Bloomberg — O Banco Central deve manter a taxa Selic em 13,75% ao ano nesta quarta-feira (21) e adotar um tom mais brando diante da queda recente da inflação e do recuo do dólar para o patamar de R$ 4,80, após a melhora da perspectiva do Brasil pela agência de classificação de risco S&P, segundo analistas consultados pela Bloomberg News.
A curva de juros ampliou a aposta em uma antecipação do alívio monetário nos últimos dias, com um corte de 0,25 ponto percentual em agosto já totalmente precificado. Grandes bancos como Itaú Unibanco (ITUB4), JPMorgan (JPM), Santander (SANB11) e Citi (C) mudaram a previsão de início da flexibilização de novembro para setembro.
O próprio presidente do BC, Roberto Campos Neto, reconheceu na última semana que as expectativas começaram a melhorar e que o arcabouço fiscal afeta positivamente as taxas longas, o que abre espaço para uma queda da Selic.
A expectativa da maioria dos economistas é a de retirada da expressão de que o BC “não hesitará” em subir os juros se necessário, um dos pontos considerados hawkish (isto é, favoráveis a juros mais altos) que têm sido mantidos nos documentos das últimas reuniões.
Os analistas consultados - entre economistas e gestores - não esperam que o Copom abandone totalmente a cautela nem emita algum sinal explícito de corte da Selic. Entre os motivos está a necessidade de esperar a próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN), que discutirá a meta de inflação no final do mês.
Confira o que dizem 9 especialistas consultados pela Bloomberg News:
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
- O BC removerá a referência à possibilidade de alta de juros, mas será neutro em sua prescrição futura, aguardando os efeitos sobre a definição da meta pelo CMN;
- O crescimento tem sido maior que o esperado, mas inflação no atacado e varejo surpreenderam para baixo;
- O banco espera um primeiro corte de 0,50 ponto percentual em setembro, mas desdobramentos após a reunião do CMN têm potencial para que haja antecipação para agosto, com redução de 0,25 pp;
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- O BC não deve sinalizar corte em agosto, mas, ao adotar postura menos hawkish, indicará que, se a inflação corrente e expectativas continuarem a melhorar e a discussão do CMN sobre as metas não agitar o mercado, a reunião de agosto vai ser aberta;
- Nesse caso, o Copom pode cortar em agosto ou sinalizar de uma maneira mais explícita que uma redução em setembro é possível;
- Se o câmbio se consolidar por volta de R$ 4,80 depois da melhora da perspectiva pela S&P, pode encorajar o BC a adotar uma postura mais dovish (favorável a juros mais baixos);
Cassiana Fernandez e Vinicius Moreira, economistas do JPMorgan
- Mudanças importantes no cenário devem garantir um tom “mais dovish” no comunicado;
- Trecho que ainda sinaliza possível alta de juro pode ser substituído por uma mensagem de que não hesitará em “reagir” se a situação mudar;
- O banco espera um corte de 0,50 pp em setembro, ante estimativa anterior de novembro, e vê chance de cortar em agosto, a depender das expectativas;
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter
- O Copom deve avaliar que queda da inflação e das expectativas abre espaço para a discussão sobre a redução dos juros;
- O cenário externo mostra queda nas commodities e menor aversão a risco; internamente, a demanda dá sinais de enfraquecimento e dados indicam abertura do hiato;
Cecília Machado, economista-chefe do banco BOCOM BBM
- Comunicado deve vir dovish e reconhecer a melhora no balanço de riscos para a inflação e o incipiente alívio nos núcleos, mesmo com a atividade ainda aquecida;
- BC pode modificar o último parágrafo, no qual reconhece a possibilidade de retomar o ciclo de alta, substituindo por indicação de que juros seguirão em “patamar restritivo” até que se consolidem a desinflação e reancoragem;
Patricia Urbano, gestora do Edmond de Rothschild
- O Copom deve promover mudanças no comunicado após dados de inflação corrente menores do que o esperado e melhora das expectativas inflacionárias para 2024;
- Além disso, a valorização do real após a decisão da S&P pode ajudar a trazer alívio na inflação;
Luis Cezario, economista-chefe da Asset1
- O comunicado trará tom mais positivo, reconhecendo a queda recente da inflação e o recuo moderado das expectativas de médio prazo;
- Deve ser retirado trecho que mencionava a possibilidade de se voltar a subir juros;
- O comunicado, contudo, não deve indicar que o ciclo de queda de juros poderá começar na reunião seguinte, pois os núcleos ainda estão elevados e as expectativas permanecem desancoradas;
Rafael Ihara, economista-chefe da Meraki Capital
- A decisão da S&P em si não deveria mudar a cabeça do BC, dado que o mercado antecipou a notícia, mas a redução adicional de prêmio nos ativos, principalmente câmbio, aumenta a probabilidade de o BC ficar mais dovish;
- O movimento mais óbvio agora é retirar completamente a ameaça de retomar o ciclo de alta, mas uma sinalização explícita de corte parece difícil;
- A retirada deste trecho pode ser entendida pelo mercado como “sinal verde” para apostas em corte, mas não necessariamente indicará redução iminente ou de 0,50pp.
-- Com a colaboração de Raphael Almeida Dos Santos.
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