Bloomberg Línea — Investidores do agronegócio e produtores brasileiros se preparam para um novo cenário com a volta de Donald Trump à Casa Branca, no momento em que o mercado já enfrenta um período de preços de commodities mais baixos e custos de insumos elevados.
Por um lado, a possibilidade de o republicano aplicar novas tarifas de importação contra a China poderia fortalecer a demanda pela soja brasileira. Por outro, um dólar mais valorizado encareceria os insumos e os custos balizados na moeda americana.
“Depois do Brasil, os Estados Unidos são o segundo maior país exportador de soja e o segundo maior fornecedor para a China. Então, naturalmente, quando cai a demanda pelo produto americano, tende a subir a procura pela soja brasileira”, disse Luiz Fernando Gutierrez Roque, analista da consultoria Safras & Mercado, em entrevista à Bloomberg Línea.
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No primeiro mandato de Trump, a China reduziu as compras da soja americana em resposta às tarifas aplicadas pelo então presidente, o que favoreceu os produtores brasileiros.
Uma eventual nova escalada da guerra comercial no segundo mandato de Trump, no entanto, ocorreria em um cenário bastante diferente de 2018.
Naquele período, o equilíbrio entre oferta e demanda no mundo era muito mais apertado. De lá para cá, a oferta global da oleaginosa cresceu, mas a demanda estacionou.
A situação tem contribuído para deixar os preços futuros da oleaginosa na bolsa de Chicago muito abaixo dos US$ 13 e US$ 15 o bushel que ela chegou a ser negociada durante a guerra comercial, em 2018.
Na quarta-feira, os contratos da oleaginosa para janeiro, avançaram 0,20%, para US$ 10,0375 o bushel, impulsionados pela volta do republicano à Casa Branca.
Os papeis do milho para dezembro também acompanharam o movimento e terminaram o dia com alta de 1,85%, para US$ 4,2525 o bushel.
Apesar de um possível aumento da demanda pela soja brasileira, o momento em relação aos preços ainda é incerto com a produção brasileira batendo recordes.
Na safra atual 2023/24, o Brasil pode colher até 152,3 milhões de toneladas. Enquanto isso, o balanço global, com a produção dos EUA, Argentina, Paraguai, entre outros, somou 395,6 milhões de toneladas, segundo dados do Departamento de Agricultura dos EUA (USDA).
Para o próximo ciclo de 2024/25, a expectativa é de uma safra recorde brasileira de 171,8 milhões de toneladas. O balanço global, que pode contar com estoques de passagens bastante confortáveis, pode chegar a 436 milhões de toneladas, segundo previsão do USDA.
Em 2018, durante a intensificação da disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, os preços da oleaginosa em Chicago recuaram em um primeiro momento, mas depois subiram apoiados pelo maior apetite chinês pela soja brasileira.
“O Brasil exportou tudo o que podia, e os prêmios foram lá em cima. Entraram mais divisas e o PIB brasileiro foi beneficiado”, disse Roque, da Safras & Mercado.
“Então, existem dois lados. O mercado pode perder no primeiro momento com relação a preço, e ganhar mais tarde com o aumento da demanda e a recuperação dos preços à frente [no mercado interno e global].”
Uma boa estratégia para os produtores rurais, neste momento em que o dólar está valorizado é tentar fixar os valores da próxima safra. O chamado barter é uma operação na qual o produtor rural adquire insumos e o pagamento pode ser feito, em partes ou em sua totalidade, com a produção agrícola.
“Quando é que o produtor vendeu soja com dólar perto de R$ 6? Nunca. Então, ele tem que aproveitar. Não pode esperar o R$ 6,50 agora. Agora é a hora de vender e de avançar com a venda antecipada de sua produção para diminuir a sua exposição”, disse Roque.
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