Bloomberg — O Brasil está produzindo uma safra maior do que nunca, mas os agricultores no país têm contido seus gastos - o que é uma má notícia para os fabricantes de tratores.
A receita do mercado de máquinas agrícolas encolheu 20% em 2023, segundo estimativas - a primeira queda anual desde 2016 e a maior em quase uma década, de acordo com a associação do setor, a Abimaq. E não há alívio à vista. A associação espera pouca mudança nas vendas neste ano.
A queda das vendas de máquinas é um problema para fabricantes como Deere & Co e CNH Industrial, mostrando como os agricultores enfrentam dificuldades, mesmo depois de o Brasil expandir sua participação de mercado e ultrapassar os Estados Unidos como o maior exportador de milho do mundo.
O problema é que os produtores produziram tanto milho e soja que os preços despencaram, tornando mais difícil pagar por tratores caros com altas taxas de juros.
“Isso tudo assustou os agricultores”, disse Endrigo Dalcin, um produtor de Mato Grosso que desistiu dos planos do ano passado de adicionar um novo trator à sua frota. “Eu não comprei nenhuma máquina nova no ano passado e não acho que vou comprar nada este ano também.”
O Brasil, potência agrícola que domina a produção dos principais alimentos do mundo, foi mais afetado do que outros produtores globais pelos preços em queda durante grande parte de 2023.
Os preços do milho no mercado físico caíram mais em Mato Grosso, maior produtor do Brasil, do que em Iowa, o maior produtor nos EUA. A soja seguiu uma tendência semelhante.
Neste ano, as coisas não tendem a melhorar. Campos ressecados têm prejudicado as colheitas e levado os produtores a adiarem a venda da safra do ano passado até terem confiança na produção deste ano.
“Simplesmente não estão vendendo”, disse Scott Wine, CEO da CNH. “Eles não querem vender em um mercado com preços de commodities mais baixos — eles vão apenas esperar.”
Assim, esse agricultores que adiam a venda das colheitas “não têm tanto dinheiro disponível para comprar equipamentos”, disse ele.
A Deere, maior vendedora de máquinas agrícolas do mundo, prevê uma queda de 10% nas vendas de tratores e colheitadeiras na América do Sul este ano.
A demanda do setor no Brasil esfriou muito mais rápido do que o esperado na segunda metade de 2023, disseram executivos em uma teleconferência de resultados em 22 de novembro, enquanto as vendas a varejo de colheitadeiras caíram cerca de 25% e os tratores grandes diminuíram quase 10%.
As expectativas de custos de financiamento mais baixos no horizonte também contribuem para as vendas mais fracas de máquinas no Brasil. As taxas de juros do país devem cair para cerca de 9% até o final deste ano, abaixo de 11,75%. Isso dá aos agricultores a perspectiva de financiar a compra de equipamentos a taxas mais baixas a médio prazo.
Manter os estoques de equipamentos são muito mais onerosos no Brasil do que nos Estados Unidos, segundo o analista da Bloomberg Intelligence, Chris Ciolino, acrescentando que os fabricantes de máquinas reduzirão a produção em resposta. “É uma questão de estoque no Brasil — eles vão produzir abaixo da demanda para reduzi-la.”
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