Declarações mais duras de Galípolo reforçam credibilidade do BC, dizem analistas

Diretor de política monetária sinalizou que vê mais chances de que a inflação volte a subir, o que foi bem recebido por investidores

Gabriel Galipolo
Por Felipe Saturnino - Josue Leonel
09 de Agosto, 2024 | 04:41 PM

Bloomberg — As declarações mais duras do diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, foram bem recebidas pelos investidores e serviram de gatilho para uma melhora dos ativos nesta sexta-feira (9).

As falas reforçam a credibilidade do BC e reduzem o temor de maior leniência com a inflação a partir do próximo ano, na avaliação de analistas.

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O dólar (USDBRL) voltou a operar abaixo do patamar de R$ 5,50, na mínima, enquanto os contratos de juros futuros com prazo mais longo cederam, numa mostra de melhora da percepção dos investidores.

As taxas mais curtas, que representam as apostas para a taxa Selic, operam em alta — também influenciadas pela inflação acima do esperado em julho — e reforçam as apostas de elevação do juro na reunião de setembro.

“A fala do diretor Galípolo ontem foi muito bem recebida”, diz Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez. A declaração “teve êxito em endereçar as principais dúvidas que vêm minando a credibilidade do BC neste momento de transição de presidência”.

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Balanço de riscos

Galípolo afirmou, em evento no final da tarde de quinta-feira (8), que o balanço de riscos para a inflação está “assimétrico”. Isso significa que ele vê chances maiores de que a inflação volte a subir à frente.

A mudança de visão sobre os riscos para os preços estava no centro das atenções dos investidores no Copom da semana passada. Apesar de o BC manter a leitura de que há fatores “em ambas as direções”, a ata da decisão explicitou que “vários membros” viam uma assimetria para cima.

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Galípolo, indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva e visto como forte candidato à sucessão de Roberto Campos Neto à frente do BC a partir de 2025, também afirmou que o intervalo de tolerância da meta de inflação — de mais ou menos 1,5 ponto percentual — não tem o objetivo de reduzir o esforço da autoridade monetária para atingir a meta de 3% e que o cenário atual é de maior vigilância.

Com o dólar em baixa e o Banco Central “conseguindo ganhar credibilidade” depois da postura mais hawkish de Galípolo, os ativos brasileiros têm uma resposta positiva, afirma Gustavo Okuyama, gestor da Porto Asset.

Lula vem criticando a autoridade monetária pela decisão de manter a taxa de juros em patamar mais elevado, o que levanta receios no mercado de que o BC adotará uma abordagem mais branda no combate à inflação a partir do próximo ano, quando a diretoria será formada majoritariamente por integrantes indicados pelo governo.

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As últimas comunicações “bem mais hawkish” — a fala do Galípolo e a ata do Copom —, ajudam “a manter a taxa de câmbio mais baixa e trazem um certo alívio futuro”, na avaliação de Laiz Carvalho, economista sênior do BNP.

“Galípolo tem usado, nos últimos dias, um discurso mais preocupado com o cenário de inflação”, disse Álvaro Frasson, estrategista-macro do BTG Pactual. “Isto reduz alguma percepção de que a função de reação do Banco Central poderia ser mais leniente com a inflação.”

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