De olho em 2026, Lula testará força com novos presidentes no Senado e na Câmara

Davi Alcolumbre (União) e Hugo Motta (Republicanos) vão liderar negociações para pautas chave como o Orçamento de 2025 e a proposta de pacote fiscal apresentado no fim de 2024

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Bloomberg — O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que enfrenta elevados preços dos alimentos, crescente ceticismo de investidores e queda nas taxas de aprovação, agora tem outro desafio pela frente: uma mudança no comando do Congresso que irá testar sua capacidade de navegar pelo conservador parlamento brasileiro.

A Câmara e o Senado elegem neste sábado (1 de fevereiro) seus novos presidentes, ambos de partidos do chamado Centrão, que mantém relações instáveis com o governo.

O já conhecido senador Davi Alcolumbre (União-AP) foi eleito por 73 dos 81 votos. Lula telefonou a Alcolumbre logo após a eleição, segundo o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues. O presidente o parabenizou publicamente em um comunicado.

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“Caminharemos juntos na defesa da democracia e na construção de um Brasil mais desenvolvido e menos desigual, com oportunidades para todo o povo brasileiro”, afirmou Lula em nota.

O deputado federal Hugo Motta (Republicanos-PB) está prestes a emergir como o novo presidente da Câmara numa votação ainda neste sábado à tarde, diante do seu amplo apoio de outros partidos e do favoritismo.

Sem maioria em nenhuma das Casas, as relações de Lula com o Congresso — e com o atual presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), em particular — têm se mostrado muitas vezes difíceis nos últimos dois anos.

Agora ele precisará construir laços com novos líderes dos quais dependerá fortemente na segunda metade do mandato enquanto navega por obstáculos, como o desconforto do mercado sobre os gastos públicos e suas próprias propostas que visam impulsionar o apoio popular antes da eleição presidencial de 2026.

Isso não será fácil. A agenda já está atribulada e, ao mesmo tempo em que o PT de Lula apoia os dois favoritos, eles também desfrutam do apoio do PL do ex-presidente Jair Bolsonaro, que também telefonou para parabenizar Alcolumbre.

Mas Lula não espera sentado para fazer suas próprias incursões, já que os parlamentares retomam o trabalho com o Orçamento de 2025 no topo da lista de prioridades. O presidente quer se reunir com os novos presidentes na próxima semana, disse uma pessoa familiarizada com a situação, antes de iniciar uma aguardada reforma ministerial, que visa ampliar apoio ao governo no Legislativo.

Em Alcolumbre, Lula encontrará um rosto familiar: o congressista de 47 anos, que comandou o Senado de 2019 a 2021, atuou como uma figura poderosa sob a gestão do agora ex-presidente da Casa Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e escolheu ao menos três ministros de Lula. O senador também era o responsável pela negociação de emendas parlamentares para seus colegas.

A equipe de Lula espera que as negociações com Alcolumbre sejam mais difíceis do que foram sob Pacheco, que atuou sempre como aliado, disseram à Bloomberg News duas pessoas familiarizadas com a situação, pedindo anonimato para discutir assuntos sensíveis.

Motta, 35 anos, é considerado “uma tela em branco. de deputado em 2016 Ele está no cargo desde 2011, ganhou destaque na CPI da Petrobras e já foi muito próximo de Eduardo Cunha — o ex-presidente da Câmara que liderou o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Inicialmente hesitante em apoiar a candidatura de liderança do jovem deputado, Lula foi convencido por aliados e pelas conversas iniciais com Motta, segundo um dos aliados a par do processo.

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Essas conversas provavelmente ajudarão a manter os canais abertos com Motta, disse Paulo Gama, coordenador de análise política da XP Investimentos. Ele acrescentou que o deputado já atuou como relator de matérias relevantes para o mercado financeiro e “demonstrou capacidade” tanto para o diálogo quanto para questões técnicas.

A familiaridade com Alcolumbre, por sua vez, provavelmente levará à “continuidade do modelo atual nas negociações” entre o Senado e o governo, disse Gama. “Ele é alguém que está disposto a ouvir os argumentos do governo, mas sem alinhamento automático com todos os pontos da agenda.”

Orçamento e medidas fiscais

O primeiro item da agenda será o Orçamento de 2025, que o governo está ansioso para aprovar porque os gastos estão limitados até que a peça orçamentária seja aprovada. Isso não deve acontecer antes do Carnaval no início de março, de acordo com o senador Angelo Coronel, relator do projeto.

Lula também quer garantir a aprovação da isenção de Imposto de Renda para salários de até R$ 5.000, uma proposta que o PT vê como chave para reforçar o apoio entre os eleitores da classe trabalhadora. Mas o custo desse plano, que agravou a preocupação de investidores sobre o compromisso de Lula com a disciplina fiscal no final do ano passado, também precisa ser compensado.

A ideia inicial do governo é fazê-lo com aumento de impostos sobre os “super ricos”, mas isso pode não ganhar amplo apoio. A oposição liderada por Bolsonaro é contra a tese, embora o ex-presidente tenha os instruído a evitar criticar a proposta já na largada por receio de que sejam rotulados de defensores dos ricos, disse ele em uma entrevista.

As batalhas sobre a regulamentação das grandes empresas de tecnologia e da Inteligência Artificial também estão em andamento neste ano. E há o potencial de medidas adicionais para reforçar a situação fiscal do país, em meio aos temores do mercado sobre o déficit e a trajetória da dívida do Brasil.

Isso só virá mais tarde, se é que virá. Em uma recente entrevista, a ministra do Planejamento, Simone Tebet, disse que o governo vai esperar pela divulgação do primeiro relatório bimestral de contas públicas do ano, em março, “para ver se novas medidas serão necessárias”.

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