Bloomberg — A safra de trigo dos Estados Unidos tem se recuperado, mas consumidores querem comprar menos alimentos feitos com o produto.
Embora as condições das colheitas do grão estejam as melhores em quatro anos, as compras de alimentos à base de farinha vêm decaindo. O Departamento de Agricultura dos EUA espera que a quantidade de trigo utilizado em alimentos este ano atinja o nível mais baixo em cinco anos.
No quarto trimestre, os moinhos do país produziram a menor quantidade de farinha para essa época do ano na série histórica de 10 anos, indicando que a demanda por esse ingrediente essencial para panificação não está sendo mantida.
A queda tem sido especialmente acentuada em doces e alimentos processados. As vendas unitárias de biscoitos e bolachas caíram 3,4% em relação ao ano anterior até o final de fevereiro, dados da empresa de inteligência do consumidor NIQ mostram. As vendas de pães nos corredores de supermercado caíram 2%.
Vários fatores sobrepostos estão por trás da queda na demanda. A crescente adoção de medicamentos para perda de peso, como o Ozempic, começa a reduzir o apetite por alguns alimentos. Os gastos em supermercados para consumidores que utilizam os remédios caíram até 9%, segundo relatório do Morgan Stanley divulgado no início deste ano.
A inflação também tem parte da culpa, uma vez que os preços altos ainda afetam os consumidores. Famílias com dificuldades financeiras também tentam desperdiçar menos alimentos, já que os preços continuam subindo.
“Os gastos exagerados durante a pandemia foram reduzidos”, disse Brian Walker, consultor da indústria de moagem.
À medida que a demanda doméstica cai, os agricultores de trigo terão cada vez mais que buscar compradores no exterior. Não será fácil: os produtores dos EUA já estavam perdendo terreno nos mercados de exportação globais, em meio à oferta de suprimentos mais baratos oferecidos pela Rússia, principal fornecedora global.
Isso significa que os preços dos EUA terão que cair para competir, o que é um golpe para os agricultores de trigo que acabaram de sair de um período de cultivo desafiador.
No ano passado, os campos foram tão assolados pela seca que a taxa de agricultores que abandonam as colheitas foi a maior em mais de um século. Alguns moinhos de farinha dos EUA que procuravam por suprimentos na época foram obrigados a recorrer a importações, incluindo da Polônia e da França, para suprir a escassez interna. Este ano, porém, 56% da safra de trigo de inverno é considerada boa ou excelente pelo Departamento de Agricultura dos EUA, o dobro da taxa do ano anterior.
A demanda por trigo teve um impulso durante a pandemia, quando o fechamento de restaurantes resultou em um aumento da panificação em casa e gerou uma produção acelerada de farinha nos EUA.
As empresas de alimentos também mantiveram estoques de farinha mais altos para evitar problemas na cadeia de suprimentos durante a era da covid-19 e tentar evitar custos altos depois que os futuros do trigo saltaram para um recorde quando a Rússia invadiu a Ucrânia em 2022. Agora, as empresas voltaram majoritariamente a recorrer às compras sob demanda em vez de manter ingredientes extras em estoque.
Há alguns nichos de demanda por alimentos à base de farinha que se mantiveram fortes. Os consumidores evitam cada vez mais alimentos superprocessados com uma longa vida útil e optando por produtos em pequenos lotes.
As vendas de pães de padaria, por exemplo, aumentaram 3,5% no último ano, segundo dados da NIQ. O Dave’s Killer Bread, um produto orgânico embalado, viu o volume de vendas subir 10% mesmo com as vendas totais de pães em queda, disse a fabricante Flower Foods em sua teleconferência do quarto trimestre em fevereiro.
Enquanto isso, algumas padarias vendem mais fatias de torta individuais em vez de tortas inteiras conforme a demanda diminui.
“Se eu fosse um padeiro, preferiria vender menos do que não vender nada”, disse JP Frossard, analista de alimentos para consumidores no Rabobank.
- Com a assistência de Jaewon Kang e Dominic Carey.
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