Copom deve manter ritmo de corte da Selic e pode elevar cautela fiscal

Banco Central decide nesta quarta-feira o rumo da taxa Selic; mercado espera 3º corte de 0,50 ponto percentual enquanto aguarda sinalizações futuras

Curva de juros já reflete apostas em uma desaceleração do ritmo na primeira reunião do ano que vem
Por Josue Leonel e Felipe Saturnino
01 de Novembro, 2023 | 08:38 AM

Bloomberg — O mercado espera que o Banco Central reduza a taxa Selic em 0,50 ponto percentual pela 3ª vez seguida nesta quarta-feira (1º), para 12,25%, e mantenha a sinalização sobre cortes futuros, pelo menos para dezembro.

Analistas não descartam, no entanto, um tom mais cauteloso em meio à disparada dos juros com as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o fiscal e diante da pressão recente dos rendimentos dos treasuries dos Estados Unidos.

Na segunda-feira (30), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que haja descompromisso fiscal por parte do presidente Lula — que colocou em dúvida a meta de 2024 em entrevista à imprensa na sexta-feira (27). Haddad também reafirmou o objetivo de zerar o déficit.

As declarações do ministro, no entanto, não convenceram os investidores e os contratos de DI futuro chegaram a disparar mais de 40 pontos.

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Com o movimento, a curva de juros passou a refletir apostas em uma desaceleração do ritmo já na primeira reunião do ano que vem, em janeiro. A precificação é de um corte de 34 pontos, o que indica divisão entre 0,50 ponto percentual e 0,25pp. Para o final do ciclo de flexibilização monetária, a curva voltou a se aproximar de 11%.

Alguns analistas consideram que, diante dos fatos recentes, o BC poderá adotar um tom mais cauteloso com o fiscal.

Os economistas consideram ainda que o BC poderá reconhecer maior risco diante da elevação das taxas dos títulos americanos e da alta do petróleo com o conflito no Oriente Médio. A cautela externa motivou a redução do ritmo de corte de juros do banco central do Chile na semana passada.

Apesar da expectativa de cautela, muitos analistas ainda avaliam que o BC deve manter, no comunicado, o trecho em que aponta a manutenção do ritmo nas “próximas reuniões” — no plural —, sugerindo que o passo continuaria em dezembro.

Haddad também anunciou na segunda a indicação do professor de economia Paulo Picchetti e do servidor de carreira Rodrigo Teixeira para a diretoria do Banco Central.

  

Confira, a seguir, o que projetam economistas e analistas do mercado financeiro:

Alejandro Cuadrado, responsável pela estratégia global de câmbio do BBVA e estrategista de América Latina

  • Cenário base ainda é de corte de 0,50pp, mas na margem há o risco de um Copom mais cauteloso, assim como ocorreu no Chile;
  • Comentários de Lula podem reduzir os incentivos para o Congresso aprovar a agenda fiscal;
  • Haddad deu uma resposta morna que não convenceu os mercados;
  • Expectativas fiscais não ancoradas também podem ter implicações nos juros e afetar o ciclo de flexibilização;

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

  • Declarações recentes de Lula certamente aumentam o risco em torno da postura fiscal, mas o Copom pode optar por não reagir às declarações públicas, aguardando, em vez disso, a meta que será definida na LDO;
  • Alguns diretores estarão mais preocupados com o risco fiscal; maior chance é de essa preocupação ser informada na ata;
  • Guidance deve indicar o mesmo ritmo de flexibilização pelo menos na próxima reunião, de dezembro;
  • Tom deve ser mais cauteloso/conservador dados os desenvolvimentos externos recentes e os riscos associados;

Tatiana Pinheiro, economista da Galapagos

  • Copom não deve retirar o guidance de cortes nas próximas reuniões, mas a fala de Lula sobre meta fiscal deve reforçar a preocupação do BC com o assunto;
  • Preocupação pode ser expressa no comunicado, vindo mais detalhada na ata;
  • Outros fatores domésticos são favoráveis, como inflação e desaceleração da atividade;

Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter

  • No curto prazo, comentário do presidente não altera os próximos passos do Copom, que deve cortar em 0,50pp nesta e nas próximas duas reuniões;
  • No comunicado, o BC pode voltar a incluir o risco fiscal no balanço de riscos ou manter o comentário sobre possíveis impactos de revisão da meta de resultado primário no custo da dívida e consequentemente sua trajetória;

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco

  • BC deve repetir que antevê reduções de mesma magnitude nas próximas reuniões;
  • Mudança na sinalização, desviando do plural para o singular, poderia gerar, neste momento, uma interpretação assimétrica a favor de um corte mais moderado à frente, de 0,25pp;

Caio Megale e economistas da XP

  • BC deve manter sinalização do ritmo; dados sobre inflação e atividade continuam a sugerir espaço para flexibilização;
  • Copom deve acrescentar um comentário sobre riscos globais;
  • Sinalizações recentes sugerem que aumentou a probabilidade de a meta de resultado fiscal ser alterada ainda este ano;

Ana Paula Vescovi e equipe do Santander

  • BC deve continuar sinalizando, unanimemente, sua intenção de cortar em 0,50pp nas próximas reuniões;
  • Expectativas de inflação seguem desancoradas com incerteza fiscal;
  • Porém, o principal desdobramento desde o Copom anterior foi na perspectiva sobre os juros globais;
  • Deterioração externa reduz espaço para juros muito menores no Brasil;

Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco

  • Apesar da volatilidade externa, real tem tido desempenho melhor do que pares;
  • Inflação corrente e a mais ligada ao ciclo (serviços, núcleos) têm surpreendido para baixo; atividade tem desacelerado em resposta à política monetária;

Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics

  • Conflito no Oriente Médio, a escalada dos juros de longo prazo nos EUA e a fala do presidente Lula sobre o fiscal são todos fatores que aumentam o risco para a inflação – e provavelmente levarão o BC a adotar uma linguagem mais cautelosa;
  • Uma possibilidade, ainda que não muito provável, seria que o fator fiscal volte ao balanço de riscos;

Guilherme Foureaux, gestor da Truxt Investimentos

  • BC pode reconhecer nesta quarta-feira a piora fiscal, e a Focus nas próximas semanas pode revisar para cima as expectativas de 2025 e 2026;
  • Reconhecimento da piora pode vir com mudança do guidance de corte das “próximas reuniões” ou citação do fiscal no balanço de riscos;
  • “Dificultou um pouco o trabalho do BC”;
  • Cada dia mais claro que a meta vai ser alterada;

Luis Menon, economista da Garde Asset Management

  • Cenário externo deve receber maior ênfase e, possivelmente, ser adicionado ao balanço de riscos;
  • Não esperamos que nesta reunião o Copom inclua uma percepção de aumento do risco fiscal, uma vez que o governo ainda não adotou medidas concretas para mudar a meta.

--Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro e Raphael Almeida Dos Santos.

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(Atualiza com comentários de duas gestoras no final do texto)

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