Nova fronteira do café, China amplia demanda e estimula produção no Brasil

Consumo da bebida no país asiático subiu em média 7% nos últimos seis anos, o que incentiva acordos comerciais e gera desafios logísticos para os países produtores na América Latina

Customers use mobile devices while sitting at tables in a Luckin Coffee outlet in Beijing, China, on Tuesday, Jan. 15, 2019. Luckin, the Chinese startup that's banking on selling cappuccinos to on-the-go office workers, is spending millions of dollars a year opening outlets to unseat Starbucks Corp. as the top java seller in the country. Photographer: Gilles Sabrie/Bloomberg
04 de Dezembro, 2024 | 06:15 AM

Bloomberg Línea — O aumento da demanda por café na China, que a colocou entre os dez maiores mercados consumidores da bebida no mundo, tem se refletido nas exportações de produtores do Brasil e da América Latina como um todo e em novos contratos de empresas do país asiático como a Luckin Coffee.

A importância da China no mercado global de café fica evidente na demanda pelo grão nos principais países produtores, como o Brasil e a Colômbia, à medida que os preços atingem recordes e aumentam as preocupações com os estragos que o clima pode causar nas colheitas.

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No Brasil, o maior produtor de café do mundo, a China passou do 20º para o 6º lugar na lista dos principais compradores de café em 2023. O país asiático comprou 1,4 milhão de sacas de 60 kg de café de um total de 39,2 milhões exportados pelo país no ano passado.

Na Colômbia, a China também ocupa o 6º lugar como destino de exportações, o que significa um avanço em relação a 2019, quando ocupava a 18ª posição, segundo disse Germán Bahamón, executivo da Federação Nacional de Cafeicultores da Colômbia (FNC), à Bloomberg Línea. As exportações mais que dobraram em 2023, com aumento de 132%.

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“O impacto foi não apenas em volume mas também na comercialização de cafés com maior valor agregado; um exemplo disso foi a excelente participação dos clientes da China no concurso Terra da Diversidade como grandes compradores”, disse Bahamón.

“Nosso trabalho deve se concentrar no posicionamento do produto de qualidade e, assim, gerar uma maior demanda por cafés diferenciados, com novos acordos comerciais”, disse Bahamón.

O aumento de demanda chegou a tal ponto que começa a enfrentar desafios de logística, segundo a Associação Nacional dos Exportadores de Café da Colômbia (Asoexport).

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Atualmente, há uma interrupção na cadeia logística de exportação do café colombiano devido à falta de contêineres disponíveis e de espaço nos navios para diferentes portos de destino.

Consumo de café importado

Estima-se que o consumo de café na China tenha aumentado em média 7% nos últimos seis anos, para um volume total de 3,4 milhões de sacas de 60 kg no ano cafeeiro de 2023-2024, de acordo com dados da empresa de consultoria e análise de dados GlobalData, citados pela FNC.

De acordo com as previsões da Global Data, o consumo de café na China poderá crescer 7,8% no ano cafeeiro de 2024-2025 em comparação com o período imediatamente anterior.

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As importações de café da China aumentaram 14% em 2023 em relação ao ano anterior, para 3,05 milhões de sacas de 60 kg. Ou seja, cerca de 90% do consumo local vem de produção de outros países.

Leia mais: Produção de café avança em outros países como alternativa ao domínio do Brasil

Entre as principais origens do café importado pela China estão Brasil, Vietnã e Colômbia. O país asiático está posicionado entre os dez principais países consumidores do mundo.

O interesse crescente da população da China pelo café acontece em momento de preços recordes do grão e de preocupações com o clima nos principais países produtores.

Na última quarta-feira (27 de novembro), os futuros de grãos de café arábica (a variedade preferida para cafés especiais) subiram até 3,1% e atingiram o nível mais alto desde 1977. Os preços subiram quase 70% neste ano, segundo dados compilados pela Bloomberg da ICE Futures US (veja gráfico abaixo).

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Acordos comerciais

Entre as estratégias adotadas por alguns dos clientes da China está a busca por acordos comerciais com países produtores de grande escala para garantir o fornecimento de café.

Entre eles está o acordo entre o Brasil e a cadeia chinesa de café Luckin Coffee, que tem como objetivo comercializar 4 milhões de sacas de 60 kg até 2029.

“Grandes redes, como a Luckin, anunciaram sua possível expansão para outros mercados, como os Estados Unidos. Isso poderia gerar novas dinâmicas em mercados maduros e de consumo mesmo fora da China”, disse Bahamón.

A Luckin se tornou uma espécie de dor de cabeça para a gigante de cafeterias Starbucks (SBUX) na China, onde se concentram 20% de seus pontos de venda. Seus cafés de 9,90 ienes (US$ 1,40) têm “roubado” clientes das bebidas básicas da Starbucks, segundo a Bloomberg News.

Gráfico de Luckin vs Starbucks de locales en China

Impactos para o Brasil

O governo brasileiro indicou que a Luckin Coffee, com mais de 16.000 lojas na China, é a principal importadora de café brasileiro no país. De acordo com o portal de estatísticas alemão Statista, em 2023 o número de cafeterias na China ultrapassará o patamar de 132 mil.

Nos últimos dias, a Luckin Coffee abriu o Museu do Café Brasileiro em sua fábrica de torrefação em Jiangsu para apresentar os produtos e a cultura do café brasileiro para a população.

Além disso, como parte do 50º aniversário das relações diplomáticas entre a China e o Brasil, a empresa inaugurou o Festival da Cultura do Café “como um meio de construir uma ponte cultural entre as duas nações, levando a colaboração entre os setores cafeeiros chinês e brasileiro a novos patamares”, disse a empresa.

O presidente do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), Márcio Ferreira, disse à Bloomberg Línea que a China se tornará, sem dúvida, um dos maiores consumidores de café do mundo e que os avanços em relação à demanda serão replicados em outros grandes países, incluindo a Índia.

“As ações realizadas, voltadas principalmente para os jovens, têm sido muito bem-sucedidas, e devemos destacar a presença do café brasileiro por lá, tanto nas cafeterias temáticas quanto no museu, que destaca principalmente os produtos brasileiros”, disse Ferreira.

Ele destacou que o consumo chinês leva em conta uma preocupação com a qualidade, tanto dos cafés do tipo arábica como com a sustentabilidade.

“O caminho já está preparado e agora temos que trabalhar muito para que em poucos anos tenhamos a China entre os maiores consumidores de café do mundo e, principalmente, do café brasileiro”, disse.

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Desafio da demanda

Ferreira afirmou que a produção terá que crescer, ao mesmo tempo em que alertou para a perspectiva de aumento dos preços nos próximos anos, dado o impacto de eventos climáticos sobre a oferta.

Melhorias na infraestrutura ao longo da cadeia de suprimentos com novas tecnologias serão fundamentais não apenas para responder rapidamente à demanda mas também para reduzir custos e ser mais competitivo na disputa com outras origens geograficamente mais próximas da China, como o Vietnã.

“Os desafios derivados do aumento da demanda chinesa para os produtores latino-americanos envolvem basicamente o progresso contínuo em qualidade, sustentabilidade, trabalho com previsibilidade de mercado e aproveitamento de oportunidades”, disse Ferreira.

Questionado sobre a influência que a demanda chinesa poderia ter sobre os preços internacionais do café, o executivo da Federação Nacional dos Cafeicultores da Colômbia disse que há muitos fatores em jogo, como a própria procura e a produção global, movimentos especulativos de investidores e eventuais situações econômicas que afetam a oferta e a demanda desse produto, entre outros.

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Os estoques disponíveis de café no Brasil, tanto arábica quanto robusta, são limitados até o início da próxima safra, o que preocupa agentes do mercado global.

Além disso, a estimativa para a safra do próximo ano prevê um impacto significativo, especialmente na variedade arábica.

Embora a floração tenha sido promissora, houve elevada taxa de perda de frutos devido às altas temperaturas na estação seca e a uma seca prolongada de 150 a 180 dias nas principais regiões produtoras.

Isso sugere que a produção de arábica será substancial, mas permanecerá apertada em termos de oferta.

“Temos que ver como o clima se comporta até a colheita, pois as perspectivas têm sido muito melhores até agora, mas temos um novo período pela frente”, disse Ferreira.

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Daniel Salazar

Profissional de comunicação e jornalista com ênfase em economia e finanças. Participou do programa de jornalismo econômico da agência Efe, da Universidad Externado, do Banco Santander e da Universia. Ex-editor de negócios da Revista Dinero e da Mesa América da Efe.