Bloomberg Línea — A perspectiva de o governo não conseguir cumprir a meta de déficit zero em 2024 já estaria no preço dos ativos do mercado financeiro. Essa é a visão do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, que participou do evento Inside Latam, da agência de classificação de risco Moody’s, na manhã desta terça-feira (17) em São Paulo.
A expectativa de inflação de 3,88% para 2024 da última pesquisa Focus, assim como de uma Selic a 9% ao ano, estariam acompanhando a expectativa de déficit fora da meta da mesma pesquisa, de um resultado primário negativo de 0,8% do Produto Interno Bruto (PIB).
“Quando eu olho para o Focus, temos uma expectativa de déficit de 0,8% para ano que vem. Eu preciso supor que essa expectativa dialoga com os outros indicadores esperados, câmbio, inflação e taxa de juros terminal. Preciso supor que existe uma coerência. De grosso modo, posso dizer que o 0,8% está no preço das expectativas. Está claro que é um desafio atender a meta de zero, mas eu tendo a acreditar que o ceticismo do mercado já está nos preços.”
De acordo com Galípolo, a situação manteria a responsabilidade natural do Banco Central de reagir à política fiscal e a como ela se transmite para as expectativas.
A previsão de inflação em 3,88% para 2024 está acima do centro da meta estipulada pelo Conselho Monetário Nacional, de 3%, mas está dentro do teto limite que o BC deve perseguir, de até 4,5%.
Na ata da última reunião do Banco Central, que decidiu cortar juros em 0,50 ponto, o Comitê de Política Monetária (Copom) menciona que as incertezas que mantinham um prêmio de risco sobre juros e inflação eram consequência principalmente das dúvidas sobre o desenho final do arcabouço fiscal.
No momento da última decisão, o BC se atentou mais à execução das medidas de receita e despesas e o cumprimento das metas fiscais.
A meta do governo de zerar o déficit em 2024 indicada pelo Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) tem uma tolerância para que as contas fechem até 0,25% do PIB no vermelho. Caso a meta seja descumprida, o novo arcabouço fiscal impõe que as despesas no ano seguinte, em 2025, deverão ser menores.
Para este ano de 2023, o déficit deverá ser 1,10% do PIB, de acordo com a última pesquisa Focus. No entanto, este déficit atual não sofrerá os gatilhos de corte de gastos do novo arcabouço, que vale apenas para o próximo ano.
Cenário externo
O preço do petróleo e o câmbio são, na visão do diretor de política monetária, os principais riscos externos para atingir as metas de inflação e para o ciclo de afrouxamento monetário.
“Tem alguns indicativos com esse dólar em alta. As opções dos trades estão impondo taxas mais elevadas, mas o Focus tem menos revisões da taxa terminal do câmbio em 2023 e 2024. O que talvez isso indique é que é um sentimento de algo mais temporário. Mesmo com cenários novos de patamar de dólar, não gerou uma necessidade de mudança nas revisões.”
Quanto ao trabalho de aperto monetário do Federal Reserve, Galípolo afirma que os juros futuros das Treasuries em patamares recordes desde meados dos 2000 dificultam o trabalho dos outros bancos centrais.
Galípolo reforçou que os diretores do banco central decidem juros a cada 45 dias. “Estamos que nem navegadores do século 21, enxergando só 200 metros à frente.”
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