Parceria com Starlink e Bradesco: como a Deere quer vender mais máquinas no país

Gigante de tratores e outras máquinas agrícolas investe R$ 180 milhões em novo centro de P&D em Indaiatuba e avança em estratégia no país, segundo contam executivos globais

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Bloomberg Línea — “O foco está aqui no Brasil”, disse Jahmy Hindman, Vice Presidente Sênior e CTO da John Deere, durante a inauguração do primeiro Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da companhia com foco na agricultura tropical no país na última semana.

A gigante global de maquinário agrícola investiu R$ 180 milhões no projeto, com recursos próprios.

A sede do novo centro de P&D fica em Indaiatuba, no interior de São Paulo. A localização foi “escolhida a dedo” pela companhia americana em razão da proximidade com as outras duas fábricas que possui na região e também pela proximidade com Campinas, que abriga universidades importantes, como a Unicamp, que poderá alimentar o centro com mão de obra especializada.

Inicialmente, 150 pessoas trabalharão na operação.

As pesquisas no novo centro vão funcionar para entender a necessidade e as dores do produtor rural brasileiro, de acordo com a empresa. No portfólio de vendas estão colheitadeira de grãos, pulverizadores e plantadeiras, principalmente.

A tecnologia a ser desenvolvida ali poderá ser ‘exportada’ para outros mercados. Além do Brasil, a empresa tem centros na Alemanha, na Índia e nos EUA.

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“A John Deere tem sido der em tecnologia para a agricultura há muito tempo. Eu digo às pessoas que isso começou, mais ou menos, há 21 anos, quando adquirimos a NavCom [de gestão de satélites], que originalmente iniciou soluções como o GPS e a GNSS”, disse Hindman à Bloomberg Línea.

“Desde então, temos seguido uma jornada para aumentar os níveis de automação nos equipamentos e a sofisticação deles ao longo do tempo, até chegarmos ao ponto de discutir se eles podem operar de forma autônoma, sem ninguém na máquina”, acrescentou o CTO.

Apesar das dificuldades do mercado nos últimos anos, muitas empresas do agronegócio acreditam que é justamente em um momento de “baixa nos negócios” que surgem oportunidades para crescer com investimentos - sobretudo em pesquisa e desenvolvimento.

No caso da John Deere, a investida no Brasil também se dá porque a empresa enxerga que há potencial de crescimento de suas vendas no país em comparação com outras regiões consideradas mais saturadas, como o próprio EUA.

Por outro lado, o principal desafio relacionado ao Brasil e destacado pelo CTO do grupo está na falta de internet de ponta com potencial de chegar a todas as regiões do país.

Não à toa, a empresa formalizou recentemente uma parceria com a Starlink, de Elon Musk, com foco no Brasil e nos EUA, que começará a funcionar efetivamente em janeiro de 2025. A empresa ainda não divulgou qual Estado receberá primeiro a parceira para o uso de internet via satélite.

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“Será um terminal que poderá ser aplicado a qualquer um de nossos equipamentos agrícolas de produção”, explicou Hindman sobre a parceria com o Starlink.

Segundo o executivo, a ferramenta poderá ajudar a formar o futuro do setor agrícola, que “dependerá de conectividade para transferir dados e se comunicar com as máquinas, para que os clientes se comuniquem uns com os outros”.

“Tudo isso exige uma capacidade de conectividade que tem sido difícil de gerar por meio de redes no Brasil, dado o tamanho e a extensão da geografia do país”, afirmou.

Atividade cíclica

Para o uruguaio Antonio Carrere, VP de Vendas e Marketing para a América Latina na John Deere, é inegável que 2024 foi um ano desafiador, mas “positivo perante a situação do mercado”. Com essa ressalva, ele prevê que o resultado bruto em 2025 será pior do que neste ano.

Há mais de 23 anos na companhia - três deles como VP -, Carrere ressaltou, assim como outros executivos de outras áreas, que o agro é uma atividade cíclica e que voltará aos tempos áureos, apesar de não projetar exatamente quando isso deve acontecer.

“Apesar dos desafios, nós e o produtor estamos conseguindo trabalhar de maneira muito eficiente no Brasil. E, quando falamos de uma produção muito eficiente, geralmente isso coloca pressão sobre os preços”, afirmou o executivo à Bloomberg Línea.

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O executivo também citou eventos climáticos extremos, como as chuvas históricas no Rio Grande do Sul em maio neste ano, como um entrave para o setor e para as vendas.

“Nós precisamos estar preparados para qualquer situação. Mas sabemos que esse ciclo pode mudar ou sofrer impacto do clima”, disse.

No ano fiscal encerrado em 29 de outubro, o lucro líquido da John Deere globalmente foi de US$ 7,1 bilhões ou US$ 25,62 por ação, comparado a US$ 10,166 bilhões, ou US$ 34,63 por ação, em 2023.

No mesmo período, as venda globaiss recuaram 16% para US$ 51,7 bilhões. Apesar de o resultado ter sido abaixo do nível de 2023, acabou sendo melhor do que o projetado pelos analistas, o que, inclusive, deu impulso às ações da companhia.

Ao longo deste ano, os papéis da companhia (DE) negociados em Nova York subiram cerca de 10%; no Brasil, os recibos de ações (BDRs) avançaram mais de 37% na bolsa brasileira (DEEC34).

Entre as estratégias financeiras para viabilizar as vendas de máquinas, o vice-presidente de Sistemas de Produção da Deere para a América Latina, Cristiano Correa, destacou a recente joint venture com o Bradesco. “A expectativa é que essa parceria possibilite mais acesso a diferentes portfólios de crédito para os produtores brasileiros”, disse à Bloomberg Línea.

Em junho deste ano, a empresa cortou milhares de empregos com o intuito de equilibrar a receita com os custos operacionais - no Brasil, 150 pessoas foram demitidas da fábrica do Rio Grande do Sul, que foi a primeira operação do grupo no país, em 1979.

Os executivos disseram não enxergar novos cortes no Brasil no curto prazo: “a agricultura brasileira, como um todo, está em momento diferente do resto do mundo”, disse.

Além disso, a empresa tem equilibrado os níveis de estoques globais de produtos. ”Todas as nossas fábricas vão produzir conforme a demanda”, disse.

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