Bloomberg — O Banco Central alterou a sinalização sobre os próximos passos e decidiu antecipar um novo corte de 0,50 ponto percentual apenas para a “próxima reunião”, no singular.
A expressão no plural era interpretada como uma indicação de cortes para pelo menos dois encontros à frente, mas boa parte do mercado já esperava o novo guidance, visto como mais hawkish (isto é, favorável a juros mais altos).
A mudança decorre da “elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária”, diz o BC. “As conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela”, segundo o documento.
A magnitude total do ciclo dependerá da dinâmica inflacionária, das expectativas, das projeções e do hiato do produto, de acordo com o Copom.
O Comitê disse que as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.
Confira o que dizem analistas do mercado financeiro sobre a decisão de juros:
Ana Paula Vescovi, Santander Brasil
- Comitê sublinhou que uma elevada incerteza doméstica e internacional pede maior flexibilidade;
- Apesar da mudança de comunicação, o Santander continua projetando uma taxa Selic de 8,50% em 2024;
Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas
- Comunicado assumiu tom hawkish e fugiu do cenário do banco que previa a manutenção do “plural”;
- Para o BNP, não muda o call de Selic 2024 em 9%, mas a depender da ata e do que vier no relatório trimestral de inflação (RTI), pode ser que o caminho dos cortes seja alterado;
Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter
- Copom deixa em aberto os próximos passos considerando que existe mais incerteza no cenário;
- Incerteza principal vem do fiscal, que não é citado no balanço de risco; a inflação pode não desacelerar por causa da politica fiscal ainda expansionista;
Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena
- Comunicado um pouco mais duro, ao alterar a frase para o singular e apontar o aumento da incerteza das conjunturas doméstica e internacional;
- Mercado de juros deve abrir com uma trajetória de “bear flattening”, supondo ausência de impacto do cenário externo;
Elisa Machado, economista-chefe da ARX Investimentos:
- “Mesmo com mudanças mínimas na qualificação do cenário prospectivo para a inflação, os membros do Copom parecem incomodados com o nível das medidas subjacentes de inflação e com a incerteza do cenário”;
Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco
- “BC se desamarrou” com mudança no guidance para navegar uma conjuntura mais incerta no âmbito internacional e doméstico ressaltada no comunicado;
- Copom “conseguiu razoavelmente desvincular o movimento das próximas reuniões da taxa terminal”;
- “Não acho que a sinalização implica mudança na taxa terminal ou ritmo”, diz.
Guilherme Abbud, diretor de investimentos da Persevera
- “Não acho que o objetivo seja sinalizar redução do ciclo de cortes, mas meio que voltar ao normal. O normal da política monetária é não precisar da muleta do ‘forward guidance’”;
- Tendência é a curva ficar um pouco pressionada, “mas não acho que será terrível”;
Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs
- “O Copom vai desligar o piloto automático”;
- BC entregou o que já havia sinalizado, mas mudou o forward guidance devido a uma incerteza mais elevada e à necessidade de maior flexibilidade no manejo da política monetária;
- “Além do sinal de outro corte de 0,50pp em maio, o Copom preparou o mercado para uma calibragem mais dependente de dados e aberta nos próximos movimentos da política monetária”;
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital
- “O comunicado foi hawkish, nós esperávamos uma manutenção do “plural”. O comunicado justificou isso pelo aumento de incertezas e consequente necessidade de maior condução na política monetária”;
- A curva curta deve mostrar algum impacto mais para cima por conta de um comunicado mais hawk, “mas não vejo um impacto significativo na curva longa”;
Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos
- Mudança não necessariamente significa redução de ritmo, mas o BC tem obviamente menos certeza de dois cortes de 0,50pp para frente do que tinha antes;
- XP tem viés de alta em projeção de 9% da Selic por conjuntura;
- Hoje é mais provável uma Selic entre 9% e 9,5% do que entre 8,5% e 9%;
Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset
- BC foi bem mais hawkish e um corte de 0,25pp ganha mais força;
- “Juro curto deve subir, curva deve achatar”;
Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1
- “Diante do risco de a inflação de serviços ficar mais elevada por mais tempo e dificultar a convergência da inflação à meta de 3%, é natural que o comitê queira ter mais flexibilidade para reagir a eventuais mudanças no seu cenário base”;
Leonardo Costa, economista da Asa Investments
- Primeira leitura indica comunicado hawk;
- Seguimos com a aposta de continuidade do ciclo com cortes de 0,50pp, com taxa terminal de 8,5%;
- “Vamos esperar a ata para fazer eventuais alterações, mas o risco hoje está para uma terminal mais elevada que a nossa projeção atual”;
Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital
- Única mudança no comunicado foi a dos termos para o singular; não trouxe nada de novo em termos de interpretação do BC em relação à conjuntura;
- Tirar o trecho sobre próximas reuniões não significa que eles irão retirar este ritmo, significa que o BC agora tem menos espaço para fazer ajustes e não pode se comprometer com mais três reduções;
Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa:
- “Avaliamos que o sinal é hawkish, tanto para o ritmo de cortes quanto para a taxa final do ciclo baixista”;
- “Outro aspecto hawkish foi a mudança na avaliação sobre as inflações subjacentes, classificadas agora como acima da meta”;
-- Com a colaboração de Guilherme Bento, Raphael Almeida Dos Santos e Felipe Saturnino.
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