Austin Rating vê melhora do ambiente fiscal e eleva Brasil para perspectiva positiva

Agência de classificação de risco brasileira indica que o arcabouço fiscal e o crescimento mais forte do PIB melhoraram o ambiente econômico; mudança ocorre em meio a revisões da Fitch e da S&P

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Bloomberg Línea — A melhora do ambiente fiscal e a perspectiva de crescimento da atividade acima do esperado contribuem para um ambiente econômico mais favorável ao Brasil na visão da Austin Rating.

Com isso, a agência de classificação de risco brasileira decidiu elevar a nota de crédito em moeda local do Brasil para perspectiva positiva, mantendo o rating em BB+, um nível abaixo do grau de investimento na escala da empresa. Já a nota de crédito em moeda estrangeira foi mantida com perspectiva estável, na mesma nota de crédito (BB+), em decisão antecipada à Bloomberg Línea.

Para Alex Agostini, economista-chefe da empresa, a melhora do ambiente no Brasil foi uma construção gradual desde a aprovação de legislações importantes no país, como a reforma da Previdência, em 2019, mas alguns fatores recentes foram determinantes para a mudança para a perspectiva positiva.

Entre eles, segundo o economista, estão a aprovação do novo arcabouço fiscal, um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) acima do esperado anteriormente e a política monetária do Banco Central, de Roberto Campos Neto,, que teve sucesso em controlar a inflação.

Enquanto a aprovação do novo arcabouço fiscal limita o crescimento das despesas e da dívida pública, a surpresa positiva do crescimento mais forte do PIB, bem como o início de um ciclo de cortes de juros à frente, permitem ao Brasil atingir um maior equilíbrio fiscal.

“A despesa pública vai subir um pouco, mas não vai disparar. E, com o PIB revisado para cima, é possível ter um crescimento da arrecadação também. Uma coisa neutraliza a outra, ainda que haja aumento dos gastos públicos”, afirmou Agostini em entrevista.

O economista cita ainda outros fatores condicionantes que podem contribuir para melhorar as condições econômicas do país à frente, como a melhoria da confiança dos empresários e dos consumidores, a queda do dólar e da inflação, e os programas de estímulo adotados pelo governo – voltados para a compra de automóveis, para o apoio à indústria e para limpar o nome de consumidores inadimplentes.

“Todos esses outros indicadores que orbitam a economia estão indo para o lado positivo”, disse.

Revisão das agências internacionais

A mudança da Austin ocorre no momento em que outras agências de classificação de risco também passaram a indicar uma melhora do ambiente econômico do país. Nesta semana, a Fitch Ratings elevou a nota de crédito soberano do Brasil de BB- para BB, com perspectiva estável. Antes disso, em junho, a S&P Global alterou a perspectiva do rating do Brasil para positiva, sinalizando que poderia elevar a nota de crédito à frente.

O cenário mais favorável tem contribuído para uma valorização dos ativos brasileiros. O dólar tem operado na última semana na casa de R$ 4,70, e o Ibovespa (IBOV) acumula alta de cerca de 9% no ano até o pregão de quinta-feira (27).

Na visão de Agostini, da Austin, os próximos 12 meses devem indicar se o Brasil será capaz de consolidar a melhora fiscal, à medida em que as reformas e programas adotados pelo governo forem colocados em prática. “A máquina precisa entrar na pista e começar a funcionar”, disse.

A partir desses resultados, será possível avaliar uma nova mudança para cima da nota de crédito do país.

Um ponto de atenção, no entanto, continua sendo o ambiente internacional. Ainda que o risco de recessão nos Estados Unidos esteja se dissipando, o patamar elevado dos juros nos países centrais, bem como as incertezas que rondam a economia da China, podem dificultar a expansão da atividade econômica no Brasil.

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