Copom: analistas se dividem sobre tamanho do corte da Selic; confira projeções

Comitê de Política Monetária decide na quarta-feira (2) o rumo da taxa Selic no país; expectativa é de primeiro corte desde agosto de 2020

O Banco Central do Brasil em Brasília
Por Josue Leonel
01 de Agosto, 2023 | 11:53 AM

Bloomberg — O Banco Central deve iniciar um ciclo de alívio monetário nesta quarta-feira (2), com o primeiro corte da Selic desde agosto de 2020. Não há consenso, entretanto, sobre o tamanho do corte.

A curva de juros futuros precifica uma redução de 0,50 ponto percentual, para 13,25% ao ano. Entre os economistas, 29 dos 37 consultados pela Bloomberg esperam corte de apenas 0,25 pp.

A manutenção da meta de inflação em 3% pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) e a queda da inflação corrente, inclusive dos núcleos, e das expectativas são os fatores apontados para justificar uma redução maior do juro.

Já a mensagem de parcimônia transmitida pelo BC no Copom anterior, de 21 de junho, é um dos principais argumentos da ala mais cautelosa do mercado. Segundo economistas, apesar do recuo recente, as expectativas de inflação ainda estão acima da meta.

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A decisão desta semana será a primeira com os novos diretores indicados pelo atual governo: Gabriel Galípolo e Ailton Aquino.

Confira a seguir o que dizem analistas do mercado financeiro:

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú

  • Ata sinalizou início do afrouxamento monetário com parcimônia, com corte de 0,25 pp;
  • Copom deve indicar que conduzirá a política necessária para o cumprimento das metas, avaliando que uma flexibilização gradual é a estratégia adequada;
  • Ciclos anteriores que começaram com cautela foram bem-sucedidos em levar a inflação para perto da meta, possibilitando um equilíbrio final de juros mais baixos por mais tempo;
  • Cortes menos cautelosos podem levar a uma eventual depreciação da moeda e piora nas expectativas de inflação, o que poderia cercear e, no limite, até interromper o processo de desinflação em curso;

Claudio Ferraz, Bruno Balassiano e Bruno Martins, do BTG Pactual

  • BC deve cortar juro em 0,50pp, em razão da melhora dos dados de inflação e da manutenção da meta em 3%;
  • Após meses de incerteza, CMN teve um desdobramento positivo;
  • Mesmo os membros do Copom mais cautelosos devem admitir as notícias favoráveis desde a reunião anterior;

Myriã Bast, superintendente do departamento de pesquisas e estudos econômicos do Bradesco

  • Selic deve ser reduzida em 0,25 pp com dados que permitem o início parcimonioso da flexibilização;
  • Desaceleração da inflação, cenário de expansão do PIB perto de 2% no ano, com desaceleração gradual após 1º trimestre forte, e queda das expectativas de inflação desde confirmação da meta em 3% contribuem para que BC estime IPCA próximo do centro da meta no horizonte relevante;

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

  • Apesar da melhora, expectativas seguem acima da meta, o que provavelmente reflete a perspectiva de que o governo esteja inclinado a acomodar a inflação acima do objetivo e que as mudanças na composição do Copom vão torná-lo mais dovish;
  • No entanto, melhora já verificada nas projeções de inflação e comportamento do câmbio devem dar conforto ao BC para cortar a Selic em ao menos 0,25pp;

Cassiana Fernandez, Vinicius Moreira e Mirella Sampaio, do JPMorgan

  • BC deve cortar a Selic em 0,25pp, com placar dividido, mas diante dos recentes desenvolvimentos a decisão é um “close call” e também pode ser de redução de 0,50pp;
  • Mercado de trabalho, expectativas inflacionárias desancoradas, apertos do Fed e BCE, expectativa de políticas fiscais e parafiscais mais ativas explicam estimativa de corte menor da Selic;
  • Porém, desaceleração da inflação, diante da normalização das cadeias globais e apreciação do real, podem abrir espaço a redução mais agressiva;

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter

  • Com a evolução desde a última reunião, ciclo deve começar com corte de 0,50pp;
  • Melhora no cenário inclui a queda da inflação corrente, bem como redução de expectativas, principalmente nos prazos mais longos, reduzindo boa parte da desancoragem observada desde o início do ano, quando o governo questionou a meta de inflação;

Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil, e equipe macroeconômica do banco

  • Copom deve inaugurar o ciclo de flexibilização com redução de 0,25pp;
  • Ação mais intensa do que o esperado pelos analistas poderia se mostrar contraproducente pela ótica da contenção das expectativas de inflação;
  • Desafios do lado fiscal e elementos que alimentam certa persistência inflacionária fazem com que cenário ainda contemple uma Selic de dois dígitos ao final de 2024;

Caio Megale, Rodolfo Margato e Alexandre Maluf, economistas da XP

  • BC deve iniciar ciclo com corte de 0,25pp;
  • Expectativas de inflação de médio prazo recuaram desde o último Copom, embora se mantenham acima da meta;
  • Comitê sinalizará que o ritmo futuro da flexibilização monetária dependerá dos dados;
  • Na reunião de setembro, ritmo de corte deve acelerar para 0,50pp;

Frederico Catalan, gestor de juros do Opportunity

  • “Desde o último Copom, tivemos queda nas expectativas de inflação, com destaque para 2025 e 2026, uma leitura mais benigna do IPCA com média dos núcleos surpreendendo para baixo e dados de atividade mais fracos”;
  • “Como o Copom já sinalizava na última reunião a possibilidade de cortar 0,25pp, acredito que a evolução dos dados desde a última reunião permita que ele inicie o ciclo com corte de 0,50pp.”

Adriana Dupita, da Bloomberg Economics

“O BC tende a cortar a Selic em 0,50pp, mas, caso opte por uma redução de apenas 0,25pp, o comunicado deve sinalizar uma aceleração posterior de ritmo — via dissenso, através de projeções de inflação consistentes com a meta a um ritmo de cortes maior ou com uma menção explícita a cortes maiores no comunicado.”

Daniel Cunha, estrategista-chefe da BGC Liquidez

“Alteramos nossa estimativa de corte de 0,25pp para 0,50pp após a divulgação do IPCA-15 de julho, que demonstrou um quadro qualitativo bastante benigno, confirmando a desinflação da parte mais resiliente da inflação.”

-- Com a colaboração de Maria Eloisa Capurro e Felipe Saturnino.

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