Após Copom ‘hawkish’, o que esperar para os juros: a visão de 15 economistas

O Comitê de Política Monetária do Banco Central cortou a Selic em 0,50 pp e mudou seu forward guidance, visto como mais hawkish

Banco Central do Brasil
Por Barbara Nascimento e Josue Leonel
21 de Março, 2024 | 10:25 AM

Bloomberg — O Banco Central alterou a sinalização sobre os próximos passos e decidiu antecipar um novo corte de 0,50 ponto percentual apenas para a “próxima reunião”, no singular.

A expressão no plural era interpretada como uma indicação de cortes para pelo menos dois encontros à frente, mas boa parte do mercado já esperava o novo guidance, visto como mais hawkish (isto é, favorável a juros mais altos).

A mudança decorre da “elevação da incerteza e da consequente necessidade de maior flexibilidade na condução da política monetária”, diz o BC. “As conjunturas doméstica e internacional estão mais incertas, exigindo cautela”, segundo o documento.

A magnitude total do ciclo dependerá da dinâmica inflacionária, das expectativas, das projeções e do hiato do produto, de acordo com o Copom.

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O Comitê disse que as medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes.

Confira o que dizem analistas do mercado financeiro sobre a decisão de juros:

Ana Paula Vescovi, Santander Brasil

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  • Comitê sublinhou que uma elevada incerteza doméstica e internacional pede maior flexibilidade;
  • Apesar da mudança de comunicação, o Santander continua projetando uma taxa Selic de 8,50% em 2024;

Laiz Carvalho, economista para Brasil do BNP Paribas

  • Comunicado assumiu tom hawkish e fugiu do cenário do banco que previa a manutenção do “plural”;
  • Para o BNP, não muda o call de Selic 2024 em 9%, mas a depender da ata e do que vier no relatório trimestral de inflação (RTI), pode ser que o caminho dos cortes seja alterado;

Rafaela Vitória, economista-chefe do Inter

  • Copom deixa em aberto os próximos passos considerando que existe mais incerteza no cenário;
  • Incerteza principal vem do fiscal, que não é citado no balanço de risco; a inflação pode não desacelerar por causa da politica fiscal ainda expansionista;

Sérgio Goldenstein, estrategista-chefe da Warren Rena

  • Comunicado um pouco mais duro, ao alterar a frase para o singular e apontar o aumento da incerteza das conjunturas doméstica e internacional;
  • Mercado de juros deve abrir com uma trajetória de “bear flattening”, supondo ausência de impacto do cenário externo;

Elisa Machado, economista-chefe da ARX Investimentos:

  • “Mesmo com mudanças mínimas na qualificação do cenário prospectivo para a inflação, os membros do Copom parecem incomodados com o nível das medidas subjacentes de inflação e com a incerteza do cenário”;

Fernando Gonçalves, superintendente de pesquisa macroeconômica do Itaú Unibanco

  • “BC se desamarrou” com mudança no guidance para navegar uma conjuntura mais incerta no âmbito internacional e doméstico ressaltada no comunicado;
  • Copom “conseguiu razoavelmente desvincular o movimento das próximas reuniões da taxa terminal”;
  • “Não acho que a sinalização implica mudança na taxa terminal ou ritmo”, diz.

Guilherme Abbud, diretor de investimentos da Persevera

  • “Não acho que o objetivo seja sinalizar redução do ciclo de cortes, mas meio que voltar ao normal. O normal da política monetária é não precisar da muleta do ‘forward guidance’”;
  • Tendência é a curva ficar um pouco pressionada, “mas não acho que será terrível”;

Alberto Ramos, economista-chefe para América Latina do Goldman Sachs

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  • “O Copom vai desligar o piloto automático”;
  • BC entregou o que já havia sinalizado, mas mudou o forward guidance devido a uma incerteza mais elevada e à necessidade de maior flexibilidade no manejo da política monetária;
  • “Além do sinal de outro corte de 0,50pp em maio, o Copom preparou o mercado para uma calibragem mais dependente de dados e aberta nos próximos movimentos da política monetária”;

Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital

  • “O comunicado foi hawkish, nós esperávamos uma manutenção do “plural”. O comunicado justificou isso pelo aumento de incertezas e consequente necessidade de maior condução na política monetária”;
  • A curva curta deve mostrar algum impacto mais para cima por conta de um comunicado mais hawk, “mas não vejo um impacto significativo na curva longa”;

Caio Megale, economista-chefe da XP Investimentos

  • Mudança não necessariamente significa redução de ritmo, mas o BC tem obviamente menos certeza de dois cortes de 0,50pp para frente do que tinha antes;
  • XP tem viés de alta em projeção de 9% da Selic por conjuntura;
  • Hoje é mais provável uma Selic entre 9% e 9,5% do que entre 8,5% e 9%;

Gustavo Okuyama, gestor de renda fixa da Porto Asset

  • BC foi bem mais hawkish e um corte de 0,25pp ganha mais força;
  • “Juro curto deve subir, curva deve achatar”;

Luis Cezario, economista-chefe da Asset 1

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  • “Diante do risco de a inflação de serviços ficar mais elevada por mais tempo e dificultar a convergência da inflação à meta de 3%, é natural que o comitê queira ter mais flexibilidade para reagir a eventuais mudanças no seu cenário base”;

Leonardo Costa, economista da Asa Investments

  • Primeira leitura indica comunicado hawk;
  • Seguimos com a aposta de continuidade do ciclo com cortes de 0,50pp, com taxa terminal de 8,5%;
  • “Vamos esperar a ata para fazer eventuais alterações, mas o risco hoje está para uma terminal mais elevada que a nossa projeção atual”;

Carla Argenta, economista-chefe da CM Capital

  • Única mudança no comunicado foi a dos termos para o singular; não trouxe nada de novo em termos de interpretação do BC em relação à conjuntura;
  • Tirar o trecho sobre próximas reuniões não significa que eles irão retirar este ritmo, significa que o BC agora tem menos espaço para fazer ajustes e não pode se comprometer com mais três reduções;

Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa:

  • “Avaliamos que o sinal é hawkish, tanto para o ritmo de cortes quanto para a taxa final do ciclo baixista”;
  • “Outro aspecto hawkish foi a mudança na avaliação sobre as inflações subjacentes, classificadas agora como acima da meta”;

-- Com a colaboração de Guilherme Bento, Raphael Almeida Dos Santos e Felipe Saturnino.

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