Lula defende isenção maior no IR e mercado vê aumento de risco fiscal

Proposta do governo é vista com preocupação por economistas e investidores por causa dos efeitos para as contas públicas, o que tem se refletido na deterioração dos preços dos ativos do país

Luiz Inacio Lula da Silva
Por Daniel Carvalho - Leda Alvim
11 de Outubro, 2024 | 03:12 PM

Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que, no futuro, deseja isenções maiores do Imposto de Renda, além da sua promessa de elevar a faixa isenta para trabalhadores com salários de até R$ 5.000, o que aumenta as preocupações de investidores sobre a política fiscal.

Os planos do governo para isenções de Imposto de Renda são justos porque os pobres pagam proporcionalmente mais impostos do que os ricos, disse Lula em entrevista a uma rádio nesta sexta-feira (11). Lula disse que vê os salários como sendo diferentes da renda total.

“O que queremos é isentar as pessoas com salários de até R$ 5.000 e, no futuro, isentar mais”, disse Lula, acrescentando que “temos que tirar de alguém. E esse debate não tem que ser escondido. Ele tem que ser público. O povo tem que saber quem paga.”

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O real foi a moeda que mais se desvalorizou entre as divisas de mercados emergentes, enquanto os futuros de taxas de juros subiram, já que os comentários de Lula reavivaram os temores dos investidores de gastos maiores e da piora nas contas públicas.

No mês passado, o Banco Central deu início a um ciclo de aumentos na taxa de juros para controlar a inflação, e os traders veem a Selic ultrapassando 13% ao ano em 2025, a partir do nível atual de 10,75% ao ano.

"Os comentários de Lula sobre a extensão das isenções fiscais não estão agradando", disse Brendan McKenna, economista e estrategista de mercados emergentes da Wells Fargo. "Os mercados estão interpretando isso como menos responsabilidade fiscal".

O dólar subiu até 1,14%, para R$ 5,6529, durante a manhã. Os juros de contratos futuros com vencimento em janeiro de 2029, um indicador do sentimento do mercado financeiro em relação à política monetária, subiram mais de 20 pontos-base.

Os ativos brasileiros têm sido prejudicados à medida que os mercados financeiros se tornam mais céticos em relação ao compromisso do governo com o equilíbrio fiscal.

O real é a moeda de mercado emergente com o pior desempenho deste ano, além do peso argentino e da lira turca, enquanto as ações brasileiras também ficam para trás.

A reforma do Imposto de Renda do Brasil será “neutra” do ponto de vista fiscal, o que significa que não pode levar nem a uma perda nem a um ganho de receita, disse o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, a repórteres na quinta-feira.

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Ele disse que o governo ainda não finalizou o plano e que não pode se preocupar com as reações dos investidores à proposta.

Muitos nos mercados discordam. A revisão do Imposto de Renda custará cerca de R$ 50 bilhões, tornando impossível encaixá-la no orçamento de 2025, de acordo com Solange Srour, chefe de macroeconomia do Brasil no UBS Global Wealth Management.

"O mercado está cada vez mais apreensivo com a possibilidade de entrarmos em uma agenda mais populista do que a que tivemos no passado", disse ela. "Os gastos fiscais já aumentaram significativamente no início deste ano, e talvez não desacelerem tanto quanto o mercado estava esperando."

Na mesma entrevista de sexta-feira, Lula disse que quer comprar um novo avião presidencial, bem como aeronaves que seus ministros possam usar para viagens oficiais.

O governo também está criando um hedge cambial para dar segurança aos estrangeiros que queiram investir no Brasil, acrescentou.

-- Com colaboração de Josué Leonel, Felipe Saturnino e Franco Dantas.

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