Equipe econômica tenta acalmar investidores diante de pressão por gastos

A preocupação com o quadro fiscal aumentou na semana passada depois que o presidente Lula anunciou plano para aumentar o número de beneficiados pelo programa Vale-Gás

Presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ministro da Fazenda, Fernando Haddad, no Palácio do Planalto
Por Martha Beck
02 de Setembro, 2024 | 10:41 AM

Bloomberg — A equipe econômica busca fazer um controle de danos para garantir ao mercado que o governo cumprirá as regras do arcabouço fiscal em meio a iniciativas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para aumentar os gastos sociais.

Trata-se de uma tentativa de acalmar investidores, que têm manifestado preocupação crescente com as perspectivas fiscais do país, afundando a moeda e precificando vários aumentos das taxas de juros enquanto as projeções de inflação se deterioram.

A preocupação com a área fiscal aumentou na semana passada depois que Lula anunciou um plano para aumentar o número de famílias beneficiadas pelo programa Vale-Gás, que pode chegar a 20 milhões de famílias até 2026.

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O custo do benefício aumentaria de R$ 3,4 bilhões para R$ 5 bilhões em 2025 e atingiria R$ 13,6 bilhões em 2026.

Parte desse auxílio poderia ser tratado como gasto tributário, segundo projeto de lei enviado ao Congresso. Investidores, no entanto, entenderam que isso seria uma forma de contornar o arcabouço, uma vez que o impacto fiscal da medida seria nas receitas e não nas despesas primárias.

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, não participou da discussão e trabalhará para evitar qualquer tentativa de contornar as regras, disse uma pessoa a par do assunto à Bloomberg News.

Sua equipe tentará atuar no Congresso para alterar o projeto de lei para que nenhum gasto fique excluído das regras, disse a pessoa, pedindo anonimato para falar sobre o assunto.

Outra preocupação vem do projeto de lei orçamentária de 2025. A proposta conta com R$ 166,4 bilhões em receitas adicionais para atingir a meta de déficit zero. Parte desses recursos era esperada para 2024, mas não se concretizou.

A receita esperada com um plano de recuperação de dívidas tributárias no Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), por exemplo, era de quase R$ 55 bilhões para 2024 e agora foi reduzida para R$ 28,5 bilhões.

A equipe econômica prevê ainda arrecadar R$ 30 bilhões por meio da negociação de dívidas com as 10 maiores empresas do Brasil, bem como R$ 10 bilhões em concessões que estavam previstas para este ano mas também não aconteceram.

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Embora Lula venha dizendo que atuará com responsabilidade fiscal, ele continua desafiando as preocupações dos investidores com seus planos de gastos.

A preocupação com as políticas de gastos de Lula e com a trajetória futura das taxas de juros ajudou a tornar o real a moeda com pior desempenho nos mercados emergentes este ano - o dólar sobe mais de 14% frente à divisa local em 2024.

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