa de participação antes de alterar de forma mais intensa a política monetária”, disse o economista.

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