Copom: economistas e gestores se dividem sobre o que vem após reunião de quarta

Economistas e estrategistas consultados pela Bloomberg avaliam que o BC pode indicar altas inferiores a 100 pontos base ou não apresentar guidance após aumento esperado para 14,25% ao ano

Morgan Stanley rebaja acciones brasileñas por riesgos fiscales.
Por Josue Leonel - Barbara Nascimento - Beatriz Amat
18 de Março, 2025 | 12:36 PM

Bloomberg — O Banco Central deve elevar a Selic para 14,25% ao ano nesta quarta-feira (19), o maior nível desde agosto de 2016, e assim cumprir o guidance de três altas de 1 ponto percentual definido na reunião de dezembro.

Para os próximos encontros, a autoridade monetária deve mudar a sinalização, ao indicar altas de menor magnitude ou deixar a porta aberta para avaliar os dados à frente, segundo analistas.

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Todos os 26 economistas consultados pela Bloomberg, assim como a curva de juros futuros, esperam que o Copom cumpra com o guidance.

Com o movimento definido, as atenções se voltam para o comunicado. Os especialistas avaliam que o documento deve manter um tom de cautela, sem alterar o balanço de riscos assimétrico para alta da inflação.

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Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú, acredita que autoridade deve sinalizar pelo menos um novo ajuste em maio, ainda que de menor magnitude.

Cassiana Fernandez, economista do JPMorgan, avalia que o Copom deve ficar “mais lacônico” sobre decisões futuras, elevando o grau de liberdade e dependência de dados.

Em meio aos sinais de desaceleração da atividade econômica e à queda do dólar desde o Copom anterior, os contratos de juros futuros sinalizam uma desaceleração do ritmo de elevação para 0,50 ponto percentual em maio. Um último aumento, de 0,25 p.p., em junho, levaria a Selic no fim do ciclo de alta para 15%.

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O diretor de Política Econômica, Diogo Guillen, disse em 7 de março que uma moderação do crescimento pode estar começando, enquanto o presidente Gabriel Galípolo afirmou em 12 de fevereiro que o BC caminha para colocar juros em um patamar restritivo com segurança.

O movimento desta semana deve ser a quinta elevação seguida de juros dentro do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem enfrentado queda em suas taxas de aprovação, atribuída sobretudo à alta dos preços dos alimentos.

Apesar do aperto monetário, as expectativas inflacionárias continuam muito acima da meta de inflação, de 3% ao ano. Para este ano, os economistas projetam um IPCA de 5,66%.

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Veja comentários dos analistas:

Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú

  • Banco Central deve sinalizar, pelo menos, um novo ajuste, ainda que de menor magnitude, em maio.
  • Copom deve continuar a descrever balanço de riscos assimétrico para cima, com alguma probabilidade de que ajuste a descrição dos riscos externos.

Cassiana Fernandez, economista do JPMorgan

  • Copom deve ficar “mais lacônico” sobre decisões futuras, elevando o grau de liberdade e dependência de dados.
  • O risco nesse momento é que BC encerre o ciclo de aperto antes do esperado.

Alberto Ramos, economista-chefe para America Latina do Goldman Sachs

  • Devido à alta incerteza doméstica e externa, Copom provavelmente sinalizará que o ciclo de aperto não terminou.
  • Magnitude das altas será dependente de dados, com ciclo total determinado pelo firme compromisso de atingir a meta.

Denis Ferrari, gestor de renda fixa da Kinea

  • Copom dever manter o balanço assimétrico ainda e não vai sinalizar nada para a próxima.
  • “Se ele puser o balanço assimétrico e deixar em aberto, se os dados melhorarem, ele para o aperto. Se os dados se mantiverem como estão e o balanço fica assimétrico, ele dá mais uma. Se os dados piorarem com balanço assimétrico, ele dá mais uma e talvez dê outra em junho”.

Ales Koutny, head de International Rates da Vanguard

  • Comunicado vai continuar indicando subidas futuras da taxa, mas deixará aberto a magnitude.
  • Balanço continua assimétrico para cima, especialmente devido a mudanças fiscais para orçamento 2025.

Myriã Bast, departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco

  • Comunicação irá mudar, com aumento dos graus de liberdade na política monetária.
  • Desaceleração da atividade tem se confirmado, com menor dinamismo no consumo e nos investimentos; sinais iniciais de desaceleração do mercado de trabalho também estão presentes.
  • Queda dos preços de commodities e a valorização cambial devem contribuir para projeções menores de inflação no horizonte relevante.

Solange Srour, diretora de macroeconomia para o Brasil do UBS Global Wealth Management

  • Comunicado deve vir sem guidance, mas tentando adotar tom mais neutro; devem deixar muita coisa “em aberto”; BC ficará ainda mais “data dependent”.
  • Diretores devem dar ênfase à atividade doméstica; importante ver como vão descrever o cenário internacional, apreciação do câmbio.

Álvaro Frasson, estrategista macro do BTG Pactual Portfolio Solutions

  • Como os dados são mistos, BC não deve dar novo guidance, deve ficar “data dependent”, e balanço deve seguir assimétrico.
  • Para mercado entender isso como ‘hawk’, é preciso um discurso muito duro.
  • Principal ponto hawk poderia ser adicionar frase de que medidas recentes do governo enfraquecem política monetária.

Sergio Zanini, sócio e gestor da Galapagos Capital

  • BC deve acabar com guidance explícito, mas deixar aberto para continuar subindo se precisar, e manter balanço assimétrico.

Cristiano Oliveira, diretor de pesquisa econômica do banco Pine

  • Comunicado deverá ressaltar aumento da incerteza global com o início do governo Trump e que os próximos passos são dependentes dos dados, mas que o BC adotará cautela redobrada.

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos

  • BC deverá reforçar o compromisso com o regime de metas de inflação, deixando os próximos passos “data-dependent”, mas podendo trazer alguns sinais de que a taxa deverá permanecer restritiva por tempo suficientemente prolongado.

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