Copom reduz Selic para 10,75% ao ano e altera trecho sobre próximos cortes

Comunicado que acompanha a decisão de corte de 0,50 ponto percentual fala que o comitê antevê um corte de mesma magnitude na “próxima reunião”, em vez de “nas próximas reuniões”

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Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central cortou a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual nesta quarta-feira (20), para 10,75% ao ano.

A expectativa da redução era unânime entre economistas do mercado financeiro e marca o sexto corte consecutivo desde que a flexibilização monetária começou, em agosto de 2023.

No comunicado, o Copom afirmou: “O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente. Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião.”

Até a reunião anterior, realizada em janeiro deste ano, o Copom se referia à sinalização de novos cortes da seguinte forma: “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.”

O próprio mercado já não aponta, com 100% de probabilidade, a redução no mesmo ritmo para nenhuma das próximas reuniões. O Copom volta a se encontrar nos dias 7 e 8 de maio.

Na segunda-feira (18), a curva de juros precificava 43 pontos de corte em maio e 30 pontos em junho — o que sugere que o mercado já antevê uma desaceleração de ritmo nos próximos meses.

Em 2023, a inflação encerrou o ano dentro do teto da meta pela primeira vez depois de dois anos seguidos acima do alvo. O centro da meta era de 3,25%, com limite de até 1,5 ponto para cima e para baixo.

Já para 2024, no entanto, o centro da meta é de 3%, também com limite de 1,5 ponto.

Em fevereiro, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) teve alta de 0,83%, acima do esperado pelo mercado. O dado acelerou em relação à alta de 0,42% registrada em janeiro, impulsionado pelo avanço nos preços do grupo de educação, que teve o maior impacto no índice.

No relatório Focus mais recente, a mediana das expectativas dos economistas apontava para inflação de 3,79% em 2024. Já para a Selic, o mercado espera uma taxa de 9% ao ano em dezembro.

Juros nos EUA

Em dia de “Super Quarta”, o Federal Reserve anunciou mais cedo sua decisão de política monetária. O banco central dos Estados Unidos manteve as taxas de juros no intervalo de 5,25% a 5,50% ao ano, pela quinta reunião consecutiva.

No comunicado divulgado junto com a decisão, o Fomc reiterou que espera ter mais confiança de que a inflação atingirá a meta de 2% antes de um corte dos juros.

O “gráfico de pontos”, ou “dot plot”, das projeções de taxas do Fomc mostra uma expectativa de três cortes de 0,25 ponto percentual em 2024, semelhante ao ciclo anterior de previsões trimestrais em dezembro. No entanto, a previsão mediana das taxas para 2025 subiu para 3,9%, de 3,6%.

Confira o comunicado na íntegra do Copom

“O ambiente externo segue volátil, marcado pelos debates sobre o início da flexibilização de política monetária nas principais economias e a velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom. A inflação cheia ao consumidor manteve trajetória de desinflação, enquanto as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 3,8% e 3,5%, respectivamente.

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 3,5% em 2024 e 3,2% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 3,9% em 2025.

O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela na condução da política monetária.

Tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu reduzir a taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2024 e, em grau maior, o de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, expectativas de inflação com reancoragem apenas parcial e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária. O Comitê reforça a necessidade de perseverar com uma política monetária contracionista até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas.

O Comitê avalia que o cenário-base não se alterou substancialmente. Em função da elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária, os membros do Comitê, unanimemente, optaram por comunicar que anteveem, em se confirmando o cenário esperado, redução de mesma magnitude na próxima reunião. O Comitê avalia que essa é a condução apropriada para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário.

O Comitê enfatiza que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular daquelas de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.”

*No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de USD/BRL 4,95, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2024 e de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento, que passou a ser adotado na 258ª reunião, de arredondar a cotação média da taxa de câmbio USD/BRL observada nos dez dias úteis encerrados no último dia da semana anterior à da reunião do Copom.