Bloomberg — O mercado espera que o Banco Central reduza a taxa Selic em 0,50 ponto percentual pela 3ª vez seguida nesta quarta-feira (1º), para 12,25%, e mantenha a sinalização sobre cortes futuros, pelo menos para dezembro.
Analistas não descartam, no entanto, um tom mais cauteloso em meio à disparada dos juros com as declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre o fiscal e diante da pressão recente dos rendimentos dos treasuries dos Estados Unidos.
Na segunda-feira (30), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negou que haja descompromisso fiscal por parte do presidente Lula — que colocou em dúvida a meta de 2024 em entrevista à imprensa na sexta-feira (27). Haddad também reafirmou o objetivo de zerar o déficit.
As declarações do ministro, no entanto, não convenceram os investidores e os contratos de DI futuro chegaram a disparar mais de 40 pontos.
Com o movimento, a curva de juros passou a refletir apostas em uma desaceleração do ritmo já na primeira reunião do ano que vem, em janeiro. A precificação é de um corte de 34 pontos, o que indica divisão entre 0,50 ponto percentual e 0,25pp. Para o final do ciclo de flexibilização monetária, a curva voltou a se aproximar de 11%.
Alguns analistas consideram que, diante dos fatos recentes, o BC poderá adotar um tom mais cauteloso com o fiscal.
Os economistas consideram ainda que o BC poderá reconhecer maior risco diante da elevação das taxas dos títulos americanos e da alta do petróleo com o conflito no Oriente Médio. A cautela externa motivou a redução do ritmo de corte de juros do banco central do Chile na semana passada.
Apesar da expectativa de cautela, muitos analistas ainda avaliam que o BC deve manter, no comunicado, o trecho em que aponta a manutenção do ritmo nas “próximas reuniões” — no plural —, sugerindo que o passo continuaria em dezembro.
Haddad também anunciou na segunda a indicação do professor de economia Paulo Picchetti e do servidor de carreira Rodrigo Teixeira para a diretoria do Banco Central.
Confira, a seguir, o que projetam economistas e analistas do mercado financeiro:
Alejandro Cuadrado, responsável pela estratégia global de câmbio do BBVA e estrategista de América Latina
- Cenário base ainda é de corte de 0,50pp, mas na margem há o risco de um Copom mais cauteloso, assim como ocorreu no Chile;
- Comentários de Lula podem reduzir os incentivos para o Congresso aprovar a agenda fiscal;
- Haddad deu uma resposta morna que não convenceu os mercados;
- Expectativas fiscais não ancoradas também podem ter implicações nos juros e afetar o ciclo de flexibilização;
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- Declarações recentes de Lula certamente aumentam o risco em torno da postura fiscal, mas o Copom pode optar por não reagir às declarações públicas, aguardando, em vez disso, a meta que será definida na LDO;
- Alguns diretores estarão mais preocupados com o risco fiscal; maior chance é de essa preocupação ser informada na ata;
- Guidance deve indicar o mesmo ritmo de flexibilização pelo menos na próxima reunião, de dezembro;
- Tom deve ser mais cauteloso/conservador dados os desenvolvimentos externos recentes e os riscos associados;
Tatiana Pinheiro, economista da Galapagos
- Copom não deve retirar o guidance de cortes nas próximas reuniões, mas a fala de Lula sobre meta fiscal deve reforçar a preocupação do BC com o assunto;
- Preocupação pode ser expressa no comunicado, vindo mais detalhada na ata;
- Outros fatores domésticos são favoráveis, como inflação e desaceleração da atividade;
Rafaela Vitoria, economista-chefe do Banco Inter
- No curto prazo, comentário do presidente não altera os próximos passos do Copom, que deve cortar em 0,50pp nesta e nas próximas duas reuniões;
- No comunicado, o BC pode voltar a incluir o risco fiscal no balanço de riscos ou manter o comentário sobre possíveis impactos de revisão da meta de resultado primário no custo da dívida e consequentemente sua trajetória;
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú Unibanco
- BC deve repetir que antevê reduções de mesma magnitude nas próximas reuniões;
- Mudança na sinalização, desviando do plural para o singular, poderia gerar, neste momento, uma interpretação assimétrica a favor de um corte mais moderado à frente, de 0,25pp;
Caio Megale e economistas da XP
- BC deve manter sinalização do ritmo; dados sobre inflação e atividade continuam a sugerir espaço para flexibilização;
- Copom deve acrescentar um comentário sobre riscos globais;
- Sinalizações recentes sugerem que aumentou a probabilidade de a meta de resultado fiscal ser alterada ainda este ano;
Ana Paula Vescovi e equipe do Santander
- BC deve continuar sinalizando, unanimemente, sua intenção de cortar em 0,50pp nas próximas reuniões;
- Expectativas de inflação seguem desancoradas com incerteza fiscal;
- Porém, o principal desdobramento desde o Copom anterior foi na perspectiva sobre os juros globais;
- Deterioração externa reduz espaço para juros muito menores no Brasil;
Fernando Honorato, economista-chefe do Bradesco
- Apesar da volatilidade externa, real tem tido desempenho melhor do que pares;
- Inflação corrente e a mais ligada ao ciclo (serviços, núcleos) têm surpreendido para baixo; atividade tem desacelerado em resposta à política monetária;
Adriana Dupita, economista da Bloomberg Economics
- Conflito no Oriente Médio, a escalada dos juros de longo prazo nos EUA e a fala do presidente Lula sobre o fiscal são todos fatores que aumentam o risco para a inflação – e provavelmente levarão o BC a adotar uma linguagem mais cautelosa;
- Uma possibilidade, ainda que não muito provável, seria que o fator fiscal volte ao balanço de riscos;
Guilherme Foureaux, gestor da Truxt Investimentos
- BC pode reconhecer nesta quarta-feira a piora fiscal, e a Focus nas próximas semanas pode revisar para cima as expectativas de 2025 e 2026;
- Reconhecimento da piora pode vir com mudança do guidance de corte das “próximas reuniões” ou citação do fiscal no balanço de riscos;
- “Dificultou um pouco o trabalho do BC”;
- Cada dia mais claro que a meta vai ser alterada;
Luis Menon, economista da Garde Asset Management
- Cenário externo deve receber maior ênfase e, possivelmente, ser adicionado ao balanço de riscos;
- Não esperamos que nesta reunião o Copom inclua uma percepção de aumento do risco fiscal, uma vez que o governo ainda não adotou medidas concretas para mudar a meta.
--Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro e Raphael Almeida Dos Santos.
(Atualiza com comentários de duas gestoras no final do texto)
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