Copom eleva juro em 0,25 ponto, a 10,75% ao ano, e diz que cenário exige cautela

Decisão ocorre no momento em que o Banco Central tem sido pressionado no mercado a dar uma resposta ao aumento das expectativas de inflação no país

BC protagoniza uno de los ciclos de ajuste monetario más agresivos de la historia (Rodrigo de Oliveira)
18 de Setembro, 2024 | 06:54 PM

Bloomberg Línea — O Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC), decidiu nesta quarta-feira (18) subir a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano, no primeiro aumento da taxa de juros de referência desde agosto de 2022. A decisão foi unânime.

O aumento de juros marca uma virada na política monetária no momento em que, nos Estados Unidos, o Federal Reserve inicia uma redução de juros. No Brasil, o Copom interrompeu o ciclo de cortes em maio e manteve a Selic em 10,50% ao ano nas últimas três reuniões diante do aumento das expectativas de inflação.

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Em comunicado divulgado nesta quarta-feira (18), o Copom afirmou que o cenário atual “demanda uma política monetária mais contracionista”.

O comitê também afirmou que " entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante”.

“Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego”, afirma o comunicado.

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Sobre as perspectivas para o ritmo dos ajustes da taxa de juros, o Copom afirma que as decisões serão ditadas “pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.”

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A decisão do Copom de aumentar os juros ocorre em um momento de aumento das expectativas de inflação, que têm se mantido acima da meta de 3%.

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O Boletim Focus, do Banco Central, divulgado na segunda-feira (16) mostra que a maioria dos economistas estimam um IPCA de 4,35% em 2024 e de 3,95% em 2025. No fim de julho, antes da reunião anterior do Copom, as expectativas eram de 4,10% para 2024 e de 3,96% para 2025.

Em agosto, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo registrou recuo de 0,02%, influenciado peloa queda dos preços da energia e alimentação no domicílio.

O resultado divulgado pelo IBGE no último dia 10 foi um alívio momentâneo com as perspectivas de aumentos de preços depois que a Aneel adotou a bandeira tarifária vermelha 1 para setembro e até o fim do ano.

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No acumulado dos últimos 12 meses, o IPCA registra alta de 4,24%, abaixo dos 4,50% observados nos 12 meses imediatamente anteriores.

Além dos preços, as preocupações com a política de despesas do governo Luiz Inácio Lula da Silva têm feito operadores do mercado financeiro precificarem juros maiores, diante da dificuldade do governo em cortar gastos para atingir a meta de zerar o déficit primário fiscal.

Confira o comunicado na íntegra do Copom:

O ambiente externo permanece desafiador, em função do momento de inflexão do ciclo econômico nos Estados Unidos, o que suscita maiores dúvidas sobre os ritmos da desaceleração, da desinflação e, consequentemente, sobre a postura do Fed. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário externo, também marcado por menor sincronia nos ciclos de política monetária entre os países, segue exigindo cautela por parte de países emergentes.

Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho tem apresentado dinamismo maior do que o esperado, o que levou a uma reavaliação do hiato para o campo positivo. A inflação medida pelo IPCA cheio assim como medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,4% e 4,0%, respectivamente. A projeção de inflação do Copom para o primeiro trimestre de 2026, atual horizonte relevante de política monetária, situa-se em 3,5% no cenário de referência (Tabela 1).

O Comitê avalia que há uma assimetria altista em seu balanço de riscos para os cenários prospectivos para a inflação. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. A percepção dos agentes econômicos sobre o cenário fiscal, junto com outros fatores, tem impactado os preços de ativos e as expectativas dos agentes. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

O cenário, marcado por resiliência na atividade, pressões no mercado de trabalho, hiato do produto positivo, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas, demanda uma política monetária mais contracionista. Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu, por unanimidade, elevar a taxa básica de juros em 0,25 ponto percentual, para 10,75% a.a., e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos.

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

-- Com informações da Bloomberg News