Bloomberg — Os Estados Unidos apostam que a transição para fontes de energia mais limpas, combinada com investimentos massivos em infraestrutura, irá reverter o declínio persistente do número de fazendas familiares, criando novas oportunidades de receita para os agricultores e aumentando sua capacidade de competir no exterior.
Mais de meio milhão de fazendas no território americano desapareceram nas últimas quatro décadas, à medida que políticas favoreceram a consolidação.
Embora o movimento tenha impulsionado a produção agrícola comercial em larga escala e fortalecido o status dos EUA como uma potência agrícola, a mudança tem causado prejuízos para produtores pequenos e médios e para a economia local de cidades que dependem deles.
Mas há um renascimento em curso, de acordo com o secretário de Agricultura dos EUA, Tom Vilsack. “Temos que mudar o rumo, caso contrário, em 40 anos estaremos dizendo que perdemos mais 500 milhões de acres”, disse em entrevista no início de abril no escritório da Bloomberg em Chicago.
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O Departamento de Agricultura, que nos EUA tem status de Ministério, tem destinado dezenas de bilhões de dólares para promover práticas agrícolas amigáveis ao clima, à medida que o mundo corre para descarbonizar, em áreas que vão desde fertilizantes até métodos de pastagem.
O objetivo é reduzir as emissões de gases de efeito estufa da agricultura e tornar os agricultores elegíveis para participar de mercados potencialmente lucrativos, como combustível de aviação sustentável feitos a partir de produtos agrícolas.
As iniciativas incluem permitir que as fazendas lucrem monetizando seu excesso de eletricidade renovável, além de ajudá-las a entrar em novos mercados, como escolas e feiras locais.
O departamento também tem destinado recursos para criar oportunidades de exportação mais robustas para os produtores dos EUA em regiões como África, Sudeste Asiático e América Latina.
“Isso permite que os agricultores digam à próxima geração: ‘Você pode ser empreendedor e fazer a diferença no mundo’”, disse.
A oportunidade de lucrar vendendo mais nos sistemas alimentares locais e regionais é significativa. Enquanto os agricultores podem receber cerca de 15 a 21 centavos de cada dólar gasto no supermercado, eles podem receber até 75 centavos em uma feira de produtos agrícolas ou em outros locais onde os agricultores trabalham diretamente com os consumidores, disse Vilsack.
No entanto, a incerteza paira sobre se os agricultores dos EUA podem reduzir sua pegada de carbono rápido o suficiente para serem competitivos com grãos e oleaginosas de outros países, bem como com outras formas de produzir produtos de alto valor, como combustível de aviação sustentável, ou SAF.
Em janeiro, foi inaugurada no estado da Geórgia a primeira usina do mundo a usar etanol para produzir SAF. A milhares de quilômetros ao norte, no estado de Iowa, maior produtor de etanol à base de milho do país, agricultores e produtores de biocombustíveis disseram que a abertura foi um alerta para acelerar a descarbonização para competir com o etanol do Brasil.
Vilsack, ex-governador democrata de Iowa, prevê uma “aceleração rápida” nos investimentos em SAF depois que o governo Biden divulgar os detalhes há muito esperados de créditos fiscais federais destinados a desencadear um aumento na produção americana de combustível para aviões com menor emissão.
Enquanto a estratégia do governo está focada no fortalecimento do pequeno agricultor e das comunidades rurais, Vilsack espera que as políticas do governo também fortaleçam a posição dos EUA nos mercados mundiais.
Nos últimos dez anos, o país perdeu seu status como maior exportador global de milho e soja para o Brasil.
Assim que os EUA consertarem suas estradas e pontes, e os sistemas ferroviários e portuários funcionarem de maneira mais eficiente, os EUA serão capazes de recuperar sua vantagem em infraestrutura, disse.
A lei de infraestrutura de US$ 1 trilhão do presidente Joe Biden, aprovada em 2021, vai “mudar o jogo nas exportações”, disse Vilsack.
Embora tenha se recusado a comentar diretamente sobre as eleições deste ano, Vilsack disse que vê pouco risco de um novo governo possivelmente reverter os esforços para ajudar produtores rurais, pois a transição para energia limpa será difícil de parar.
Ele disse que os agricultores há 10 anos teriam dito “não, obrigado” aos programas inteligentes sobre o clima, mas agora os grupos agrícolas e os agricultores estão entendendo cada vez mais os benefícios.
Mudança de mentalidade
“É uma oportunidade empreendedora ilimitada para sair da mentalidade de ‘produza ou saia’”, disse. A frase é uma referência ao mantra de Earl Butz, chefe de agricultura nos governos dos presidentes Richard Nixon e Gerald Ford, que também foi adotado pelo chefe de agricultura do presidente Donald Trump, Sonny Perdue.
“Agora os demais produtores podem ser empreendedores”, disse Vilsack. “Eles podem ter duas ou três fontes de renda e talvez não precisem trabalhar em um segundo emprego.”
Vilsack, que também foi chefe de agricultura sob Barack Obama e é o segundo secretário de Agricultura com mais tempo de serviço na história dos EUA, disse que sua abordagem não é sobre confrontar gigantes do manuseio de colheitas como a Cargill e a Archer-Daniels-Midland.
“Trata-se de dizer que devemos ser capazes de criar mais opções, e então o agricultor pode decidir o que é melhor para sua operação”, disse. “Isso é o belo disso - complementa, não compete.”
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