O Banco Central divulgou na manhã desta terça-feira (4) a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que decidiu por unanimidade elevar a taxa Selic para 13,25% ao ano.
Na ata, os diretores do BC destacaram que a inflação de curto prazo, uma moeda mais fraca e a resiliência econômica “ainda exigem” taxas mais restritivas.
Para março de 2025, a perspectiva segue sendo de que a taxa Selic fique em 14,25% ao ano.
”Além da próxima reunião, a magnitude total do ciclo de aperto será determinada pelo compromisso firme de atingir a meta de inflação”, acrescentaram.
Os diretores do BC, liderados por Gabriel Galipolo, buscam reduzir a inflação anual que, no início de janeiro, estava em 4,5%, o topo da faixa de tolerância.
Os alimentos estão rapidamente se tornando mais caros e os preços dos serviços estão se mostrando resistentes aos custos mais altos dos empréstimos. Para complicar ainda mais a situação, a demanda interna segue impulsionada pelo baixo desemprego e pelos gastos persistentes do governo.
A inflação de curto prazo é "adversa" devido a fatores que incluem preços mais altos da carne e custos de produtos industriais que estão sob pressão de um real depreciado, escreveram eles.
O que diz Adriana Dupita, economista do Brasil e da Argentina da Bloomberg Economics:
A ata da reunião hawkish do Banco Central do Brasil sinalizou que os formuladores de políticas permanecem cautelosos em relação às perspectivas de inflação e não se esquivarão de aumentar o aperto, se necessário. Mudanças recentes na diretoria e uma mudança nos riscos de inflação negativa na reunião de janeiro levantaram preocupações de uma tendência mais dovish, de modo que esse compromisso estará em foco - interromper os aumentos antes de uma melhora significativa nas expectativas de inflação poderia prejudicar a credibilidade do BCB.
"As atas foram mais severas. Há uma mudança na redação que justifica um choque nas taxas", disse Marianna Costa, economista-chefe da Mirae Asset. "Eles mostraram claramente que há uma pressão inflacionária que exige uma política restritiva."
Sinais de desaceleração
Os diretores do BC também destacaram que há “sinais iniciais” de uma desaceleração econômica alinhada com os custos mais altos dos empréstimos.
Ainda assim, os membros do conselho advertiram que erros de previsão foram cometidos no passado, quando a atividade posteriormente mostrou “notável resiliência”. Um mercado de trabalho “aquecido” torna mais difícil avaliar se a demanda ou a oferta devem ser mais fracas quando a economia esfriar.
"Eles destacaram a perspectiva desafiadora - com a atividade doméstica ainda quente e dinâmica - para tentar ancorar as expectativas de inflação", disse Mirella Hirakawa, coordenadora de pesquisa do Buysidebrazil.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva continua a aumentar os gastos e promete incentivos fiscais para os trabalhadores de baixa renda. Além disso, o plano mais recente de sua equipe econômica para reforçar os cofres públicos foi diluído pelo Congresso no ano passado.
Nesse cenário, os diretores do BC destacaram a necessidade de políticas fiscais e monetárias “harmoniosas”.
Eles também alertaram sobre os impactos do aumento do crédito subsidiado e das “incertezas” sobre a trajetória da dívida do país, o que provocou uma liquidação no final do ano passado que enfraqueceu o real em mais de 20%.
Problemas comerciais
As condições financeiras globais estão se tornando mais restritivas, enquanto as políticas comerciais permanecem incertas, escreveram.
Nesta semana, o presidente dos EUA, Donald Trump, suspendeu a decisão de impor tarifas de 25% sobre as importações do México e do Canadá.
Os membros do conselho do Brasil veem riscos de uma desaceleração "mais forte do que o esperado" na atividade econômica doméstica, o que poderia aliviar as pressões sobre os preços "ao longo do tempo".
“A política comercial e as condições financeiras prevalecentes nos EUA, com impactos incertos sobre a condução da política monetária naquele país e sobre o crescimento global, também introduzem riscos para a inflação doméstica, tanto para cima, como relatado anteriormente, quanto para baixo, já que o cenário base agora incorporado aos preços pode não se materializar”.
Os analistas elevaram suas estimativas de para o final do ano de 2025 por 16 semanas consecutivas, para 5,51%. Eles também apostam que os aumentos de preços ao consumidor permanecerão acima da meta de 3% até 2028.
--Com a ajuda de Raphael Almeida Dos Santos.
Veja mais em bloomberg.com
©2025 Bloomberg L.P.