Bloomberg — A credibilidade do Banco Central está em risco, pois os investidores questionam o compromisso dos formuladores de política monetária em atingir a meta de inflação de 3%, de acordo com Gustavo Loyola, ex-presidente da instituição.
Os membros da diretoria devem agir em sintonia na busca dessa meta para preservar a credibilidade do BC, disse Loyola durante uma entrevista em Brasília, dias depois que todos os membros da diretoria nomeados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva votaram a favor de um corte maior na taxa de juros do que a maioria.
A mensagem do BC durante suas próximas reuniões, acrescentou Loyola, determinará se o BC conseguirá ou não controlar as expectativas de inflação.
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Essas previsões têm se deteriorado à medida que os investidores se preocupam com o futuro da política monetária quando os indicados por Lula se tornarem maioria no Copom no ano que vem.
"Se os banqueiros centrais derem um sinal muito fraco, por exemplo, as estimativas de inflação podem piorar", disse ele.
A decisão dividida do Banco Central de reduzir o ritmo de cortes de juros, diminuindo a Selic em 0,25 ponto percentual em 8 de maio, alimentou as expectativas de aumentos de preços mais rápidos no próximo ano, levando economistas e traders a dizer que os formuladores de política monetária não têm mais espaço para cortar as taxas de juros.
Uma decisão de interromper o ciclo de cortes colocaria o BC em rota de colisão direta com Lula, que culpou a instituição e o presidente Roberto Campos Neto por impedir o crescimento da maior economia da América Latina.
Loyola, entretanto, acredita que o cenário mais provável inclui mais um corte de 0,25 ponto no próximo mês, após o qual o banco sinalizaria o fim do ciclo.
Ele não descartou a possibilidade de mais decisões divididas por parte da diretoria do banco e disse que elas não são necessariamente ruins.
“Há espaço para que todos os diretores tornem públicas suas opiniões, mesmo as dissidentes, desde que sejam bem explicadas, para que não enfraqueçam a posição do banco”, disse Loyola, que atualmente é sócio da empresa de consultoria Tendências.
No entanto, o que assusta os investidores, acrescentou Loyola, é que há uma “grande chance” de que a autoridade monetária fique “mais aberta” para cortar os custos dos empréstimos quando Lula conseguir a maioria dos membros do conselho. “É um risco que deve ser considerado”, disse ele.
Orquestra bem afinada
Loyola presidiu a autoridade monetária em duas ocasiões distintas durante a década de 1990, liderando uma reestruturação do sistema financeiro do Brasil à medida que se desenvolvia um programa de estabilização econômica conhecido como Plano Real. O programa também lançou as bases para o regime de metas de inflação do Brasil.
Como prova o Plano Real, o Brasil foi bem-sucedido com reformas "muito mais difíceis" do que o fortalecimento das contas públicas, disse ele.
"Se houvesse vontade política, este governo faria isso", disse ele.
As preocupações com o aumento dos gastos públicos também elevam as estimativas de inflação, complicando o trabalho do Banco Central. Na semana passada, Loyola participou de uma mesa redonda para comemorar o aniversário de 30 anos do Plano Real, no qual a política fiscal foi debatida.
Pedro Malan, que foi ministro da Fazenda do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, destacou a necessidade de uma política fiscal sustentável para reduzir as projeções de preços ao consumidor. Sua esperança, disse ele, é que os eleitores penalizem um governo “complacente demais com a inflação”.
Anfitrião do evento, Campos Neto pediu a um painel com ex-diretores do Banco Central conselhos sobre a comunicação da instituição.
A questão da unidade entre a diretoria está “se tornando mais séria”, disse Gustavo Franco, que acrescentou que a autoridade monetária precisa ser uma “orquestra bem afinada”.
"É assim que o senhor constrói credibilidade, com um discurso coerente", disse Loyola.
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