Governo diz que volta a mirar superávit em 2026, mas enfrenta ceticismo do mercado

À medida que o crescimento econômico local desacelera, aumentam as apostas de que Lula gastará mais para estimular a atividade nos meses que antecedem a eleição de 2026

O governo estima que também será capaz de atingir superávits fiscais primários em 2027, 2028 e 2029, com uma meta que alcance 1,25% do PIB no último ano desse período.
Por Martha Beck
16 de Abril, 2025 | 08:53 AM

Bloomberg — O governo brasileiro disse que buscará um superávit orçamentário no ano que vem, o que provavelmente estabelecerá um confronto de expectativas com investidores que estão céticos quanto ao compromisso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a responsabilidade fiscal.

A maior economia da América Latina terá como meta um superávit primário - que exclui o pagamento de juros - de 0,25% do produto interno bruto em 2026, de acordo com o projeto de lei de diretrizes orçamentárias enviado ao Congresso na terça-feira.

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A proposta prevê que o salário mínimo suba para R$ 1.630 (US$ 277) por mês em 2026, dos atuais R$ 1.518.

O governo estima que também será capaz de atingir superávits fiscais primários em 2027, 2028 e 2029, com uma meta que alcance 1,25% do PIB no último ano desse período.

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A dívida pública bruta do país poderá aumentar para 81,8% do PIB no próximo ano e atingir o pico de 84,2% em 2028. Depois disso, ela começará a cair, retornando a um pouco menos de 82% do PIB daqui a uma década, segundo o relatório.

O Brasil reduzirá os gastos sociais em R$ 50,8 bilhões de 2025 a 2029, disse o secretário do Orçamento Federal, Clayton Montes, durante uma coletiva de imprensa em Brasília. “O Brasil precisa continuar seu plano de revisão de gastos”, disse ele.

(Fonte: governo brasileiro via Bloomberg)

Os mercados financeiros estão desconfiados das metas fiscais do Brasil à medida que o crescimento econômico local desacelera, aumentando as perspectivas de que Lula gastará mais para estimular a atividade nos meses que antecedem a eleição presidencial de 2026.

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Sob o comando do presidente, o governo apresentou déficits primários em 2023 e 2024 e permitiu que a dívida como porcentagem do PIB aumentasse. No futuro, as tarifas comerciais dos EUA estão elevando a incerteza globalmente, deixando os investidores ainda mais nervosos.

O que diz a Bloomberg Economics:

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“A piora do cenário global pode levar o governo a recorrer novamente ao estímulo fiscal, como foi feito na crise de 2008. Isso seria perigoso porque, diferentemente de 2008, o espaço fiscal hoje é muito menor, a dívida é muito maior, os gastos são mais rígidos e as taxas de juros são muito altas.”

-Adriana Dupita, economista do Brasil e da Argentina

O governo Lula revelou recentemente uma série de novas medidas destinadas a oferecer benefícios aos eleitores pobres e da classe trabalhadora que compõem sua base. A maior delas foi um plano para isentar do imposto de renda os salários mensais de até R$ 5.000 - uma proposta que provocou uma venda de moeda no final do ano passado.

Como pano de fundo, o banco central do Brasil elevou sua taxa de juros de referência para 14,25%, o nível mais alto desde 2016, tornando o custo do serviço da dívida ainda mais caro.

Os mercados financeiros estão prestando muita atenção. Os analistas pesquisados pelo banco central esperam um déficit primário de 0,7% para 2026 e uma lacuna de 0,6% para 2025, ano em que o governo espera equilibrar o orçamento.

Uma desaceleração mais rápida da atividade econômica nos próximos meses só complicaria ainda mais a situação.

Uma recessão teria "um efeito inicial de redução da receita do governo e, posteriormente, pode levar a mais gastos do governo como forma de impulsionar a atividade econômica", disse Manoel Pires, chefe do Centro de Política Fiscal da Fundação Getulio Vargas, uma universidade local.

-- Com a colaboração de Raphael Almeida Dos Santos.

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