Na BASF, estratégia para retomada do agro passa por avanço em biotecnologia

Em entrevista à Bloomberg Línea, VP de Soluções para Agricultura no Brasil, Marcelo Batistela, diz que empresa alemã se preparou para ciclo atual de baixa do agro com investimento em P&D

BASF Brasil
Por Naiara Albuquerque
14 de Novembro, 2024 | 11:24 AM

Bloomberg Línea — A BASF manteve os investimentos em pesquisa e em novas soluções para o agronegócio mesmo com o ciclo de baixa que atingiu pequenos e grandes produtores nas últimas safras. Na avaliação de executivos da gigante do setor químico, a estratégia de investir em tecnologia e biotecnologia de ponta permite à companhia centenária se preparar para a retomada do setor agrícola.

Marcelo Batistela, vice-presidente de Soluções para Agricultura para o Brasil da multinacional alemã, disse acreditar que o conhecimento da ciclicidade do mercado permitiu que a empresa se preparasse nos últimos 18 meses para a atual fase de baixa nos preços agrícolas.

A companhia, que é uma das líderes mundiais na fabricação de insumos para a agricultura, investe anualmente cerca de 900 milhões de euros no desenvolvimento de novos produtos.

“A gente fez algumas mudanças importantes se preparando para essa fase. Mas, mais do que isso, se preparando para que, no longo prazo, a gente ganhe ainda mais relevância no mercado. Esse ajuste estratégico nos permitiu estar melhor organizados para passar por uma fase igual à que estamos passando”, disse Batistela, em entrevista à Bloomberg Línea em um evento da empresa para jornalistas na semana passada em uma das estações de pesquisa da empresa alemã em Santo Antônio de Posse, no interior de São Paulo.

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O momento ainda é desafiador, já que os futuros das commodities agrícolas, principalmente a soja e o milho que tem a bolsa de Chicago como seu principal balizador dos preços, têm caído nos últimos ciclos. A farta produção brasileira e americana contribui para o cenário, e a queda dos preços pesa diretamente no bolso do agricultor.

Além disso, os insumos agrícolas são, em sua maior parte, importados, e com o câmbio desfavorecido para a moeda brasileira, muitos produtores atrasaram as compras dos produtos à espera de melhores preços.

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Em Santo Antônio de Posse, a empresa faz testes em laboratório e mantém um polo ativo para desenvolver soluções individualizadas para todas as etapas da produção: antes, dentro e depois da porteira.

O movimento de se aproximar dos produtores e colocá-los no centro das decisões é uma estratégia recente da BASF, que deixou de ser uma companhia de tecnologias e portfólios para pensar em soluções para a agricultura.

Marcelo Batistela, VP de Soluções Agrícolas da Basf

No último balanço financeiro do segmento agrícola da BASF, reportado em outubro, as vendas do quarto trimestre para o setor na América do Sul, África e Oriente Médio caíram, pressionadas principalmente, segundo a empresa, pelos preços mais baixos das commodities e também pela desvalorização de moedas locais, como o real brasileiro e o peso argentino.

No período, o Ebitda da empresa para o segmento agrícola foi negativo em 190 milhões de euros. No mesmo período de 2023, o resultado havia sido positivo em 213 milhões de euros.

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A estratégia da BASF

Para crescer em um mercado cíclico e imprevisível, a BASF tem uma estratégia agressiva de pesquisa e lançamento de produtos até 2035. Serão 24 ao todo. Entre eles estão fungicidas, inseticidas, herbicidas e tratamentos de sementes com químicos e biológicos.

Também serão lançadas novas variedades de sementes de soja, algodão e arroz. Uma solução contra a cigarrinha do milho, que promete uma melhora de até 70% das plantas com aplicações subsequentes que impede a praga de se alimentar, atravessa alguns processos regulatórios e deve chegar aos produtores brasileiros e argentinos em 2025.

Outro produto que deve chegar mais rapidamente ao mercado brasileiro, em 2029, foi idealizado e desenvolvido durante os últimos 22 anos e se trata de uma biotecnologia, com uma semente resistente ao nematoide, uma praga de difícil manejo que atinge diversas lavouras no Brasil. No caso da soja, são R$ 16 bilhões de prejuízo todos os anos, segundo dados da Sociedade Brasileira de Nematologia (SBN).

“Quarenta anos parece muito tempo, mas na agricultura não é nada”, afirmou Batistela, durante evento para jornalistas na sede da BASF no interior paulista.

Cigarrinha afeta milho

A BASF que tem estações produtivas e de pesquisa pela América Latina, também garante que terá um portfólio de lançamentos nessas localidades. Na Argentina, serão 25 lançamentos para proteção de cultivos. No Paraguai, a previsão é de 15 novos produtos.

A presença estratégica da empresa em sementes e biotecnologia também tem conexão com uma aquisição feita em agosto de 2018. Foi a compra do segmento de sementes da Bayer por 7,4 bilhões de euros. Na época, a venda foi vista como um “ganha ganha” para as gigantes agrícolas, já que órgãos reguladores nos EUA exigiram a venda dos ativos de sementes para a Bayer concluir a aquisição da Monsanto.

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Para Batistela, o negócio com a Bayer permitiu que a empresa, que já operava anteriormente no segmento de sementes, passasse de uma operação de nicho para uma escala maior.

“A decisão de fortalecer a nossa posição na agricultura vem muito dessa aquisição e desse aumento do investimento no segmento, porque a semente, a genética, a biotecnologia é onde determina o potencial produtivo. Foi sem dúvida um ponto importante nessa jornada de nos transformarmos em uma empresa de produção de cultivo para solução para a agricultura”, afirma o VP de Soluções para Agricultura Brasil.

Na prática, a mudança de perfil da empresa aparece na forma como ela atua com os produtores. Daniela Ferreroni, diretora de Negócios Soluções para Agricultura no Brasil da BASF, explica que a companhia faz cerca de 4 mil ensaios anuais com os seus clientes, que nada mais são do que testes e experimentações diretamente na área dos produtores.

“Os lançamentos entram nesse processo, de entender a necessidade, conhecer e trazer uma inovação que possa estar demonstrada ali naquela região. Ou por meio das nossas estações experimentais”, afirma Ferreroni à Bloomberg Línea.

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Naiara Albuquerque

Naiara Albuquerque

É editora-assistente da Bloomberg Línea Brasil. Foi repórter na editoria de Agronegócios do jornal Valor Econômico. Já produziu podcasts, vídeos e reportagens para Capricho, Nexo Jornal, Exame e Jota. É mestranda em comunicação pela Unisinos e tem graduação em jornalismo pela Faculdade Cásper Líbero.