Ata do Copom deixa em aberto novos aumentos dos juros a depender do cenário

Diretores do BC afirmaram que o ritmo e a magnitude dos ajustes na Selic dependerão da convergência da à meta e do comportamento da inflação, das projeções econômicas e dos riscos observados

Sede do Banco Central em Brasília: ata do Copom expõe preocupação com a questão da convergência da inflação à meta
24 de Setembro, 2024 | 09:13 AM

Bloomberg Línea — O Banco Central divulgou nesta terça-feira (24) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu por unanimidade na semana passada aumentar a Selic em 0,25 ponto percentual, para 10,75% ao ano.

Na ata, os diretores do BC afirmaram que “o ritmo e a magnitude dos ajustes na Selic” [...] “serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta” [...] e “dependerão do comportamento da inflação [...], das projeções econômicas e dos riscos observados”, o que sinaliza uma postura de cautela.

O Copom destacou a resiliência da atividade econômica e do mercado de trabalho no Brasil, que apresentou “dinamismo maior do que o esperado”. O BC salienta que a inflação no Brasil continua acima da meta, com as projeções para 2024 e 2025 em 4,3% e 3,7%, respectivamente.

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Além disso, os economistas apontam que o mercado de trabalho tem registrado ganhos reais de salário, porém sem evidências claras de aumento na produtividade. A preocupação do Copom, agora, tem a ver com pressões inflacionárias futuras por causa de aumentos salariais, que, se persistirem, podem impactar os preços.

Os fatores de risco de alta da inflação citados foram (i) uma desancoragem das expectativas por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.

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“O ritmo de ajustes futuros na taxa de juros e a magnitude total do ciclo ora iniciado serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerão da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, disseram os membros do Copom.

No cenário externo, o Copom observou que a economia dos EUA está em um ponto de inflexão, o que gerando incertezas sobre o ritmo de desaceleração econômica e de desinflação, levando dúvidas sobre a postura do Federal Reserve (Fed), que, na semana passada, optou por cortar a taxa de juros do país em 0,50 ponto percentual.

A desaceleração da economia da China também preocupa o Banco Central brasileiro, em especial com as variações nos preços das commodities, que afetam diretamente o Brasil.

“Reforçou-se, ademais, que um cenário de maior incerteza global e de movimentos cambiais mais abruptos exige maior cautela na condução da política monetária doméstica”, avaliou o Copom.

Tamires Vitorio

Jornalista formada pela FAPCOM, com experiência em mercados, economia, negócios e tecnologia. Foi repórter da EXAME e CNN e editora no Money Times.