Delfim Netto, ministro do ‘milagre econômico’, morre aos 96 anos

Economista foi ministro da Fazenda durante o regime militar e também uma das vozes mais influentes nessa área; ele aconselhou diversos presidentes da República, incluindo Lula

Delfim Netto
Por Martha Beck - Josue Leonel
12 de Agosto, 2024 | 01:12 PM

Bloomberg — O economista Antônio Delfim Netto, ex-ministro da Fazenda que supervisionou o que ficou conhecido como o milagre econômico do país, morreu na madrugada desta segunda-feira (12), em São Paulo. Ele tinha 96 anos.

Delfim Netto, uma voz influente na economia brasileira durante meio século, havia sido hospitalizado devido a complicações de saúde, mas não foi informada a causa específica da morte, segundo a GloboNews.

Como ministro da Fazenda de 1967 a 1974, Delfim Netto atuou como o chefe da política econômica do regime militar que governou o país por mais de duas décadas. Sob seu comando, a economia brasileira se expandiu a uma taxa média anual de 10%, até hoje a mais rápida já registrada.

Ele também atuou como ministro da Agricultura e do Planejamento nos últimos anos da ditadura militar, que ocupou o poder de 1964 a 1985, ajudando a negociar a reestruturação da dívida externa do Brasil. Mais tarde, Delfim Netto atuou no Congresso como deputado federal.

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Apesar dos fortes vínculos com o regime militar, sua vasta experiência em diferentes governos fez de Delfim Netto um conselheiro econômico informal de vários presidentes, incluindo o líder de esquerda Luiz Inácio Lula da Silva, que supervisionou o período de crescimento mais rápido do Brasil após a ditadura durante seus dois primeiros mandatos, de 2003 a 2010.

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O ex-ministro recebia rotineiramente ligações telefônicas do palácio presidencial em momentos difíceis ou quando novas políticas estavam sendo preparadas. Ele também comentava com frequência sobre assuntos econômicos em colunas de jornais e entrevistas.

Lula, que retornou à presidência no ano passado, reconheceu sua mudança de opinião sobre Delfim Netto em uma declaração emitida após sua morte.

"Durante 30 anos, critiquei Delfim Netto", disse Lula. "Durante minha campanha em 2006, pedi desculpas publicamente porque ele foi um dos maiores defensores das políticas de desenvolvimento e inclusão social que implementei durante meus dois primeiros mandatos. Quando um adversário político é inteligente, ele nos faz trabalhar para sermos mais inteligentes e competentes."

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse em nota que Delfim Netto “merece respeito por ter se dedicado ao progresso econômico brasileiro”.

Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do conselho do Bradesco (BBDC4), elogiou Delfim Netto por levar “o Brasil a outro patamar, com uma economia diversificada baseada em infraestrutura e modernidade”.

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Delfim Netto nasceu em 1928 em São Paulo. Ele tem uma filha e um neto, segundo a GloboNews.

-- Com a colaboração de Felipe Saturnino.

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