Reviravolta no campo: calor e tempo seco levam ao plantio precoce de milho

Condições climáticas aceleraram a colheita da soja antes do esperado em áreas do Mato Grosso, o que abriu caminho para o plantio do chamado milho de inverno, a ‘safrinha’

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Bloomberg — O plantio do chamado milho de inverno do Brasil está começando em uma das épocas mais precoces já registradas, o que reduz algumas preocupações sobre a capacidade dos agricultores de semear uma safra de tamanho considerável.

Condições quentes e secas nas últimas semanas aceleraram o amadurecimento da soja em partes de Mato Grosso, permitindo que alguns produtores colhessem a oleaginosa mais cedo do que o esperado e a substituíssem por milho ou algodão, de acordo com a principal cooperativa de agricultores do estado produtor.

Isso foi uma reviravolta surpreendente, considerando um plantio de soja muito atrasado que aumentou as expectativas de que muitos agricultores não teriam tempo suficiente para cultivar o milho.

“Esta safra de milho estará avançada”, disse Leandro Bianchini, supervisor comercial da Cooperativa Agropecuária e Industrial Celeiro do Norte, a maior cooperativa agrícola de Mato Grosso, mencionando a colheita de soja antecipada.

Os agricultores brasileiros costumam plantar soja em setembro e outubro e colher a cultura de janeiro a março. Assim que a soja é colhida, os agricultores costumam plantar a chamada “safrinha, como é conhecida a safra de milho de inverno, que começa a ser colhida em maio.

A colheita antecipada de soja ocorre apesar de a região ter apresentado os plantios mais tardios desde a safra 2015-2016, de acordo com o Instituto de Economia Rural de Mato Grosso.

Cerca de 80% da soja já havia sido plantada no início de novembro - considerada a janela ideal de semeadura -, abaixo dos 93% no mesmo período do ano anterior, disse o instituto.

No entanto parte da safra de soja provavelmente não será colhida a tempo de ser substituída por milho. E alguns agricultores planejam reduzir o plantio e diminuir o uso de fertilizantes para reduzir os custos após perdas de rendimento de suas lavouras de oleaginosas, de acordo com Bianchini. Ambas as ações limitariam a colheita potencial de milho de inverno da região.

Espera-se que o Brasil produza 129 milhões de toneladas de milho em 2024, uma queda de quase 6% em relação a 2023, previu o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos no início deste mês.

O Brasil ultrapassou os Estados Unidos como o maior exportador de milho do mundo depois de uma safra recorde em 2023, o que proporcionou à nação sul-americana ainda mais influência no comércio global de alimentos. Outra safra recorde provavelmente pressionaria os preços da commodity, que caminha para uma queda de 30% neste ano.

- Com a colaboração de Gerson Freitas Jr.

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