Copom eleva Selic a 13,25% ao ano e prevê nova alta de 1 ponto na próxima reunião

Decisão é a primeira sob o comando de Gabriel Galípolo; em comunicado, BC diz magnitude do aperto monetário depois de março dependerá ‘da evolução da dinâmica da inflação’

Banco Central
29 de Janeiro, 2025 | 06:52 PM

Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 1 ponto percentual para 13,25% ao ano, na primeira decisão sob o comando de Gabriel Galípolo na presidência do Banco Central. A decisão foi unânime.

O aumento dos juros era amplamente esperado por analistas uma vez que o Copom já havia indicado na reunião de política monetária de dezembro que faria mais dois movimentos de 100 pontos-base na taxa básica, em janeiro e em março.

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Todos os analistas consultados pela Bloomberg esperavam um aumento de 1 ponto percentual.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira (29), o Copom disse que prevê mais um ajuste na mesma magnitude na próxima reunião, mas evitou se comprometer com outros aumentos depois de março.

“Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião”, diz o texto do Copom (leia o texto na íntegra abaixo).

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“Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

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Segundo o Copom, o cenário recente tem sido marcado pela “desancoragem adicional” as expectativas de inflação, o aumento das projeções de inflação, a resiliência da economia e as pressões no mercado de trabalho, “o que exige uma política monetária mais contracionista”, segundo o colegiado.

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O Copom avalia que o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho “tem apresentado dinamismo”, e tanto a inflação cheia quanto as medidas subjacentes se mantiveram acima da meta e tiveram aumentos nas divulgações mais recentes.

O comunicado também faz menção aos riscos fiscais que têm pesado sobre o dólar e os ativos brasileiros, e diz que o comitê “segue acompanhando com atenção” os desenvolvimentos. “A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes”, disse o Copom.

Os diretores do BC atualizaram as projeções de inflação no horizonte relevante da política monetária e agora preveem um aumento dos preços de 5,2% em 12 meses ao final de 2025, acima do centro da meta de 3%. Na projeção anterior, em dezembro, a estimativa era de um aumento de 4,5%.

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Já a projeção da inflação no horizonte relevante da política monetária foi mantida. O Copom agora estima que o IPCA deve chegar a 4% em 12 meses ao final do terceiro trimestre de 2026. A projeção anterior, para o segundo trimestre de 2026, era também de 4%.

Ariane Benedito, economista-chefe do PicPay, avalia que a continuidade da pressão inflacionária, deve fazer com que o Copom continue com o aperto monetário além da reunião de março.

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“Consideramos coerente que o Banco Central mantenha o ciclo de altas além dos 2,0 p.p. já previstos, garantindo o alívio inflacionário e a convergência da inflação para a meta. Se as condições avaliadas e o balanço de riscos se deteriorarem ou permanecerem inalterados, nossa projeção final para a taxa de juros ao fim do ciclo continuará em 15%”, disse ela, em comentário a clientes.

Para Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, a decisão do Copom veio em linha com o esperado, considerando que o colegiado já havia indicado que faria mais duas altas da mesma magnitude depois de elevar a Selic em 1 ponto percentual em dezembro.

“Diante desse cenário, com a expectativa de inflação totalmente desacordada, acreditamos que os juros precisam ir para 15,50%, para efetivamente começar a ter impacto na atividade econômica, no mercado de trabalho e, consequentemente, na inflação”, disse Moreira em comentário a clientes.

“O único fator capaz de mudar esse cenário seria realizar ajustes estruturais que possibilitassem o reequilíbrio das contas públicas para frear o crescimento do déficit.”

Quarto aumento desde setembro

O movimento desta quarta-feira é a quarta alta seguida da Selic desde setembro. O Banco Central iniciou um ciclo de aperto monetário para fazer frente às expectativas de inflação cada vez mais elevadas -- quadro que se agravou no fim do ano passado com desvalorização do real.

O dólar (USDBRL) chegou a ser negociado a R$ 6,31 diante das preocupações elevadas com os riscos fiscais no Brasil e as incertezas sobre a economia dos Estados Unidos sob o comando de Donald Trump.

A moeda americana perdeu força desde a posse do presidente americano na semana passada e era negociada na tarde desta quarta-feira por R$ 5,87, antes da decisão do Banco Central.

Diretores do BC

Apesar do enfraquecimento do dólar, economistas avaliam que as pressões inflacionárias devem continuar elevadas diante da resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho, o que contribui para a elevação dos preços.

O IPCA-15 de janeiro, considerado uma prévia da inflação, subiu 0,11% no mês, acima das estimativas de economistas. O aumento foi puxado principalmente pelos grupos de alimentação e bebidas e de transportes. Em 12 meses, o IPCA-15 registrou alta de 4,50% em janeiro.

A variação dos preços tem ficado acima da meta do Banco Central, de 3%. O IPCA encerrou o ano passado com alta de 4,83% em 12 meses, acima do limite de tolerância do BC, de 4,50%.

Economistas consultados pela autoridade monetária esperam que o IPCA deve subir 5,50% em 2025, de acordo com os dados do relatório Focus do último dia 27. Há um mês, as expectativas indicavam um aumento de 4,96%.

Leia o comunicado do Copom na íntegra:

“O ambiente externo permanece desafiador em função, principalmente, da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos, o que suscita mais dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo. A inflação cheia e as medidas subjacentes mantiveram-se acima da meta para a inflação e novamente apresentaram elevação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2025 e 2026 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se de forma relevante e situam-se em 5,5% e 4,2%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o terceiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 4,0% no cenário de referência (Tabela 1).

Persiste uma assimetria altista no balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) impactos sobre o cenário de inflação de uma eventual desaceleração da atividade econômica doméstica mais acentuada do que a projetada; e (ii) um cenário menos inflacionário para economias emergentes decorrente de choques sobre o comércio internacional e sobre as condições financeiras globais.

O Comitê segue acompanhando com atenção como os desenvolvimentos da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o regime fiscal e a sustentabilidade da dívida segue impactando, de forma relevante, os preços de ativos e as expectativas dos agentes.

O cenário mais recente é marcado por desancoragem adicional das expectativas de inflação, elevação das projeções de inflação, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho, o que exige uma política monetária mais contracionista.

O Copom então decidiu elevar a taxa básica de juros em 1,00 ponto percentual, para 13,25% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

Diante da continuidade do cenário adverso para a convergência da inflação, o Comitê antevê, em se confirmando o cenário esperado, um ajuste de mesma magnitude na próxima reunião. Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Gabriel Muricca Galípolo (presidente), Ailton de Aquino Santos, Diogo Abry Guillen, Gilneu Francisco Astolfi Vivan, Izabela Moreira Correa, Nilton José Schneider David, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

Tabela 1

Projeções de inflação no cenário de referência

Variação do IPCA acumulada em quatro trimestres (%)

Índice de preços20253º tri 2026
IPCA5,24,0
IPCA livres5,23,8
IPCA administrados5,24,6

No cenário de referência, a trajetória para a taxa de juros é extraída da pesquisa Focus e a taxa de câmbio parte de R$6,00/US$, evoluindo segundo a paridade do poder de compra (PPC). O preço do petróleo segue aproximadamente a curva futura pelos próximos seis meses e passa a aumentar 2% ao ano posteriormente. Além disso, adota-se a hipótese de bandeira tarifária “verde” em dezembro de 2025. O valor para o câmbio foi obtido pelo procedimento usual.”

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Filipe Serrano

É editor sênior da Bloomberg Línea Brasil e jornalista especializado na cobertura de macroeconomia, negócios, internacional e tecnologia. Foi editor de economia no jornal O Estado de S. Paulo, e editor na Exame e na revista INFO, da Editora Abril. Tem pós-graduação em Relações Internacionais pela FGV-SP, e graduação em Jornalismo pela PUC-SP.