Bloomberg Línea — O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil ficou estável no quarto trimestre de 2023 - o segundo trimestre seguido sem aumento -, enquanto o país teve crescimento de 2,9% no ano completo de 2023.
Para economistas de bancos, corretoras e gestoras, isso significa que, apesar do resultado acima das expectativas iniciais, é importante manter a cautela sobre a sustentabilidade do crescimento. O efeito dos juros ainda elevados pesam contra a atividade, ainda que, por outro lado, o ciclo em andamento de relaxamento monetário deve contar cada vez mais a favor do avanço do PIB.
Confira a opinião de dez economistas do mercado financeiro sobre o tema:
Alberto Ramos, head de pesquisas para LatAm do Goldman Sachs
“Daqui para frente, esperamos que a atividade continue a se beneficiar do significativo estímulo fiscal (transferências fiscais federais para famílias de baixa renda com alta propensão ao consumo), da inversão do ciclo de crédito e do sólido crescimento real do rendimento disponível das famílias, mitigado pelas condições monetárias domésticas restritas, níveis ainda altos de endividamento das famílias e baixos níveis de folga econômica (taxa de desemprego na NAIRU - que não acelera a inflação).”
Mario Mesquita, economista-chefe do Itaú
“O resultado ficou próximo das nossas expectativas, com alguma desaceleração no setor de serviços e uma contribuição negativa do setor agrícola. Apesar da surpresa negativa do consumo no último trimestre de 2023, esperamos alguma recuperação nos primeiros meses deste ano, impulsionada pelo aumento da renda (resiliência do mercado de trabalho e aumento do salário mínimo). Estimamos crescimento do PIB em 2024 de 1,8%, por ora, mas continuamos a ver um viés de alta para nossa estimativa.”
Felipe Salto, economista-chefe da Warren Investimentos
“Entendo que a redução dos juros criou um pano de fundo instigante ao investimento, o que deve aparecer com maior força em 2024. Se o governo mantiver a linha da política fiscal, determinada pelo ministro Fernando Haddad, 2024 poderá até apresentar crescimento econômico um pouco menor que o do ano anterior, mas com uma composição muito boa.”
“A indústria deve ser recuperar, ou seja, nas esteiras da alta do consumo e do investimento. O momento é de otimismo, mas é sempre bom manter cautela, sobretudo com tantas pressões por gastos novos, que precisarão ser neutralizadas.“
Claudia Moreno, economista do C6 Bank
“Apesar da desaceleração no segundo semestre de 2023, acreditamos que a economia voltará a crescer em 2024. A Selic em trajetória de queda, a manutenção do mercado de trabalho aquecido e os estímulos fiscais por parte do governo federal devem ser os principais responsáveis pelo crescimento da economia. Para 2024, projetamos taxa Selic de 9,25% ao ano e PIB de 1,5%, estimativa que devemos rever para algo próximo de 2%.”
Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master
“Na ponta, o dado não é tão bom. No quarto trimestre, o crescimento foi de zero, ou seja, a economia estagnou. Há uma desaceleração quando se olha a economia no primeiro, no segundo, no terceiro e no quarto trimestres. Isso é efeito de um juro muito elevado. O Brasil, aliás, conseguiu crescer 2,9% com uma Selic a quase 14% [ao ano] no pico. Para este ano, a perspectiva é muito melhor com a Selic caindo abaixo de 10%.”
“O grande desafio para o Brasil é retomar o investimento, que caiu para uma mínima de quase 20 anos - formação bruta de capital fixa foi a 16% do PIB, que é muito baixo. Chegou a 22%, 23%, lá em 2014, 2015. É mais um sinal de que o juro precisa cair, porque a economia está desacelerando na ponta.”
Rodolfo Margato, economista do time de Macro da XP
“Nossa projeção para o crescimento do PIB de 2024 – atualmente em 1,5% – tem viés altista. A forte expansão da renda real disponível às famílias, a melhoria gradual nas condições do mercado de crédito e as exportações nas máximas históricas sustentam nossa visão mais otimista para a atividade doméstica de curto prazo.”
“A recuperação dos setores cíclicos deve ser uma boa notícia para este ano. Por ora, estimamos que o PIB crescerá 0,6% no primeiro trimestre de 2024 ante o quarto trimestre de 2023 (2,2% ante o primeiro trimestre de 2023). Para 2024, o crescimento do PIB deve ficar próximo a 2%.”
Luca Mercadante, economista da Rio Bravo
“O resultado do PIB do último trimestre de 2023 confirmou o cenário de desaceleração esperado para o último trimestre. Mesmo assim, ainda há sinais de resiliência para a economia brasileira. O setor de serviços e a indústria tiveram resultados positivos, para o último trimestre, enquanto o setor agro foi consideravelmente pior do que o esperado.”
“O cenário permite acreditar em certa resiliência para 2024. O PIB do quarto trimestre deixa um carrego de 0,2% para este ano, e o prognóstico para o consumo das famílias e para o setor externo, que foram ligeiramente piores no último trimestreé positivo, com recuperação dos rendimentos reais e com exportações marcando altas históricas no começo do ano. Assim, mantemos nossa projeção de crescimento de 1,5% para 2024 e admitimos um viés positivo para o número.”
Gino Olivares, economista-chefe da Azimut Brasil Wealth
“A grande surpresa do crescimento de 2023 foi o desempenho do setor agropecuário. Assim, a afirmação correta é que os economistas têm de fato enormes dificuldades para prever o crescimento do setor agropecuário.”
“Sobre a mudança de patamar de crescimento, isso pode até ser verdade; mas a própria composição do crescimento, e principalmente a sua distribuição ao longo do ano, sugere que precisaríamos de um período mais longo para sermos convencidos de que a taxa de crescimento da economia brasileira mudou de patamar.”
Matheus Spiess, economista e analista da Empiricus Research
“As perspectivas para 2024 são positivas, com projeções indicando um crescimento entre 2% e 2,5%. O Brasil está entre os destaques globais, mostrando uma recuperação significativa após uma década de desafios econômicos. A expectativa é que a queda nas taxas de juros impulsione ainda mais a economia, estimulando os investimentos e os resultados corporativos.”
“É fundamental retomar os investimentos para impulsionar o desenvolvimento econômico, considerando que o país está enfrentando um dos níveis mais baixos de formação bruta de capital fixo em quase duas décadas.”
Time de research da Guide Investimentos
“Não alteramos a nossa perspectiva de PIB menor em 2024, que deve dar sequência à retomada do investimento (FBCF) e da indústria na medida em que o BC segue reduzindo os juros, mas ao mesmo tempo deve registrar um resultado mais fraco para o consumo e o setor externo, na falta das condições excepcionalmente favoráveis para serviços e agropecuária que se fizeram presentes no primeiro semestre de 2023.”
“Ainda assim, com exceção das exportações líquidas, esperamos crescimento de todos os componentes pelo lado da demanda no ano, de modo que o PIB cresça 1,3% no acumulado dos quatro trimestres deste ano.”
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