Copom eleva juro em 0,25 ponto, a 10,75% ao ano, e diz que cenário exige cautela

Decisão ocorre no momento em que o Banco Central tem sido pressionado no mercado a dar uma resposta ao aumento das expectativas de inflação no país

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Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu nesta quarta-feira (18) subir a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, no primeiro aumento da taxa de juros de referência desde agosto de 2022. A decisão foi unânime.

O aumento de juros marca uma virada na política monetária no momento em que, nos Estados Unidos, o Federal Reserve inicia uma redução de juros. No Brasil, o Copom interrompeu o ciclo de cortes em maio e manteve a Selic em 10,50% ao ano nas últimas três reuniões diante do aumento das expectativas de inflação.

Em comunicado divulgado nesta quarta-feira (18), o Copom afirmou que o cenário atual “demanda uma política monetária mais contracionista”.

O comitê também afirmou que " entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.

“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, afirma o comunicado.

Sobre as perspectivas para o ritmo dos ajustes da taxa de juros, o Copom afirma que as decisões serão ditadas “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

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A decisão do Copom de aumentar os juros ocorre em um momento de aumento das expectativas de inflação, que têm se mantido acima da meta de 3%.

O Boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira (16) mostra que a maioria dos economistas estimam um IPCA de 4,35% em 2024 e de 3,95% em 2025. No fim de julho, antes da reunião anterior do Copom, as expectativas eram de 4,10% para 2024 e de 3,96% para 2025.

Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo registrou recuo de 0,02%, influenciado peloa queda dos preços da energia e alimentação no domicílio.

O resultado divulgado pelo IBGE no último dia 10 foi um alívio momentâneo com as perspectivas de aumentos de preços depois que a Aneel adotou a bandeira tarifária vermelha 1 para setembro e até o fim do ano.

No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA registra alta de 4,24%, abaixo dos 4,50% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.

Além dos preços, as preocupações com a política de despesas do governo Luiz Inácio Lula da Silva têm feito operadores do mercado financeiro precificarem juros maiores, diante da dificuldade do governo em cortar gastos para atingir a meta de zerar o déficit primário fiscal.

Confira o comunicado na íntegra do Copom:

O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,5% no cenário de referência (Tabela 1).

O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

-- Com informações da Bloomberg News