Raiar quer popularizar o ovo orgânico. 2 milhões de galinhas são só o começo, diz CEO

Marcus Menoita, da Raiar Orgânicos, explica em entrevista à Bloomberg Línea os planos da empresa para crescer no mercado interno e dobrar o faturamento para R$ 100 milhões em 2025

Trio de executivos da Raiar Orgânicos
06 de Março, 2025 | 03:45 PM

Bloomberg Línea — A Raiar Orgânicos, produtora de ovos com sede em São Paulo, planeja aumentar de 300 mil para mais de 2 milhões o número de aves nos próximos anos, de olho no aumento da demanda pelo alimento, segundo seu CEO, Marcus Menoita.

A empresa, fundada em 2021 e focada exclusivamente no segmento orgânico, produziu 39,71 milhões de ovos no ano passado e projeta chegar a 72,14 milhões este ano, um aumento de 82%.

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Para continuar a expandir a produção, a companhia pretende replicar o modelo de sua fazenda em Avaré, no interior de São Paulo, que já possui capacidade para 700 mil aves, e estabelecer três novos polos de produção. Eles incluem fábricas de ração, aviários de recria e produção e centros de processamento e distribuição, de acordo com o CEO.

“Pode parecer uma meta ousada, mas há dois anos tínhamos apenas 20.000 aves. Hoje já estamos com 300 mil. E acredito que 2 milhões de aves é ainda pouco para atender ao mercado doméstico como um todo”, disse Menoita em entrevista à Bloomberg Línea em seu escritório na Vila Madalena, bairro da zona oeste de São Paulo.

Segundo ele, a Raiar alcançou faturamento de R$ 50 milhões em 2024 e, para este ano, a meta é dobrar para R$ 100 milhões.

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O crescimento tem sido financiado por investidores.

No ano passado, a empresa captou R$ 50 milhões via equity para a expansão da granja de Avaré. Ao todo, a Raiar conta com 60 investidores, incluindo nomes como Fábio Barbosa, CEO da Natura, Otavio Castello Branco, sócio fundador do Pátria Investimentos, e Pellerson Penido, fundador do grupo Roncador, que é referência em agricultura regenerativa.

Leia mais: Por que a Mantiqueira prevê que 2025 será um ano de salto na exportação de ovos

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A expansão da produtora de ovos orgânicos ocorre em um momento de movimentação de grandes empresas do agronegócio.

Em janeiro, a JBS (JBSS3) acertou um acordo para a compra de 50% do capital da Mantiqueira Alimentos, de propriedade da família Pinto e maior granja do país em volume de ovos produzidos. O acordo atribuiu à companhia enterprise value de R$ 1,9 bilhão e marcou a entrada da gigante de carnes no segmento de ovos.

Diferentemente de outras marcas que oferecem uma variedade de tipos de ovos — de gaiola, cage-free, caipira, por exemplo —, a Raiar aposta na demanda de consumidores que valorizam a sustentabilidade e que estão preocupados com a origem e a composição dos alimentos. Isso explica o foco exclusivo em orgânicos.

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No segmento, a empresa concorre com nomes como Korin e o próprio grupo Mantiqueira, que são alguns dos principais players de ovos orgânicos no país.

“Nascemos com o objetivo de sermos uma parte da mudança agroalimentar e para oferecer alimentos com menos agrotóxicos, sem ultra processados e livres de antibióticos. Nosso ovo sai da granja e vai direto para a geladeira, sem nenhum processo industrial”, afirmou Menoita.

Ovos da Raiar Orgânicos

A empresa fornece ovos para grandes marcas de varejistas como a Taeq, do grupo GPA (Grupo Pão de Açúcar), além de redes de supermercados como Natural da Terra, Zaffari e Mambo. O Carrefour também contratou a empresa para produzir os ovos de sua marca própria.

No total, a empresa está presente em nove estados e mais de 2.000 pontos de venda, segundo o CEO.

Além disso, a Raiar fornece ovos pasteurizados de diferentes formatos (integral, gema e clara juntos ou separados) para grandes redes de hotéis em São Paulo, como o Rosewood.

Essa linha de ovos em forma líquida auxilia no aproveitamento de ovos que não atendem padrões comerciais, o que garante mais sustentabilidade aos negócios da Raiar, disse o CEO da Raiar.

Mercado pulverizado

Menoita avaliou que, embora o mercado de carnes vermelhas e brancas no Brasil seja dominado por grandes players, como JBS, BRF (BRFS3), Marfrig (MRFG3) e Minerva (BEEF3), o mercado de ovos ainda é mais pulverizado. Esse foi um dos fatores que chamou a atenção de Menoita desde o início da trajetória da Raiar Orgânicos.

Antes de fundar o negócio, Menoita foi responsável pela criação da Nova Agri, empresa de infraestrutura e logística agrícola, que foi vendida à Toyota em 2018.

Durante esse período, ele viajou pela Europa, conhecida por ser umas das regiões mais exigentes no mercado agroalimentar, para estudar as tendências globais no setor alimentício.

Ao estudar a indústria global, Menoita disse que percebeu um potencial no mercado interno e identificou a oportunidade de criar uma empresa focada exclusivamente em ovos orgânicos, com um produto alinhado com as tendências de consumo mais saudáveis e sustentáveis.

Além de Menoita, o time de executivos da Raiar conta com nomes como o de Leandro Almeida, COO da empresa, que foi diretor de operações da Nova Agri, e Luis Barbieri, que também é sócio-fundador da empresa de ovos orgânicos e foi responsável pela área de grãos e oleaginosas da Louis Dreyfus.

Juntos, eles formaram a base para a criação da empresa em 2021. Nos últimos três anos, a Raiar investiu mais de R$ 150 milhões e dobrou seu tamanho e faturamento a cada ano desde então.

A estratégia por trás do ovo orgânico

Um dos maiores obstáculos da Raiar, segundo o executivo, foi garantir o fornecimento de milho orgânico para a alimentação das aves. Segundo Menoita, muitos duvidaram que seria possível cultivar milho sem agrotóxicos e fertilizantes químicos em larga escala.

A visão de Barbieri foi crucial para o plano estratégico: a empresa desenvolveu uma cadeia produtiva para assegurar um fornecimento de grãos orgânicos a partir de diferentes produtores do interior paulista.

Esse esforço foi reconhecido por instituições como o MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) e o Rabobank. Em 2023, a empresa também fez uma parceria com a Suzano para produzir grãos orgânicos.

Menoita afirmou que a empresa está preparada para continuar a crescer, com capital intelectual e financeiro necessários, e que o maior desafio é alinhar a velocidade de demanda com a execução, algo que ele acredita ser possível em poucos anos.

A expectativa é que o aumento da produção ajude a tornar o ovo orgânico mais competitivo com os demais tipos tradicionais. “Quanto mais acessível for o preço do orgânico, mais pessoas vão consumir alimentos bons e saudáveis. É isso que nos move”, afirmou.

Esse crescimento depende de esforços comerciais, zootécnicos e logísticos para manter os altos índices de produtividade e garantir o fornecimento constante de milho orgânico.

A exportação de ovos do Brasil ainda é pequena (cerca de 1% da produção total) e a Raiar disse que prefere focar no mercado doméstico, em que a demanda já supera a capacidade atual da empresa em 50%.

“Primeiro, preciso abastecer o mercado interno. Preciso crescer aqui e é isso o que estamos fazendo”, disse Menoita.

O executivo afirmou que a empresa não está disposta a vender sua participação para corporações maiores e que mantém um compromisso inegociável com seus valores.

Para Menoita, o ovo é apenas o começo do ponto de vista de negócios e, no futuro, os próximos passos incluem a entrada em outras proteínas, com foco no mercado de aves.

“O mercado de frangos é o mais próximo. É para lá que, ao fechar os olhos, nós vemos o futuro para a companhia. Mas vamos alcançar esses 2 milhões [de aves produtoras de ovos] primeiro. E, oportunamente, na hora certa, com o capital certo, entramos em outras proteínas orgânicas”, disse.

“A única coisa de que não abdicamos é de ser orgânico.”

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Naiara Albuquerque

Formada em jornalismo pela Fáculdade Cásper Líbero, tem mestrado em Ciências da Comunicação pela Unisinos, e acumula passagens por veículos como Valor Econômico, Capricho, Nexo Jornal e Exame. Na Bloomberg Línea Brasil, é editora-assistente especializada na cobertura de agronegócios.