Prejuízos de incêndios em SP para a cana-de-açúcar podem durar até o ano que vem

Onda de queimadas tende a afetar a oferta global de açúcar e elevar os preços; até 5 milhões de toneladas de cana poderiam ter sido perdidas devido ao fogo

Foco incêndio
Por Dayanne Sousa
26 de Agosto, 2024 | 03:14 PM

Bloomberg — A onda sem precedentes de incêndios que atingiram os canaviais em São Paulo no fim de semana deverá afetar a oferta global de açúcar e elevar os preços.

As consequências podem ser maiores do que as de uma grande geada que danificou a cana-de-açúcar no Brasil em 2021, de acordo com a Alvean, uma das principais traders de açúcar.

“O escopo dos problemas agora é muito maior”, disse Mauro Virgino, líder de inteligência comercial da Alvean, em uma entrevista. “Os incêndios de 2024 são como as geadas de 2021, mas com anabolizantes.”

O impacto pode durar até o ano que vem, já que os incêndios afetaram parte da cana que estava brotando. Nesses casos, o calor danifica gravemente as raízes, o que significa que os produtores provavelmente terão que replantar ou enfrentar uma colheita menor na próxima safra.

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São Paulo, responsável pela maior parte da produção de açúcar do país, enfrentou um número recorde de incêndios devido à baixa umidade e a uma onda de calor intenso.

Foram detectados até 2.000 focos no último fim de semana, informou o grupo da indústria de cana-de-açúcar Orplana. Embora as chuvas tenham ajudado a reduzir os riscos de novos surtos, 60.000 hectares de área de cultivo foram afetados.

“Em 20 anos de atividade, nunca vi nada parecido”, disse Almir Torcato, diretor executivo da associação de produtores de cana Canoeste. O grupo reúne mais de 2.000 agricultores em algumas das áreas mais afetadas nos municípios de Sertãozinho e Bebedouro. “Recebemos inúmeros pedidos de ajuda.”

Os futuros do açúcar bruto subiram até 4,2% em Nova York, o maior salto intradiário em um mês.

Os focos de incêndio aumentam as preocupações crescentes, já que a seca e o calor já prejudicaram a produção de cana-de-açúcar no Brasil. Espera-se que os próximos dados sobre a produção de açúcar nesta semana tragam alguma clareza sobre os rendimentos no Brasil, mas podem não refletir o impacto das queimadas.

Até 5 milhões de toneladas de cana-de-açúcar poderiam ter sido perdidas em São Paulo devido ao fogo, de acordo com duas estimativas preliminares da Green Pool Commodity Specialists e da empresa de serviços financeiros FG/A.

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As estimativas iniciais usaram imagens de satélite, e ainda pode haver imprecisões. Ainda assim, elas representam cerca de 1,4% da cana em São Paulo. Os impactos sobre a produção total de açúcar não foram estimados, pois parte da cana-de-açúcar queimada ainda pode estar em boas condições para ser processada.

Os incêndios não são novidade para a cadeia de açúcar. Há mais de uma década, atear fogo à cana-de-açúcar fazia parte do processo de produção, uma prática que causava grandes impactos ambientais e que se tornou obsoleta com o surgimento de novas tecnologias.

Isso deu aos usineiros alguma experiência na moagem de cana queimada. Ainda assim, o setor enfrenta agora um grande desafio: a produtividade pode ser prejudicada se demorar mais do que alguns dias para processar a cana queimada, e muitas empresas têm recursos limitados, pois ainda estão lidando com as consequências dos incêndios.

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