Bloomberg — A reeleição de Donald Trump promete uma mudança para a agricultura americana.
As expectativas de uma nova rodada de tarifas comerciais sobre a China fizeram com que os futuros da soja, do milho e do trigo despencassem na quarta-feira (6), antes de se recuperarem no final do dia. Os produtores americanos, que em geral apoiam Trump, estão dispostos a aceitar o desafio.
“Os agricultores confiam em Trump para equalizar o comércio, mesmo que as tarifas sejam usadas como uma ferramenta de persuasão”, disse Ben Riensche, um produtor de milho de sexta geração no estado de Iowa, na região do meio-oeste americano conhecida como Corn Belt, antes da eleição.
A princípio, parece contraditório que os produtores apoiem um presidente que alterou radicalmente os mercados globais de exportação depois de impor tarifas sobre determinados produtos da China. Afinal, as vendas de soja para o país asiático caíram quase 79% nos dois primeiros anos de sua presidência, o que deixou os silos abarrotados em todo o coração agrícola dos Estados Unidos.
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Mas Trump, que também reescreveu o comércio com o México e o Canadá, investiu US$ 28 bilhões nos agricultores para amenizar o golpe de suas disputas comerciais – algo que o ajudou a ampliar sua liderança nas áreas rurais em 2020.
Isso mesmo que ele acabasse com derrota na eleição com Joe Biden em 2020. Ao mesmo tempo, muitos produtores buscam mudanças em meio a uma economia agrícola enfraquecida.
Trump propôs uma tarifa de 10% a 20% sobre todos os produtos importados para os EUA e uma tarifa de 60% sobre os produtos chineses – uma medida que poderia provocar uma retaliação do maior comprador de soja do mundo.
As vendas americanas da commodity para a China caíram para apenas cerca de US$ 3 bilhões em 2018, de US$ 14 bilhões dois anos antes, quando Trump assumiu o cargo, de acordo com dados do Departamento de Agricultura dos EUA. A soja é amplamente utilizada para produzir óleo de cozinha e ração animal.
Os futuros da soja negociados em Chicago registraram a maior queda em quase um mês na quarta-feira, antes de apagarem os declínios. Os mercados precificaram uma vitória de Trump mesmo antes da definição da corrida, os títulos do Tesouro caíram, o bitcoin bateu recorde de alta e o dólar se valorizou.
“Há um segmento de analistas que aposta que Trump vai imediatamente atacar a China com tarifas”, disse Bevan Everett, consultor de gestão de risco da StoneX Financial.
“A resposta esperada da China será a redução das exportações dos EUA. Eles ‘fazem menos’ com os EUA, mas o resto do mercado tem compensado a diferença por enquanto.”
Trump derrotou a vice-presidente Kamala Harris, em parte com o apoio dos agricultores, mesmo depois que a democrata tentou apelar para sua base rural leal. Ela contratou um novo diretor de divulgação rural e gastou muito em uma série de anúncios com produtores que se comprometeram a votar nela nos estados de Wisconsin e da Pensilvânia, dois dos chamados swing states.
Mas a tarefa de Harris nunca seria fácil – o apoio geral dos democratas nas áreas rurais em eleições locais, estaduais e federais tem diminuído constantemente desde 1980, de acordo com o site The Rural Voter, de Nicholas Jacobs e Daniel Shea. Trump, que venceu em 2016 com 59% dos votos rurais, aumentou essa vantagem para 65% em 2020, de acordo com o Pew Research Center.
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‘Tempos desafiadores’
Sua tática de culpar Harris pela inflação também funcionou bem com os agricultores. Em um comício de Trump no início deste ano no condado de Dane, uma área profundamente “azul” (democrata) de Wisconsin, Grant Grinstead, um produtor de laticínios, endossou essa tese.
“Nossos insumos, de ração a sementes, fertilizantes, combustível, maquinário e custos de mão-de-obra, ficaram fora de controle”, disse Grinstead. “São tempos difíceis e precisamos da sua ajuda.”
Durante toda a campanha, Trump também enfatizou que Wisconsin, o segundo maior produtor de leite do país, havia perdido 455 fazendas de laticínios sob o governo de Biden.
Apesar de Trump ter derrubado os mercados ao reescrever as regras do comércio, os apoiadores dizem que sua estratégia funciona.
O chamado acordo comercial da Fase Um durante seu primeiro mandato resultou em um grande aumento na demanda que ajudou os agricultores a recuperar algumas vendas perdidas, disse Terry Branstad, que atuou como embaixador dos EUA na China de 2017 a 2020.
“Não houve novos acordos comerciais desde a Fase Um”, disse Branstad. “Tenho esperança de que haverá no próximo governo, talvez um acordo comercial melhorado.”
Perdas potencialmente definitivas
Analistas do JPMorgan, incluindo Tracey Allen, argumentaram que poderia haver mais demanda de exportação sob Trump, “com a China potencialmente fazendo compras de boa vontade” de produtos agrícolas dos EUA “no caso de negociações comerciais sob a presidência de Trump”.
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Ainda assim, há sinais de que a última guerra comercial deixou cicatrizes permanentes.
A China agora compra a maior parte do que precisa de outros países fornecedores, principalmente do Brasil, e essa mudança pode significar que a demanda nunca mais voltará totalmente para os EUA.
Um estudo publicado no mês passado por grupos agrícolas dos EUA estimou que os produtores de soja e milho poderiam perder bilhões de dólares em outra disputa comercial.
Os produtores também podem enfrentar escassez de mão-de-obra, já que a reeleição de Trump aponta para políticas de imigração mais rígidas. E o maquinário também pode ficar mais caro depois que ele ameaçou impor tarifas sobre os produtos que a Deere (DE) produz no México.
Independentemente de quem está na Casa Branca, o que os produtores americanos realmente precisam é de preços mais altos para os grãos e custos mais baixos para os insumos e equipamentos, disse Bill Krueger, CEO da The Andersons, uma empresa de comercialização de safras.
“Em 2025, o agricultor americano realmente busca que o preço dos grãos saia das cotações baixas em que nos encontramos”, disse ele. “A renda agrícola ainda está muito estressada.”
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